A Despedida

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— Ei cara, você tá bem? – Connor perguntou ao passar pelo quarto de Wally, encontrando na verdade Grayson lá dentro empacotado algumas coisas.

— Estou! Eu...eu só... – O moreno encarou um copo infantil, era o souvenir preferido deles, os fazia pensar no futuro. Um futuro que não vai existir. Respirou fundo colocando o objeto na caixa a sua frente – Só preciso tirar isso da minha frente, vou levar para Artemis, talvez tenha algo interessante para ela aqui...

Mesmo com sua tentativa, Connor conseguiu notar o tom amargurado em sua voz ao falar da garota.

— Eu...fico feliz que esteja superando aos poucos...mesmo que a sua maneira.

— Eu não quero parecer ingrato, é sério, mas...vocês podem, por favor, sair do meu pé? Eu estou bem, não vou ter nenhuma crise ou algo assim.

— Dick, nos sabemos sobre o Natal.

O Grayson travou, sua mão se afrouxando fazendo com que a máscara de Lince fosse diretamente para o chão.

— Como vocês...

— Bruce está preocupado Dick, ele quer que a gente ajude nos momentos em que ele não pode estar presente, ele quer te ver bem.

Se era isso que Bruce queria, foi uma péssima decisão. Dick sentiu algumas lágrimas brotarem em seus olhos e sua respiração se agitar.

— Eu não preciso de babás, eu sei me virar – O de olhos azuis respondeu, sua voz vacilando no meio da frase.

— Dick, tudo bem não estar bem de vez emquando, estamos aqui para nos ajudarmos e todos aqui querem ajudar você!

— NÃO TEM COMO ME AJUDAR! – O moreno gritou se levantando bruscamente – Não tem...nada vai me ajudar, ele não vai voltar, vocês não podem fazer nada e eu preciso resolver isso sozinho...

Kaldur se aproximou após ouvir o grito do amigo, o encontrando em pé parado no meio do quarto de Wally, as lágrimas marcando suas bochechas pálidas em quanto seu olhar era direcionado a Connor.

— Dick... – O moreno murmurou se aproximando do garoto, e aquela era a primeira vez que via o amigo recusar um toque físico – Tá tudo bem se sentir assim, eu também fiquei assim com a morte de Tula mas...você precisa aceitar...

— Aceitar? Aceitar o que, Kaldur? Que ele morreu? Que eu falhei em protegê-lo? – A voz de Dick começava a se misturar em pura raiva e dor – Eu estou tentando seguir em frente, mas não é tão simples quanto vocês pensam. Eu o amava, de uma maneira que não consigo explicar.

— Só queremos o seu bem...

— Olha gente eu tô bem...eu vou ficar bem... – O garoto se esforcou para mentir mais pra si mesmo do que para os outros – Mas no meu tempo... – Sussurrou a última parte, sabia que a superaudição de seus amigos não iria deixar a frase passar batida.

Um silêncio pesado paira no quarto, até que Dick, já com lágrimas nos olhos novamente, começa a se sentir sufocado, sua respiração ficando descontrolada.

— Dick? Ei cara, você tá bem? Respira fundo, vai ficar tudo bem... – Connor se preocupou, ouvindo a velocidade em que o coração do amigo batia.

Dick até tenta seguir as mesmas instruções que Bruce deu da última vez, mas seu corpo está praticamente travado, os músculos gritando de dor por toda a tensão acumulada. Ele sente uma pressão no peito, como se algo estivesse apertando sua respiração, a dificultando cada vez mais.

Suas mãos tremiam enquanto o garoto procurava por algum lugar em que pudesse se apoiar, ele sentia o quarto girar ao seu redor, como se estivesse em um carrossel fora de controle. Ele fechou os olhos por um momento, tentando encontrar algum tipo de estabilidade em meio ao caos interno que estava vivendo.

Depois do que pareceu ser uma eternidade a crise diminuiu, fazendo escapar um suspiro pesado da boca do rapaz enquanto ele se sentava na cama, sentindo seu corpo doer imensamente.

— Desculpe, eu....eu não queria que tivessem visto isso. Só dói tanto, e às vezes sinto que não posso lidar...

— Eu quem peço desculpas, Dick – Connor comentou em um tom surpreendentemente baixo – Não queríamos te pressionar.

— Você precisa de um tempo só pra você, a gente pede desculpas por...tudo isso. Estamos aqui para o que precisar, não importa o quão difícil seja, estamos juntos nisso.

O moreno apenas sorriu em agradecimento. O resto da tarde passou silencioso na torre, Dick poderia muito bem ter escrito mais algumas cartas para entregar mas nada vinha a sua mente. Nada.

Haviam se passado boas horas quando o moreno pegou a chave de seu carro saindo da torre e dirigindo em direção ao cemitério. O inverno estava chegando ao fim mas ainda haviam alguns montes de neve espalhados por todos os lados.

— Oi meu amor... – Murmurou sem jeito, apenas encarando a lápide – Eu...não fiz nenhuma carta dessa vez eu só...eu vim de peito aberto aqui, eu tô com saudades...muita, pra ser bem sincero – Respirou fundo, ele tinha pensado muito sobre aquilo e não pretendia chorar – Nesses... – Sua voz embargou. Ele odiava ser tão sentimental assim – Nesse último ano eu...me esforcei bastante pra te superar e...até mesmo tentar te esquecer, e bom, aparentemente não deu certo né? Eu percebi que não consigo viver sem você...eu te amo mais que tudo e isso tá...sendo torturante...

O rapaz respirou fundo, secando as lágrimas antes de colocar as mãos no bolso do casaco, olhando em volta como se estivesse se sentindo vigiado

— Isso...é um adeus Wallace, eu preciso melhorar e o único jeito é...deixando você ir, definitivamente agora...sem pensar em você ou te escrever cartas... – Olhou para a lápide, fria e sem vida, um cinza morto como tudo em sua vida sem o rapaz. Um cinza morto como a cidade de Gotham, morto como estava por dentro – Adeus Wallace, adeus meu amor...

Deixou uma lágrima solitária escorrer por sua bochecha, antes de se virar e sair dali, sentindo um turbilhão de coisas em sua mente e se esforçando para ignorar todas elas.

𝐓𝐨𝐝𝐚𝐬 as cartas que 𝐄𝐬𝐜𝐫𝐞𝐯𝐢 depois que 𝐕𝐨𝐜ê se foiOnde histórias criam vida. Descubra agora