Sangue, Medo e Tristeza

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Quando dei por mim, notei que eu estava calma, olhei ao meu redor e estava tudo tão em paz. Comecei a me perguntar como consegui me acalmar assim, e notei que foi o silêncio no ambiente. Assim, percebi que sempre quando tudo ficava tão quietinho, eu conseguia me acalmar mais rápido, porém como o bairro e a cidade era muito barulhenta, seria raro as vezes que eu fosse conseguir esvaziar a minha mente e me acalmar.
    Meu irmão então, chama por meu nome batendo na porta.
    _Ei mana, abra sou eu.
    _Não! Vá embora!
Eu não queria ninguém perto de mim, pois eu preferia o silêncio que estava.
    _Vamos logo mana, preciso trocar minhas roupas que estão sujas por conta de meu trabalho.
    _E isso lá é trabalho?!
    _Você me entendeu... Olha mana, eu não queria que fosse assim, mas não tivemos muita escolha.
    Então eu calmamente me levanto e caminho até a porta e giro a chave para a destrancar. Após isso, volto rapidamente para meu canto e o Takashi abre a porta lentamente.
     _Ei mana, vai ficar tudo bem, ok?
     _Não vai...
     _[...]
Meu irmão sabia também que não teria como ficar tudo bem. Tudo o que passamos e o que iríamos ter de passar, teria que ser muito otimista para dizer algo assim.
     _Mana eu...__
     _Eu quero o papai de volta...
E então começo a chorar novamente.
Ele levemente segura minhas mãos e começa a chorar também e diz:
     _Eu sei... Eu queria o papai aqui também, mas não há como trazê-lo de volta maninha... Temos que seguir sem ele.
     _Estou com tanto medo maninho...
Abraço meu irmão com tanta força, como se fosse o último abraço que eu fosse dar em alguém na vida.
     _Tenha fé Ayu... Iremos sair dessa algum dia, se não, pelo menos você vai...
     _Por quê acha isso?
     _Olha, você é a única até agora que suportou tudo isso sem sequer pensar em fazer essas coisas horrendas para se virar na vida como o resto de nós.
     _Mas eu nunca fiz nada para ajudar... Eu sou uma inútil...
     _Não diga isso mana, eu até sou grato por você jamais ter aceitado fazer algo desumano para o benefício próprio.

Takashi emitia uma aura bem diferente de quando eu o vi na rua com sua vítima. Ele parecia ter voltado a ser meu maninho de quando éramos pequenos. Que sempre me encorajava a seguir em frente, sempre questionador também. Aquele irmão que nunca te deixa para baixo. Pelo menos por alguns instantes, logo aquela aura tensa de assassino voltou a tomar conta dele após a porta se abrir e aparecer aquele mesmo homem que eu vi naquele bar quando eu estava com a minha mãe. Ele segurava uma cabeça em sua mão e um facão de em torno de uns 40 centímetros de lâmina, toda cheia de sangue em sua outra mão.

Meu irmão começou a tremer de ódio após ver de quem era a cabeça decapitada, eu sequer conseguia olhar para aquilo, então eu não fazia ideia de quem era.
     _Enfim, os dois filhinhos da Yui-Yui estão aqui, como bem imaginei. _Dizia aquele homem com uma voz grossa e amedrontadora em um tom de deboche.
    _Q-quem é você? _Minha voz quase não saía.
     Quando consegui ver de quem era a cabeça que ele segurava, entrei em estado de choque mais uma vez. Eu não conseguia acreditar no que estava vendo. Era a cabeça da minha mãe... Eu não conseguia me mexer e muito menos reagir, eu apenas observava a última expressão que ficou no rosto da minha mãe depois de morrer. Sua boca estava aberta de como se tivesse gritando antes de morrer, seu rosto estava encharcado, provavelmente de tantas lágrimas, e seus olhos castanhos estavam virados para cima, sua sombrancelha estava erguida, deixando seu rosto com uma expressão triste e apavorada ao mesmo tempo.
      _Seu!... _Gritou meu irmão com seu punhal, indo pra cima daquele homem.
O homem então joga a cabeça da minha mãe para a frente, na tentativa de fazer meu irmão tropeçar, mas ele desvia e enfia seu punhal no ombro daquele homem e grita:
      _Fuja daqui Ayu! Rápido!
Eu não conseguia me mexer, eu apenas olhava para a cabeça da minha mãe jogada no chão.
     _Rápido Ayu! Ele quer nos matar! Fuja daqui!
Quando me toquei, peguei a cabeça da minha mãe, corri até a cozinha, peguei um pano de prato e a enrolei. Pulei a janela e segui em frente, sem olhar para trás. Corri, corri e corri... Sem direção e sem rumo. Eu apenas seguia em frente com a cabeça de minha mãe entre meus braços. Finalmente chego em um lugar devastado, com prédios e casas abandonadas. Pulei uma cerca que havia ao redor e me escondi em um dos prédios que ficava naquele local.
Desenrolo então, o pano encharcado de sangue, o deixando totalmente vermelho, da cabeça da minha mãe. Começo a chorar friamente, alisando o rosto dela. Fecho seus olhos deslizando calmamente meus dedos sobre as pálpebras dela.
     Espero alguns instantes para ter certeza de que eu estava segura lá, e então saio com ela em minhas mãos. Por conta de aquele lugar ser abandonado, havia algumas construções não acabadas lá, e encontro uma pá. Começo a cavar o chão duro de terra, fazendo bolhas e calos em minhas mãos até fazer um enorme buraco. Bem devagar, posiciono a cabeça da minha mãe lá, e a enterro, com lágrimas escorrendo de meus olhos.

(Continua...)

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