Capítulo 6

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Já fazia algum tempo que eu estava jogado sobre a cama, observando o desinteressante teto, que naquele momento eu usava como minha salvação para não pensar nos acontecimentos anteriores. Por que eu fui abrir minha boca mesmo? Era só ter concordado e pronto. Seria uma preocupação a menos.

Não consigo parar de imaginar ele retaliando da pior maneira, tornando meus dias ainda mais difíceis de suportar. Talvez ele se afaste completamente, não que isso seja ruim, apenas que, se isso acontecer, eu não sei se continuarei sendo tratado minimamente de forma decente pelas pessoas do reino, que me tratam bem apenas por ordens explícitas da segunda alteza.

Além disso, vou confessar que o pior nem é pensar na retaliação, é pensar na culpa que está me consumindo. Ainda consigo me recordar perfeitamente da mágoa estampada nos seus olhos e das minhas palavras dirigidas a alguém que, naquele instante, parecia estar verdadeiramente tentando ser gentil. 

Por isso, decidi que pelo menos por essa noite faria como ele quisesse e não o afastaria, iria realmente me policiar e esforçar para não tratá-lo rudemente e friamente como naturalmente faço.

Totalmente decido a seguir esse meu plano, já me encontrava pronto para a nossa saída à noite, mas não tinha certeza se ele realmente viria depois de tudo. Não que eu o culpasse se ele me deixasse esperando em vão, pois, se eu fosse ele, também iria ao evento e me deixaria para trás.

Todavia, com o início do pôr do sol indicando a entrada interina da lua, indo contra meus pensamentos anteriores, Jungkook estava realmente na porta esperando-me, especialmente bonito, com um sorriso gigante enfeitando suas feições. 

Era como se nada tivesse acontecido entre nós e fôssemos apenas um casal recente, pronto para um encontro desejado.

E não querendo correr o risco de repetir o mesmo erro e falar algo que eu não devia, e ao mesmo tempo cogitando a possibilidade de que essa saída fosse apenas uma armadilha em que eu estivesse voluntariamente me levando para uma possível punição, segui-o em silêncio, saindo do palácio e indo diretamente para a carruagem que já nos aguardava na entrada.

Cogitei a ideia de ser obrigado a lidar com um clima estranho e desconfortável, mas não, fomos banhados por um silêncio reconfortante e necessário enquanto percorríamos todo o trajeto do palácio até à vila principal, a Vila Fanrong, com somente o barulho dos grilos e o contato da roda contra a estrada de barro e pedra se fazendo presente.

O caminho foi mais longo do que eu pensei, mas envolto naquela sensação confortável e no cheiro de pinheiro com menta, pareceu como se eu tivesse apenas piscado e, pronto: uma entrada de madeira esculpida com os caracteres '繁荣', envolta de lanternas rústicas e coloridas, representando o que eu descobri pela minha dama ser o Festival da Lua.

Surpreso com toda a estrutura inicial, não me dei conta de que a carruagem já havia parado, e Jeon me esperava do lado de fora com a mão erguida para me ajudar a descer. Guiado pela minha empolgação, aceitei sua ajuda e desci com um pulo em seu colo, sentindo seus braços me envolverem enquanto ele perdia o equilíbrio e seu corpo ia para trás.

Quando ele nos estabilizou, afastei-me de modo antinatural e segui adiante em passos lentos, para que ele pudesse me acompanhar. E assim, um ao lado do outro, adentramos a vila e fomos direto para o centro, onde o festival estava ocorrendo naquela noite de céu salpicado de estrelas que também acompanhavam a lua cheia que servia como um grande farol noturno.

Bem quando virei a rua que me levava ao meu destino desejado, o barulho de várias vozes e a luz vinda de diversas lanternas preencheram o ambiente ao meu redor. Moradores da vila e provavelmente viajantes cercavam todas as bifurcações e ruas principais, como um grande formigueiro. Era realmente difícil passar entre eles. Mas antes que eu pudesse tentar enfrentar o meu destino de ser esmagado, Jeon me puxou e segurou minha mão.

Almas de Papel  |  JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora