0.2 Blood

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O demônio me deixou, ele foi embora por um tempo e decidiu fingir que nada aconteceu durante todos aqueles meses

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O demônio me deixou, ele foi embora por um tempo e decidiu fingir que nada aconteceu durante todos aqueles meses. Tudo sumiu para ela mas as memórias ainda continuam na minha mente, estão bem vividas na verdade. Muito claras.

Continuo na empresa como se nada tivesse acontecido, estou conversando com Clorinde e Navia as duas tomando café para ficarem mais ativas durante o trabalho. Suspiro sem ter coragem de provar meu chá, é meu preferido mas me faz lembrar dos dias em que Arlecchino me oferecia os melhores chás possíveis.

Colorinde cora quando Navia pede para testar seu batom, as duas estão tão próximas agora que sinto que vão se beijar a qualquer momento, sempre foram próximas e é claro que em algum momento vão parar de se fecharem para revelar seus verdadeiros sentimentos.

Clorinde passa o batom nos lábios da outra e meu interior palpita quando um desejo vem à minha cabeça. E se fosse eu e Arlecchino, se pudéssemos ter momentos íntimos como elas. Será que se ela não fosse tão fria poderíamos ter um relacionamento adequado? Ou estou vivendo de ilusões.

Quando terminam seu breve momento juntas me sinto borbulhando, imaginando se poderia ter esses toques íntimos com a mulher que dominou meu coração. Mas isso é uma realidade distante.

Navia então me olha bufando e pega na minha mão massageando, sorrio azedo, meus pensamentos estão me torturando. Quanto mais tempo aquele demônio passar longe de mim, vou continuar ficarei desejando.

Sei que não posso compartilhar minhas dores com ninguém, afinal nenhuma pessoa sabia sobre nossas interações naquela sala fechada, era quase como algo proibido que só existiu na minha cabeça. Tenho vontade de chorar.

Para despistar meus pensamentos pego meu chá e bebo rápido demais quase queimando minha boca, as duas estão me encarando agora, provavelmente estão confusas demais sobre meus últimos comportamentos. Pois não podem entender o que estou passando.

Vejo que Navia abre a boca para falar alguma coisa, mas antes que ela possa me questionar sobre algo me levanto e faço uma reverência, saindo do refeitório.

Se me fosse perguntado muito provavelmente acabaria falando tudo por causa da emoção, é perigoso comentar sobre isso na empresa, se já existem rumores mesmo com nada imagina se me escutassem falando disso pessoalmente.

Percorro o caminho até minha mesa e quando passo pela porta esbarro em alguém, peço desculpa na mesma hora mas quando vejo quem é sinto vontade de sair correndo de volta para o refeitório.

Com seus um e noventa de altura vejo Arlecchino me olhando com aquela expressão de sempre, me tremo dos pés à cabeça. Quase caio no chão na mesma hora.

No fundo dos olhos dela consigo ver aquela mesma expressão estranha daquela vez, mas ainda não consigo entender o seu significado. Por isso só fico parada esperando sair da minha frente para que eu possa voltar para minha mesa. Digamos que Arlecchino é forte demais tomando conta de toda a minha visão com seu porte físico bem trabalhado.

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