Capítulo 2

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HOSANA

Cícera-Fé, a gente sente muito. Mas as coisas já não tão dando certo. A gente vai ter que ir-falou minha tia

Osvaldo-infelizmente o último negócio não deu certo e perdemos todo o investimento

Hosana-tudo bem. Eu vou ficar bem. Eu já sou adulta e posso me virar

Cícera-desculpa. Lamento imenso-falou 

Hosana-tudo bem. Eu sou grata por tudo-disse


Minha vida tem dado errado desde que eu nasci. Eu cresci num orfanato, pois minha mãe havia me deixado lá desde o dia em que eu havia nascido. Foi um relato contado pelas madres de lá. Fui adoptada pela primeira vez quando tinha 5 anos mas a família me devolveu, pois se fartaram de mim. E a história só se repetiu. Passei de família em família ao longo do meu crescimento. Até que completei 14 anos e uma mulher me adoptou. Ela sim, eu poderia chamar de mãe. Pois ela cuidou de mim como se eu realmente fosse sua filha.

Embora solteira, ela nunca me deixou faltar nada. Naquela época, eu poderia dizer que minha vida já estava realizada. Até que descobrimos que ela estava com câncer, e infelizmente ela era terminal. Quando eu tinha meus 17 anos, enterrei minha mãe e por ser menor de idade, sua irmã resolveu me pegar e tomar conta de mim.

No velório da minha mãe ouvia meus tios e primos discutirem sobre quem ficaria comigo. E não discutir porque todos me queriam, mas sim porque ninguém me queria. Incutiam a responsabilidade de ficar comigo uns aos outros, como se eu fosse uma bomba que explodiria a qualquer momento. Até que meu tio, marido da minha tia disse que ficariam comigo.

Detalhe, um dos motivos pela qual eu acredito que ninguém queria ficar comigo, era porque eu era a única criança negra da família. Nenhum deles tinha casado com um negro. Era sempre branco com branco.

Hoje eu tenho 20 anos. Meus tios se mudaram com seu único filho, de 10 anos e foram viver noutro Estado. Eu estou sozinha de novo. Sem onde ir. Daqui a nada os proprietários dessa casa virão cobrar a dívida do aluguel e eu, obviamente não tendo como pagar, vou ser colocada no olho da rua...

(...)

Carol-tem show mais tarde-falou se jogando no sofá da sala

Carol é alguém que eu talvez poderia considerar amiga. Não somos nada parecidas. Ela é de festa e eu não, ela é de beber e fumar, e eu não. Ela é de vestir roupas vulgares e eu...não.

Hosana-eu não quero ir a nenhum show-falei passando as mãos nos cabelos bagunçando eles

Carol-amiga vamo logo-falou-seu namorado vai também

Hosana-Biel nem me disse nada

Carol-porque você mal usa o celular

Hosana-eu não tenho dinheiro pra comprar ingresso-dei desculpa. Até porque não tinha mesmo

Carol-eu dei pra um boy ontem que me deu um monte de grana só pra me comer. E eu já providenciei tudo-piscou o olho

mas...

Hosana-você...-disse não sabendo mais o que falar

Carol-fechado



TETO|Minha Vida é um FilmeOnde histórias criam vida. Descubra agora