Capítulo 1

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Tempo... um dos bens mais preciosos da humanidade, embora parte da população gaste-o com coisas banais. Muitos concordam que a nossa vida é muito curta e que jamais conseguiremos atingir nossos objetivos, pois, a cada dia que nasce, uma nova vontade surge em nós. Pergunta simples: Se você tivesse todo o tempo do mundo, como você o desperdiçaria? Você achou mesmo que diria "aproveitaria"? Não, não. No fundo todos nós sabemos que não importa o quão forte você tente ou quanto tempo tenha, sempre acabará gastando-o com algo banal. Aliás, o que você está fazendo neste exato momento?


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A respiração de Quinn, a elfa no comando da investigação Olhos de Névoa, se entrecortava enquanto corria do mal eminente que a perseguia. Não adiantaria gritar por ajuda, sua verdadeira forma seria exposta e seu destino seria algo pior que a morte, caso algum humano a visse daquele jeito. Os becos pareciam ficar cada vez mais estreitos e a presença demoníaca que a seguia, derrubava cada lata de lixo que havia no caminho, se aproximando ainda mais. As lágrimas de Quinn escorriam por seu rosto e apenas em sua mente podia clamar por ajuda. Suas pernas estavam quase desistindo e sua barriga se contorcia de dor, mas, sua única chance seria correr e esperar que algum dos celestiais recebessem a mensagem que havia enviado, suspeitando que poderia ser a próxima elfa a ser morta. A criatura que seguia Quinn não desistiria, o som que ela emitia e a destruição que ficava onde passava, eram o suficiente para fazer com que a elfa continuasse a correr, lutando por sua vida. Ele estava se aproximando cada vez mais e Quinn sabia que seu fim estava próximo, pois "ele" era a própria morte. Então, quando a elfa virou em um beco e não viu saída, ela entendeu.

Quinn havia sido encarregada de investigar os desaparecimentos em Tundrem, uma cidadezinha esquecida ao extremo norte de Celeste. A equipe de Quinn partiu para a missão alguns meses atrás, mas, quando chegaram na cidade, notaram algo estranho no ar, algo maligno. Eles passaram quase um mês investigando, mas não obtiveram sucesso. Todas as pistas que encontravam, não levavam a lugar algum. Então, devido à falta de progresso, os anjos resolveram interferir, dizendo que cuidariam pessoalmente desses casos. Quinn sabia que eles não fariam, mas mesmo assim cedeu. Poucos dias após retornarem da missão, Clare, a recruta mais nova dos elfos e membro da equipe de Quinn, foi encontrada morta. Em seus braços, ou o que sobraram deles, havia marcas profundas de garras, suas pernas estavam quebradas em diversos pontos. Sangue e órgãos pintavam o chão, deixando um leve toque de desespero a quem ousasse ver o estado daquele corpo. Entretanto, o que mais chamava atenção, eram seus olhos. Uma névoa negra percorria e espiralava onde antes estavam os olhos de Clare.

Semanas depois, outro membro da equipe de Quinn foi encontrado morto. A história estava se repetindo. A mesma crueldade e os mesmos olhos com aquela densa e assustadora névoa.

Um a um, os membros que participaram da investigação junto a Quinn, estavam morrendo e ela temia ser a próxima. Algo dentro de seu corpo gritava para que ela se escondesse, onde não pudesse ser encontrada, mas ela sabia que se fosse sua hora, teria que partir.

Uma audiência fora solicitada com os Celestiais, pedindo proteção vigiada a Quinn e ao outro elfo restante da primeira investigação, mas o pedido foi negado. Segundo o anjo Remiel, um dos líderes do conselho dos anjos, isso não passava de uma infeliz coincidência, mas que eles fariam o possível para que nenhum outro elfo fosse morto.

Quinn sabia que confiar sua vida aos Celestiais era burrice, então, resolveu agir por conta própria. Se algo estava vindo para matá-la, que viesse, ele teria que encontrá-la primeiro. Então, ela pegou sua mochila e guardou tudo que era necessário e partiu para Tundrem, onde tudo havia começado. Se existia uma resposta, estaria ali.

 Enquanto isso, o último recruta da primeira missão era cruelmente assassinado, onde ninguém poderia ouvi-lo.



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 A luz da lua iluminava o rosto prateado da elfa, refletindo suas lágrimas enquanto a criatura entrava lentamente no beco. Nascer celestial nesse mundo era uma dádiva, uma benção. Porém, quando se nascia de qualquer outra raça, era uma maldição e isso ninguém em todo o plano mítico discordava. Os humanos não podiam ver ou ouvir os demônios, apenas as outras criaturas como os anões, elfos, ogros, vampiros e lobisomens, mas não se engane, qualquer humano que passasse a ter ciência da existência desses seres, era mandado para Tiaham, a Cidade dos Esquecidos, para que sua memória fosse apagada.

Quinn sabia que estaria colocando em risco a vida de algum humano se gritasse por ajuda, por isso não o fez enquanto via aquela criatura se aproximando cada vez mais. A capa negra cobria seu rosto, embora os dentes pontiagudos e amarelados da criatura ainda pudessem ser vistos.

Suas garras arranhavam a lateral da parede de pedra com um simples toque. Quinn se sentou e olhou para o céu. Havia finalmente desistido. Ela viu a lua mais bonita de toda sua vida, rodeada de estrelas e mais brilhante do que nunca. A respiração da criatura era pesada e trazia consigo um odor terrível de enxofre e morte. A elfa prendeu a respiração quando ficaram cara a cara.

— Algo a dizer, monstro? — A voz daquela coisa era diferente de todas que a elfa já ouvira. 

— O único monstro aqui... é você. — Quinn sorriu e fechou os olhos.

É provável que a Mãe Lua tirou a vida de Quinn antes da criatura a matar. Não houve um grito, apenas o som de carne sendo destruída e membros sendo separados e partidos. Até mesmo o monstro pareceu entediado depois de alguns minutos, quando olhou para o céu e viu o brilho da lua oscilar com uma pequena estrela-cadente que passou. Silêncio caiu sobre o beco quando a criatura seguiu seu caminho, desaparecendo na escuridão. O som do sangue escorrendo poderia ser facilmente ouvido, mas por algum motivo, nenhum humano acordou ou ouviu o que aconteceu naquele lugar. 




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CELESTIAISOnde histórias criam vida. Descubra agora