Prólogo

334 27 11
                                    

Caio 

Acordo suado e com o coração palpitando. O quarto está escuro, por um breve momento esqueço onde estou. Uma lembrança rápida acalma minha mente e as batidas fortes no meu peito. "Estou em casa, estou de volta ao Brasil".

Não exatamente em casa, penso. Levanto da cama e vou até as janelas do quarto de hotel onde estou hospedado. Puxo as cortinas e deixo a luz do sol aquecer minha pele. Senti falta desse calor. Estou em São Paulo, vim direto de Los Angeles, às pressas. Meu amigo, Ramon, me ligou avisando que Carlinhos Maia havia entrado em contato com ele, e o mesmo desejava falar comigo pessoalmente o mais breve possível. Perguntei sobre o que era o assunto, mas Ramon não sabia de nada. 

Quase que imediatamente, empolgado com o contato do maior influenciador digital do Brasil, comprei passagens de volta pra o país e, depois de algumas conexões e horas de voo, cheguei em São Paulo. Para minha surpresa, ao desembarcar, a equipe do próprio Carlinhos Maia estava à minha espera e me conduziram até o hotel. Me informaram que eu passaria a noite e pela manhã voltariam para me levar até o chefe deles.   

Pego o celular e vejo que são 08:50 da manhã, sem saber exatamente que horas me encontrarei com o Carlinhos Maia, decido me preparar para qualquer eventualidade. Peço café da manhã, tomo um banho e me apronto. Não demora muito, recebo uma ligação da equipe de Carlinhos, informando que passarão no hotel em uma hora para me buscar.

A primeira coisa que penso quando entro na mansão de Carlinhos Maia é: "então é assim que os ricos vivem". Acho que eu nunca havia entrado em uma casa tão luxuosa. Há mármore por toda parte, quadros enormes e portas e janelas maiores ainda. Tudo é muito fino e milimetricamente planejado. 

Assim que passo pelo hall de entrada, um rapaz se aproxima e me oferece café, chá ou suco. Recuso, não por falta de sede, mas pelo receio de derramar e causar algum dano. Eu jamais teria dinheiro para pagar qualquer objeto que fosse dessa casa. Tudo parece muito caro. Sou conduzido pelo rapaz até uma sala, onde há uma mesa oval enorme com pelo menos dez cadeiras, ao fundo, tem um aparador com várias bebidas.

- O Senhor Carlinhos chegará em breve. Fique à vontade. – E com um baque na porta, fico sozinho na sala. Penso em pegar o celular e gravar alguns stories para o Instagram, estar na casa de Carlinhos Maia certamente renderiam algumas visualizações. Logo tiro essa ideia da mente, não seria educado filmar a casa sem a autorização do dono, opto por tirar algumas fotos para recordação. Poucos minutos depois, ouço passos e Carlinhos entra na sala.

 - Caio, meu garoto, muito prazer. – Carlinhos Maia é mais caloroso do que havia imaginado, ou melhor, do que ele mostra pelas redes sociais. Ele chega me abraçando e logo oferece uma cadeira para que eu me sente, ele faz o mesmo. – E o hotel, dormiu bem?

- Como uma pedra. – Sorrio, tímido. 

- Acabou de chegar de Los Angeles, né. Vi seus stories de ontem. – Outra surpresa, Carlinhos acompanhou meu Instagram. Talvez não estivesse tão surpreso se eu tivesse dado uma olhadinha em minhas redes sociais antes de vir. – Você deve estar se perguntando por que o convidei aqui, bem, é o seguinte... – Antes de continuar, somos interrompidos com algumas batidas na porta e o rapaz que me recepcionou no hall entra com Luan na sala. De todas as surpresas que tive hoje, essa era aúltima coisa que esperava. E pela cara do Luan, ele também não esperava me encontrar aqui. 

