No último luar, tirei a vida de um templário.
Um dia inteiro se passou desde o incidente na sala de reuniões e o castelo estava mais quieto que um cemitério. Os servos evitavam olhar-me nos olhos e se comunicavam por sussurros entre si, como se eu não estivesse presente, como se eu nem existisse. Olhos sombrios cercavam-me, quando segui meu caminho até a igreja, templários que encontrei pelo caminho desejavam devorar-me viva, pouco dei importância. Estes homens são como cães famintos, ansiosos por carne fresca, a qual eu claramente era. Deve-se admitir que fiquei curiosa, a que preço minha cabeça está sendo negociada? Por certo eu descobriria, animais com falta de recursos não são bons planejadores, uma hora ou outra iriam caçar, e quando esse momento chegar, é bom rezar para Deus se encontrar em seus lados.
Em poucos instantes, eu chego à igreja, a maior e mais poderosa obra de Jerusalém. A cruz de ouro na entrada parecia ser uma contradição, apesar de combinações com nobres que usavam o nome de Deus para tudo, até mesmo para se favorecerem de outras pessoas. Eu considerava os cristãos, com quem tinha tido contato, exceto um, como sendo personagens de uma natureza muito parecida. Eu passo pela porta gigante, me deparando com a estrutura perfeita do local, com seus bancos e suas estátuas impecáveis. O ouro, que existia aqui dentro era capaz de enriquecer toda a cidade, mas não parecia ser uma opção conveniente. O cheiro era de incenso, provavelmente os mesmos que usávamos no castelo. Um aroma acentuado de lavanda, remete algo antigo e de certa forma encantador.
— Alyza Masoud. — A voz tira-me de minha breve análise, fazendo-me virar rapidamente para o canto, perto do altar. Uma figura alta, magra e esguia fitava-me com seus olhos azuis celeste, com uma pitada de surpresa e outra ainda maior de desconfiança. — Você deve ser a última pessoa a quem esperava receber. — A voz do Hospitaleiro era gentil, como sempre.
Eu abaixo a minha cabeça brevemente, antes de dar passos curtos para a sua direção. Havia uma sensação perturbadora em mim, estar perto dele era como ser um livro prestes a ser lido e relido com detalhes e meticulosidade, ele conhecia-me melhor do que eu realmente gostaria de admitir.
— Acredite, não estava em meus planos. — Eu abro um breve sorriso, não ousando mostrar meus dentes ou prolongá-lo.
O Hospitaleiro se aproxima, a luz das velas e tochas iluminam suas feições ainda mais. Ele parece cansado, mas seu sorriso persiste, mesmo nos piores dias e nas piores situações. Me enfurecia e confortava ao mesmo tempo, vê-lo sorrir daquela maneira permanente.
— No entanto, eu desejo que estejas sendo sútil, no que toca a mostrar sua felicidade em ver-me. — Ele se acerca ainda mais e envolve os braços aos meus ombros, apesar da minha armadura não permitir sentir o seu abraço tão forte, mesmo assim, ele insistia em fazê-lo.
Fiquei em silêncio por alguns segundos, me afastando com o meu olhar ainda dirigido para o chão. O meu peito ainda estava inquieto, quando acordei pela manhã, já imaginava que estava decidida e tranquila por vir aqui, mas isso nunca acontecia na realidade.
— Eu desejo me confessar. — Eu elevo a minha cabeça, para encontrar os seus olhos ainda mais surpresos. Eu não fazia isso há algum tempo, principalmente com ele, havia uma maior demora entre minhas reações a ele, mas ainda assim ele parecia ter uma melhor compreensão de quem eu era.
— Me acompanhe. — Ele abaixa sua cabeça, antes de começar a guiar o caminho, em silêncio.
Nós caminhamos até à pequena cabine, feita de madeira de qualidade inigualável. Eu me sento no banco, de cor vermelha que combinava perfeitamente com todo o ambiente oprimido do local. Havia um tecido de cetim aos meus pés, o lugar onde as pessoas se ajoelharam e pediram perdão na frente de uma simples imagem. Eu me lembro quando fui para a pequena igreja na cidade baixa onde, no confessionário, haviam milhos espalhados pelo chão, onde os fiéis deveriam se ajoelhar. Parece que para a realeza, o custo para o perdão é diferente.
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A fúria do Caído.
RomanceNo ano de 1180, a jovem Alyza encontrava-se mergulhada numa disputa interna entre o ódio e a lealdade. A perda em vida do seu amado pai, tido como traidor do Rei, corroeu-a como uma queimadura, cravada em seu coração. Enquanto a sede de vingança a e...