Capítulo 6

20 3 2
                                    


A figura feminina que encarava Josh era bela e letal, um movimento em falso e Josh sabia que morreria. Aqueles olhos prateados carregavam o brilho das almas que ela já havia ceifado. Sua garganta estava fechada. Respirar e até mesmo raciocinar era difícil.
Josh estava a poucos metros da janela aberta, a luz da lua iluminando uma parte do quarto, embora teria sido melhor se, na escuridão, aquela cena permanecesse não vista.

— Q-quem é você? — As únicas três palavras que ousaram fugir da boca de Josh.

— Já te disse meu nome e você tem coisas mais sérias para se preocupar. — Sua voz era doce, mas seu tom era afiado. Quinn retirou a capa que cobria seu corpo e se sentou na cama de Josh, ponderando a ideia de que ele estava próximo demais da janela e talvez se jogasse dali. A queda não o mataria pelo menos.

— O que você quer comigo? — Perguntou Josh, ainda respirando fundo e percebendo qual era a sua única rota de fuga. 

— Não pretendo perder meu tempo com você, garoto. Estou apenas seguindo ordens. — Disse Quinn, se levantando e tirando alguma poeira de suas calças, uma das mãos apoiada em seu quadril. — Preciso te levar até o Plano Místico, mais especificamente para Audor, a cidade dos elfos.

— Mas que caralhos é isso? — Josh por um momento, esqueceu tudo que vira até então e gritou com Quinn. — Você invade a porra da minha casa em plena madrugada e me faz uma brincadeira dessas? Que porra de "plano místico" é esse? — Os olhos de Quinn se abriram em pura surpresa. — Isso deve ser coisa do Austin. Saia da PORRA DA MINHA CASA. — Gritou Josh, criando coragem para andar novamente e segurou o braço de Quinn. Meio segundo. Foi isso que demorou para Quinn se desvencilhar da mão de Josh, chutar seu estômago, derrubá-lo e torcer seu braço. Um estalar de dedos de Quinn fez as luzes do quarto se acenderem.

A visão de Josh ficou turva com o impacto e com a dor latejante do braço torcido em um ângulo estranho atrás de suas costas. Se respirasse errado, seu braço quebraria. A respiração se condensava no chão gelado do quarto e Quinn observava o quão frágil era aquela criatura.

— Não pense que porque a Mãe te recrutou, que deixarei você por essas mãos imundas em mim, Escolhido. — A voz de Quinn era nada mais que um sussurro, mas a mensagem ficou gravada na cabeça de Josh, disso eles dois tinham certeza.

— Já acabou, Quinn? — Austin estava parado na porta do quarto, observando toda a situação. Ele usava uma camiseta preta e um colete de couro por cima. — Então vamos.

Josh não teve tempo de confirmar se aquilo era tudo uma brincadeira de muito mal gosto, foi levantado com brutalidade por Quinn, que permaneceu segurando seu braço atrás de suas costas, a promessa invisível de quebrá-lo ainda pairando pelo ar.

— Que brincadeira é essa, Austin? Para onde estão me levando? — Eles já caminhavam pelo corredor do segundo andar, Austin empunhando uma espada, a qual Josh tentava não olhar por mais de dois segundos.

— Já disse, Audor. — Respondeu Quinn, empurrando Josh quando chegaram ao andar de baixo da casa.

— Austin, sou eu, cara. Me escute, por favor. — Austin parou mais adiante, Quinn fez o mesmo. Ele não precisou virar todo o rosto para Josh quando começou.

— Você, Josh Collins, é o escolhido para salvar nosso povo e, por mais que eu gostasse da vida aqui no plano mortal, não era mais seguro do que o Plano Místico. Acredite, isso não vai ser bom para nenhum de nós. — Seus olhos se tornaram frios, talvez lembrando de algo que Josh não sabia.

— Mas... — Josh não conseguia formular uma frase, sua vida tinha se tornado um caos de um dia para o outro. Tudo que ele queria era poder se formar e se tornar um ator famoso, fazer trabalhos incríveis e ganhar prêmios, mas, aparentemente, isso agora estava longe de acontecer. Quinn já não aguentava mais toda aquela cena, então se retirou da casa, deixando apenas os dois na sala. 

— Não tente correr, esse é seu destino. — Disse Austin. Algo em Josh travou, indignado, pois era exatamente isso que ele iria fazer, já que a ameaça havia deixado a casa. Austin suspirou e se aproximou do amigo. — Todos nós somos uma chave, mesmo que nossas portas ainda estejam sendo esculpidas.

— Quem... Quem é você? — Josh já não reconhecia mais o amigo. Suas feições eram as mesmas, sua voz era a mesma, seu cheiro era o mesmo, mas algo estava errado. 

— Austin Escavendir. E você, Josh, é o Escolhido. 

Quinn observava do lado de fora quando Austin saiu da casa, carregando um Josh desmaiado em seus braços. A ordem para segui-lo não precisou ser dita, Quinn sabia exatamente o que precisaria ser feito dali para frente, era tudo uma questão de tempo.

Então, após caminharem alguns minutos, beirando a orla de uma floresta local, Quinn retirou uma adaga simples de sua bota e cortou sua mão, o sangue manchando a grama e as pedras no chão. Algumas palavras em uma língua antiga foram proferidas e então, do sangue que marcava o chão, um portal escuro e rodopiante apareceu.

Austin foi o primeiro a passar, carregando Josh. Quinn observou o mundo mortal por um tempo, desejando que em outra vida ela tivesse nascido desse lado da história.

CELESTIAISOnde histórias criam vida. Descubra agora