- Desculpa pelo atraso. – Luan fala sem tirar os olhos de mim. Eu, por outro lado, desvio o olhar. Meu coração sobe pela boca, uma vertigem toma conta de mim.

 - Chegou a peça que faltava. Venha. Venha. Sente aqui, ao lado do Caio. – Diz, Carlinhos. Animado. - Luan dá a volta na mesa com passos curtos, ergo a cabeça e vejo que ele continua me encarando. Ele pega uma cadeira e a posiciona ao meu lado. – Luan, este é o Caio, Caio este é o Luan.

- Prazer. – Diz ele. Esticando a mão para um cumprimento.

 - Prazer. – Retruco. Então vai ser assim, vai fingir que não me conhece. Tudo bem, também sei jogar esse jogo. Pego em sua mão e o encaro, dessa vez quem desvia o olhar é ele.

- Caraca, bicho, que energia. – Fala Carlinhos. – Olha, olha só, um casal perfeito. - Luan e eu o encaramos, incrédulos. Casal? Casal perfeito?

- Quê? – Falamos, juntos.

- Olha a cara de vocês... – Carlinhos ri. – É o seguinte, vocês conhecem meu projeto da Casa da Barra, e quero vocês lá dentro. – Ficamos em silêncio, ele continua. – Vocês serão um casal fictício. Será tudo encenação, claro, mas terão que se beijar. 

- Calma. – Digo. Olho para Luan.

- Tá bom, vou explicar direito. Nessa nova edição da Casa da Barra eu quero conquistar o público mais jovem, e eu sei que casais engajam muito nas redes sociais. Vocês são perfeitos para o papel. São jovens, bonitos e trabalham com redes sociais, sabem como as coisas funcionam. Não precisam se preocupar com o enredo da história, eu mesmo cuidarei disso.

É muita informação para processar. Primeiro a presença do Luan, depois essa história de casal fictício. Luan continua calado, acho que também é muita informação para ele. Além disso, tem uma outra coisinha.

- Eu não sou assumido. Para ninguém. – Enfatizo.

 - Ah, achei que fosse. E você, Luan?

- Também não.

- Bom, então esquece essa história. Obrigado por terem vind...

- Não. – Exclama Luan. – É uma oportunidade de crescer na internet, eu quero trabalhar com internet.

 - Exatamente. É um favor de mão dupla. Vocês me ajudam e eu ajudo vocês. Vocês sabem, tenho milhões de seguidores, milhões de visualizações diárias, vocês ganharão com isso tanto quanto eu. O que me diz, Caio?

- É... não sei.

- Não quero forçar nada... Faremos assim, então: falem com os pais de vocês, se estiverem preparados para se assumir, voltem a falar comigo. Vocês serão expostos vinte e quatro horas por dia. Precisam estar cientes disso. Vocês são jovens, precisam ter uma cabeça boa, a internet pode ser cruel, então pensem na proposta. Estarei aguardando a resposta.

 - Tudo bem. – Diz Luan.

Carlinhos se despede e deixa a sala. O rapaz, seu funcionário, nos acompanha até a porta de saída. Lá fora, um carro está esperando por nós. Entramos em silêncio. Cada um sentando em um lado oposto do banco traseiro. 

- Como você está? – Luan quebra o silêncio.

- Muito bem, obrigado. – Uma memória do passado toma conta da minha mente, meu corpo esquenta.

- Olha, eu ainda...

- Luan, por favor. - Tenho vontade de sair correndo. Minha pele começa a pinicar. Sinto raiva dele. Mais raiva ainda de mim. Fico em silêncio o restante do caminho. Ele também não insiste. O carro para em frente ao hotel onde estou hospedado. Abro a porta do carro e saio.

 - Caio, é uma oportunidade. Eu sei que você quer trabalhar com a internet tanto quanto eu. – Ele diz, antes de eu fechar a porta do carro.

Uma história de Caio e LuanOnde histórias criam vida. Descubra agora