Romance Escondido [Versão 2018] [degustação]

Capítulo 3

Estou prestes a chegar ao meu destino e sinto minhas mãos suando pela ansiedade que percorre todo o meu corpo; meu coração está tão acelerado que parece que irá rasgar o meu peito.

É tão surreal para mim que eu tenha conseguido um contrato com uma agência e possa, finalmente, ter a oportunidade de conseguir trabalhos na televisão.

Meu sonho desde criança era ser famosa, aparecer nas capas de revistas, atuar em novelas da Rede Globo e ter milhões de seguidores nas redes sociais, mas só agora, aos  dezoito anos, estou tendo a oportunidade de correr atrás do meu objetivo.

Quando a agenciadora da Salvatore Models me chamou no privado de uma das minhas redes sociais avisando que eles abriram vagas para pessoas que não tem experiência ou book fotográfico profissional e tinha gostado do meu perfil, eu fui ao céu e voltei.

Não consegui acreditar que uma agência de modelo havia me notado.

Tive que fazer um investimento de R$10.000, que era para o fundo da minha faculdade, mas quem precisa de um diploma de ensino superior quando se tem a oportunidade de ser famosa?

Quem diria que a garota da roça iria conseguir ir tão longe?

Nossa Senhora da Piedade, muito obrigada por cuidar de mim.

Me sinto uma pessoa extremamente sortuda por ter conquistado esse feito, já que a maioria das pessoas do interior que sonham com o estrelato não conseguem ter uma boa oportunidade para mostrar o seu talento, porque a situação de quem mora em zona rural é bastante complicada em vários aspectos e nem tem como comparar as nossas oportunidades com quem mora em São Paulo ou no Rio de Janeiro.

Até para conseguir concluir o Ensino Médio foi uma dureza; fui obrigada a estudar sozinha dias e noite, usando apenas o celular com uma internet clandestina que mal carregava um vídeo de cinco minutos no YouTube.

Meus pais sempre foram pobres e precisaram escolher entre dar uma vida confortável com qualidade ou uma vida de luxos sem qualidade alguma, sendo assim, nunca faltou comida na minha mesa, mas celulares caros como um iPhone sempre foram um sonho distante para mim, porém nunca fez tanta falta.

O meu Motorola G7 está dando pro gasto há uns três anos ou mais.

— Já não estávamos chegando? Por que tá demorando tanto? — questiono ao senhor que está sentado ao meu lado.

— Relaxa que a cidade não vai sair do lugar, menina — ele disse com um sorriso gentil e eu assenti, envergonhada.

Mando mensagem no grupo do que eu tenho com as meninas perguntando se elas estavam me esperando e a Juliana responde um "sim", o que me fez pensar que ela estava chateada comigo, porque, geralmente, a garota me trata muito bem.

O que será que eu fiz?

De qualquer forma, o importante é que vou ter duas pessoas para me receber, pois odeio ser a primeira a chegar nos lugares e ficar igual a uma idiota esperando a boa vontade dos outros.

Guardo o meu celular na bolsa e coloco as mãos no meu rosto, tentando controlar as emoções e aproveito para pedir para Nossa Senhora Piedade me proteger de todo o mal, pois eu cheguei a visitar a minha prima há algum tempo e percebi que a vida nesta cidade é barra pesada demais.

Mesmo que eu tenha ficado apenas três dias, senti que a vibe é bem diferente da minha cidadezinha que a gente encontrava vacas no meio na rua.

Finalmente, o ônibus chegou na rodoviária, mas ainda rodou durante alguns minutos até estacionar e não demorou para todos os passageiros se dirigirem à saída e irem descendo, um atrás do outro.