Parados no meio da minha sala, vejo-a soltar minha mão e correr porta a fora. Uma angústia me assola quando ela se vai, como se eu nunca mais fosse vê-la de novo. Respiro fundo para afastar o desespero, no entanto, uma obstrução emocional trava a minha garganta, prejudicando a passagem do ar. Apesar do nosso encontro estar marcado para hoje a noite, sinto o pânico contaminar cada célula nervosa do meu corpo. Isso tudo baseava-se no medo de perdê-la, de não poder declarar meu amor e de não ter a oportunidade de amá-la pelo restante da minha vida.
E tudo piora porque ela é casada! Casada com um homem poderoso que tinha tudo o que queria nas mãos. Não à toa, dificulta esse divórcio, usando de seu dinheiro e influência para ludibriar o poder jurídico. Posso não ter lido toda a documentação do processo, mas pelo pouco que vi, as coisas estavam complicadas para Neuta. E ainda tinha a tal da procuração que ela insiste em dizer que contém minha assinatura, sendo que não tenho a menor ideia de como isso aconteceu.
- Você vai mesmo se encontrar com aquela abusada? - Amélia pergunta contrariada, tirando-me de meus devaneios. Olho em sua direção e ela está de braços cruzados, numa postura rígida que demonstra seu aborrecimento.
- Primeiro, não chama ela assim. - digo um tanto irritado e a loira revira os olhos. - Segundo, eu vou sim! - afirmo com seriedade, cravando uma disputa de castanho para castanho sem que nenhum dos dois se renda.
- Fala sério, depois daquele show todo que ela deu aqui? - indaga colocando as mãos na cintura.
- Amélia! - Vitor intervém repreendendo-a delicadamente.
- Ah Vitor, não me venha você defendê-la também! - exclama aborrecida e se senta na cadeira em frente a minha mesa.
- Não a julgue tão cedo! - defendo minha amada, mesmo ela tendo me acusado de algo que não fiz. - Deve haver uma explicação para essa confusão toda. - cansado, dou a volta na mesa e me sento em meu lugar.
- A única explicação é que ela é uma completa maluca! - diz sua sincera opinião, a mulher de meu sócio, quando não simpatizava com alguém, era pior que mula empacada para mudar de ideia.
- Amélia! - eu e Vitor nos expressamos ao mesmo tempo, com o mesmo tom repreensivo. A loira bufa e depois revira os olhos, ajeitando-se na cadeira.
- Que foi? Só disse a verdade! - ela dá de ombros sem se abater.
- Guarde sua verdade para você mesma! - falo entredentes, mesmo que seja minha amiga, não deixarei que fale de Neuta com tanto desrespeito. - Ela é o amor da minha vida e você não vai falar um 'a' sequer sobre ela.
- Tem certeza que isso realmente é amor? - questiona, me encarando séria, sem se abalar com minha réplica e Vitor passa a mão no rosto morrendo de vergonha que sua cônjuge esteja tão desconfiada. - Você nem a conhece, descobriu o nome dela agora! Pelo amor de Deus! - exclama jogando as mãos para cima.
- Sinceramente, você tá impossível hoje! - digo sem querer debater e iniciar outra discussão.
- Pensa bem, Denilson! - Amélia se levanta, coloca as mãos sobre a mesa, olhando no fundo dos meus olhos, ela não desistiria tão fácil. - Sempre que você falava dela era de uma forma fantasiosa, como se ela fosse um fantasma. - a loira arruma a postura e puxa a barra do blazer nude que envolve seu tronco, alinhando-o esteticamente. - Tem certeza que isso não é só um encantamento da sua parte? - pergunta cruzando os braços, sem em nenhum momento desviar as íris de mim. - Tipo, algo que você teve, que escapou pelos seus dedos e que agora está ao seu alcance de novo.
- O que eu sinto por ela não é um mero encantamento. - rebato suas palavras de forma grosseira. - Sei muito bem o teor dos meus sentimentos por Neuta. - levanto assumindo uma postura rígida, com as mãos sobre a mesa e inclinado para a frente. - Eu amo aquela mulher, sempre amei e vou amar pelo resto da minha vida. - escancaro a minha verdade, sem rodeios ou hesitações, não há nada nesse mundo que me faça duvidar de cada letra que saiu da minha boca.
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Tons de Vermelho
Fiksi PenggemarPerdido na depressão de uma desilusão amorosa e enxergando o viés dos tons de cinza, busco por uma chance de voltar a ser eu mesmo. Só que nunca imaginei que a chama que um dia fora apagada voltaria a vida no momento em que pus os olhos nela. A cham...