Solidão

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   ... A porta então se abre e:
   _Com licença, eu vim trazer isso aqui.

   Era o meu patrão, Sr. Yong. A sensação de alívio bateu e meu irmão continuou encarando ele.

   _É... Posso entrar?
   _Ah... Claro, entra aí.
   Takashi então se acalmou e se sentou no sofá. O Sr. Yong entra e estende sua mão com minha blusa que eu havia esquecido no trabalho.

   _Desculpe aparecer assim, é que eu estava passando, vi você entrando e aproveitei para lhe entregar seu moletom.
   _Tá... Tudo bem, obrigada.
   _Você parece um pouco tensa, o que houve?
   _Ah... Está tudo bem, não se preocupe. Só me assustei com sua chegada.
   _Entendo. Bom, vou indo nessa então.
   _Ok. Até amanhã Sr. Yong.
   _Até.
   Meu irmão então suspira seu ar e diz:
   _Caraca... Eu quase matei seu patrão hahahahaha
  Começamos a rir muito. Essa foi a primeira vez que eu ri tanto na minha vida. Takashi começa e me encarar enquanto eu dava risada, e quando eu olho para ele, ele estava com uma cara de satisfação, com um leve sorriso em seu rosto, e então eu pergunto:
   _O que foi?
   _Não é nada. É que... Sabe, é tão bom ver você sorrindo.
   _Sei. Mas olha, não podemos nos esquecer do que aconteceu agora a pouco.
   _É. Eu sei. Eu disse que estarei preparado para o caso de ele aparecer novamente. E tome cuidado agora ao ir para o seu trabalho.
   _Pode deixar.

   Após terminarmos de jantar, começamos a conversar sobre as coisas que eu passo no meu trabalho, e sobre o caminho que passo. Ele então disse para que eu mudasse minha rota todos os dias, para evitar encontrar aquele assassino mafioso novamente. Depois fomos dormir, Takashi então me entrega um de seus punhais para que eu ficasse preparada, para o caso do assassino aparecer.

   A noite ocorreu tudo bem. Amanheceu e eu acordei me perguntando onde aquele monstro estaria. Quando cheguei até a cozinha para tomar meu café, Takashi estava no quintal sentado com sua cabeça apoiada nos joelhos.
   _Takashi? O que houve?
   _Me desculpe... Eu não queria que me visse assim...
   Quando ele disse isso, me trouxe uma lembrança de quando eu vi o Takashi com uma vítima pela minha primeira vez.
   _Me conte Takashi. Por que está chorando?
   _Maninha... Eu não quero mais ter que roubar e muito menos matar as pessoas...
   A consciência dele havia pesado naquela hora. Ele estava mal pelas famílias das vítimas que ele havia feito. Eu não tinha o que dizer após isso, eu não sabia como consolá-lo como ele fazia comigo quando eu estava triste.
   _Pode ir para seu trabalho Ayu... Ficarei em casa hoje...
   _Quer que eu faça companhia?
   _Está tudo bem...
   _Mesmo?
   _Sim... Pode ir ou vai acabar se atrasando...
   _Tá... Fique bem... Tá bom maninho?
   _Pode deixar...
   Então quando eu estava pegando minhas coisas e me preparando para ir ao trabalho, Takashi me chama novamente:
    _Maninha... Se cuide e... Fique bem também... Até mais.
    Achei aquilo um tanto quanto estranho, eu nunca tinha visto meu irmão daquele jeito.
    _Você... Vai ficar bem... Não é, Takashi?
    _Vou sim. Pode ir... Tenho que ficar de olho por aqui.
    Então segui meu caminho. Eu fui com cautela para aquele assassino não me pegar desprevenida.
   No meio do caminho, achei umas rosas brancas em uma loja de flores. Comprei algumas e segui até aquele túmulo da minha mãe. Cheguei lá e desabafei mais um pouco com ela.
    _Oi mamãe, Takashi hoje estava chorando... A consciência dele estava pesada pelos assassinatos que ele cometeu. Eu não soube como acalmá-lo. Eu realmente espero que o maninho fique bem...
    Então coloquei as rosas em cima daquele túmulo, e continuei seguindo em direção ao trabalho.

    Ao acabar o horário do meu trabalho, resolvo caminhar mais um pouco, mas dessa vez sem distrações. Em uma das construções abandonadas, havia um prédio de 6 andares, então subi até lá para descansar e aproveitar a vista que tinha da cidade.
   E como sempre, o silêncio envolvia pelo ambiente e o vento batia em meu rosto suavemente, causando então aquela sensação de paz que eu sentia sempre quando o ambiente ficava silencioso.

    Após descansar e refletir um pouco, resolvo ir para casa. Mas... Para minha surpresa eu encontro algo que eu não imaginava encontrar.
    Ao abrir a porta de casa, chamo pelo meu irmão.
    _Takashi? Está em casa?
E ele não respondia. De início pensei, "ele provavelmente se animou, e foi fazer algum bico..."
    Então jogo minha blusa e minha mochila no sofá e caminho até a cozinha para comer algo, e quando olho para a porta do quintal, ela estava destrancada e aberta.
    _Ué. Sempre deixamos essa porta fechada...
E quando vou fechar a porta, meu olho lentamente olha de baixo para cima. A primeira coisa que eu vi, foi um banquinho de madeira jogado, logo depois, os pés de Takashi estavam como se estivessem flutuando, então vejo seu tronco e suas mãos estavam mais brancas que o normal. E por fim, seu rosto... Ele estava pendurado com uma corda em seu pescoço. Sim, Takashi havia se matado de tanto peso que sentiu em sua consciência. Quando vi a cena, não esbocei nenhuma reação, eu simplesmente levantei o banquinho de madeira para subir e desamarrar a corda do pescoço do meu irmão. Ao descer com ele em meus braços, me ajoelhei e fiz igual ao que fiz com minha mãe após morrer, deslizei levemente meus dedos em suas pálpebras para que ele fechasse seus olhos. Eu estava com uma expressão neutra, porém escorria lágrimas de meus olhos. É, no fundo eu estava triste, mas acho que passei por tantos traumas, que esse era apenas mais um. Claro que fiquei bem triste com o suicídio do Takashi, mas eu não conseguia fazer uma cara ruim ou coisa do tipo, eu só sentia... E o vazio no meu peito ficava cada vez maior. Eu simplesmente não expressava mais as minhas emoções.
     A partir desse momento, me senti só, eu estava solitária, sem ninguém. Seria apenas eu tentando sobreviver nesse mundo cheio de atrocidades e riscos.

O vazio...Onde histórias criam vida. Descubra agora