Prólogo

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Agora irei resumir o martírio que eu chamo ''Vida de Jeon''.

A vida é um fardo, onde Jeon é o protagonista azarado que frequentemente se auto-sabota. Jungkook, ou melhor, Jeon Jungkook, é um escritor falido de 30 anos. Após concluir a tão sonhada faculdade de Letras, não conseguiu vender nenhum dos seus dez livros, sendo rejeitado por mais de trinta editoras em todo país. Diante do seu iminente e constante fracasso, ele desistiu de seguir sua carreira, procurando qualquer emprego disponível e guardando seu diploma debaixo do seu colchão velho.

Sem dinheiro e incapaz de manter mais de um emprego, Jeon teve que vender a casa que seus pais deixaram como herança, após ambos desaparecerem no mundo, deixando-o aos cuidados de sua avó, que faleceu há exato treze anos. Sua avó partiu com uma dívida de jogo que consumiu tudo o que tinha e ainda consome, já que com os juros o valor só aumenta a cada ano.

Atualmente, Jungkook trabalha como dançarino de pole dance em uma boate decadente, entrando com uma máscara e saindo assim que executa alguns passos rápidos para um grupo de mulheres e homens idosos que já viveram mais do que Jeon poderia contar. Após receber seu curto cachê, ele retorna para sua casa, localizada em um bairro ruim e perigoso de uma pequena cidade no interior da Coreia do Sul, apenas para viver tudo novamente no outro dia, em uma rotina que já virou comum para ele.

Jeon sofre constantes assédios no trabalho e passa o dia inteiro tentando esquecer desesperadamente o fato de que sua geladeira quase sempre contém apenas um ovo podre e meio pacote de lamen, do qual ele nem faz questão de se lembrar da validade.

E se tudo isso ainda não fosse o suficiente para Jeon lidar, ele tem que suportar suas crises de ansiedade, que às vezes se transformam em ataques de pânico, além do TDAH para o qual tenta tomar remédio como forma de alívio, embora nem sempre consiga, visto que frequentemente o dinheiro não é suficiente para as dispensas mensais da farmácia.

Hoje, por exemplo, é um desses dias difíceis que ele terá que enfrentar, mesmo que ao seu ver, todos os dias da sua vida fossem seu próprio purgatório. Ele se levantou como de costume atrasado, mas pronto para mais um dia de trabalho, passando a vasculhar em todo minúsculo quarto por uma blusa limpa, a qual não encontrou. Lembrando-se de algumas antigas que não serviam mais, caminhou calmamente até a lavanderia, localizada junto com a cozinha, e puxou a caixa que ficava atrás do balde que usava para deixar as roupas encardidas de molho, ou seja, onde ele deixa praticamente todas as poucas peças de roupas que tem.

Ao puxar a caixa, esta não se movia, como se estivesse presa à parede. Sem paciência e sem tempo, ele usou mais força, não só trazendo a caixa para si, mas também abrindo-a e fazendo com que todos os objetos dentro dela voassem para todos os lados. Xingando e amaldiçoando alto o suficiente para os vizinhos escutarem, começou a procurar a blusa, sem se preocupar em organizar as outras coisas.

Quando finalmente localizou seu objetivo, um cropped azul cheio de pequenas estrelas; curta e com brilhos, vestiu-o rapidamente. Mas ao fazer menção de voltar a se apressar, escorregou com tanta força que seu tornozelo virou, causando-lhe um grito de dor que veio direto de sua alma.

Junto com a dor, veio o culpado: um livro. Mas não qualquer livro, Jeon não precisou dar mais de uma breve olhada para ler claramente o título do manuscrito nunca pulicado: "Um ômega e um alfa: Um amor que transcende reinos". Aquele era o seu primeiro livro, escrito quando tinha apenas doze anos e reescrito para o seu trabalho final da faculdade. Um livro escrito na mesma época que percebeu que tinha um crush de leve no seu vizinho fofo e gentil, que constantemente compartilhava o seu pedaço de pão especial apenas para que o pequeno Jeon não se sentisse completamente sozinho.

Almas de Papel  |  JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora