Jovem Gideon.
A lua quebrava a escuridão sobre toda a terra santa, enquadrando-a em uma noite iluminada pelas estrelas. O castelo estava calmo e quieto, ninguém ousaria quebrar o silêncio confortável que envolvia suas paredes, como se fosse uma vestimenta que o abraçava firmemente. Eu estava à minha janela admirando o céu limpo de nuvens, creio que a noite fria o tornou ainda mais agradável aos meus olhos. Fechei os mesmos por um segundo, inspirando o ar frio e perfumado por resina, algo bastante agradável, mas demasiado típico deste lugar, um incômodo. Abro meus olhos, a armadura pesa em meus ombros, sinto-os como um roxão recente.
No horizonte, avistei um soldado que marcha a passos contidos em direção às portas do castelo. Enquanto se aproximava, notei que seus olhos eram tão esbugalhados quanto os de um peixe, sem direção ou sentido. Inclinei-me pela janela, quando notei que o homem me estava observando. Seu olhar estava tão nublado de horror, que quase pareceu penetrar em mim. Virei minha atenção para o sangramento em seu braço e vi que ele faltava. Até que o grito de puro terror brotou de seus lábios. Era suficientemente alto e angustiante para ser ouvido por todo o reino, todos imediatamente correram para suas janelas e portas para ver o que teria acontecido, e para sua infelicidade, encontraram uma cena de horror.
— Ajudem-me! — Ele cai em seus joelhos, enquanto berra sem cessar.
Minha mente se torna um completo borrão, eu viro as costas para a situação sem nem tentar pensar duas vezes. Eu saio da minha cabine e os guardas começam a correr de um lado para o outro em direção ao homem lá fora. A esta altura, o palácio estava em completo caos, eu tinha que empurrar alguns soldados de minha frente para passar por eles o mais rápido possível, até chegar a cabine do rei. Com a minha respiração acelerada e o meu peito a bater forte, eu me encontrava em frente às duas portas de madeira, com uma sensação aterrorizante em meu peito, sufocando a minha respiração e destruindo a minha expressão. Eu estava completamente com medo, e não tinha coragem para continuar avançando.
— Não esteja morto, porco insuportável. — Sussurro para mim mesma.
No interior, as chamas eram apenas fracas, o ambiente estava bem pouco iluminado. Puxei o ar procurando por alguma essência de sangue fresco, mas não havia nada no ar, apenas a fragrância de incensos finos. Eu dou um passo à frente, sinto que cada parte do meu corpo está tremendo, fraco e sem força, como se as pernas não tivessem mais vontade alguma de aguentar meu peso. Avanço ainda mais a figura imóvel em cima dos lençóis, meus olhos se abrem com horror a ponto de congelar o sangue em minhas veias por alguns instantes e o medo tomar-me com uma rapidez devastadora, transformando meu rosto no mais completo desespero em meros instantes. Eu estava a ponto de gritar até que os meus pulmões se partissem.
— Olá. — A voz familiar arranca-me abruptamente da minha extrema preocupação. Meus lábios tremem e ficam ainda mais nervosos quando dou mais dois passos em sua direção, sendo iluminada por uma das tochas que se encontrava perto da cama. — Estou surpreso com sua presença. — Ele conclui sua fala, descansando uma de suas mãos em seu peito.
Embora pudesse ter havido um alívio enorme, não havia como saber se tal seria o termo mais correto a descrever a sensação. Por outro lado, não podia suportar a ideia de que uma tentativa de traição pudesse se revelar bem sucedida agora, e fosse tirada de mim tão repentinamente. Sentia-me como uma criança ingênua e me condenava por todas as sensações que experimentava, especialmente pela ausência de satisfação em meu rosto, enquanto imaginava seu destino selado.
— Perdoe-me por interromper seu sono, mas há um ferimento grave entre os nossos homens. Precisamos de sua presença com a mais alta urgência. — Minha voz, maldita e baixa, surge com mais tremores do que jamais imaginaria. Pisco inúmeras vezes, afastando todos os sentimentos, no meu esforço desesperado por me manter firme e não parecer tão aterrorizada como realmente estava. — Não me recordo de receber qualquer notificação sobre uma patrulha autorizada à noite. Algo está acontecendo, Majestade. — Termino de falar e minha mente vai brevemente para as possibilidades, que certamente nos trarão problemas notáveis.
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A fúria do Caído.
Roman d'amourNo ano de 1180, a jovem Alyza encontrava-se mergulhada numa disputa interna entre o ódio e a lealdade. A perda em vida do seu amado pai, tido como traidor do Rei, corroeu-a como uma queimadura, cravada em seu coração. Enquanto a sede de vingança a e...