Dance!

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Eu não compareci ao enterro de Sigurd, não me senti nesse direito.

Minhas mãos tremiam só de pensar em enterros, não tinha uma boa experiência com a morte, acho que no fundo ninguém tem.

Mas agora, estando em "casa" e ouvindo este silêncio, percebi que alguns tem mais dificuldade que eu.

— Por que me encara tanto? — Questionei Ragnar que me olhava de canto sem expressão.

— Você me lembra alguém que eu conheci... Um cristão... — Diz sem tirar seus olhos de mim. — Um amigo... Ele foi um grande amigo.

— É estranho pensar em você com um amigo cristão.

— Eu salvei você, não salvei? O que te impede de pensar que já fiz isso antes? — Ele diz em um tom brincalhão.

— E onde ele está agora? — A cara dele volta a ser séria e deprimida, em vez de responder, ele se levanta e sai do cômodo sem olhar pra trás.







Me levantei e resolvi procurar alguma escrava para ajudar, mas todas recusavam a ajuda, provavelmente estavam com medo.

— Eu não te entendo... — Me viro para trás e encontro Ivar, encostado em uma parede — Você tem sua liberdade e tá aí procurando ajudar criadas? Você sabe que não precisa disso. Não quer um futuro mais grandioso em vez disso?

—  Não começa Ivar, vai me dizer que não tem pena? — O mais novo me olha confuso. Não, ele não tinha e nem precisava falar para mim notar isso. — Você é terrível.

— Terrivelmente inteligente. — Ele sussurra.

— Deixe ela Ivar. — Me viro para trás, dando de cara com Ubbe, já perdi as contas de quantas vezes já me virei e ele estava quase colado em mim. — Velhos hábitos nunca mudam, você sabe.

O mais novo olha pra mim e depois pra Ubbe de cima à baixo, e depois revira os olhos, como se tivesse chegado em uma conclusão óbvia. Ele não responde nada, apenas sai se arrastando.

— Vai para o jantar que vai ter hoje? Vai ser uma baita festa. — Se aproxima ainda mais — Você não vai precisar servir lá, sabe disso não é?

— Pensei que não fosse ter... Ainda mais depois da morte do seu irmão... Não está magoado demais para isso?

— Não é da sua conta, então não me faça falar disso. — Revira os olhos — Vai ou não?

— Vou Ubbe, vou mas... Não tenho certeza se vou ficar muito tempo. Nem sei o que fazer lá.

— Curta a sua vida, beba, fique com os homens que achar bonitos — faço cara de nojo — Ou apenas dance com alguns deles.

— Só sei dançar música clássica... Acredito que seu povo não ouça. — Ele riu alto — Não ria de mim!

— Foi mal, mas as vezes esqueço que você é toda fresca. — Abafa a risada.

— Não é frescura! É arte. — Viro meu rosto e faço beicinho — Eu não sou tão diferente assim... Né? — Sou interrompida por Ubbe, que me puxa pela cintura colando nossos corpos — Ubbe...

— Você parece igual à todos nós, pra mim... — Me empurra de leve sem soltar minha mão — Só que mais bela que qualquer uma. — Me puxa novamente, foi aí que percebi que ele estava tentando dançar comigo. — Se solte, encontre sua batida... O seu... Como dizem mesmo?

— Ritmo? — Ele acena, e volta a se movimenta ao meu redor, me levando junto, dois passos para lado e dois para o outro.

Sinto ele se aproximar, aproximando nossos rostos também, e de repente me sinto anestesiada, como se estivesse em um sonho. Mas como todo sonho, esse também teve seu fim, quando achei que íamos nos beijar, ele se afastou.

— Eu vou indo... Espero te encontrar lá... — Ele sai de forma desajeitada é um pouco desorientado.

Será que eu tinha feito algo errado?









— Que droga! — Pego um pano e faço pressão no meu corte, que voltou a sangrar por algum motivo.

— Você tá bem? — Rose me pergunta indo em direção à minha mão, mas a afasto imediatamente. — Calma, eu só queria ver.

— Estou bem — Pego o peno e finjo estar limpando ele — Só estou limpando esse pano sujo... Só isso. Disse que tinha uma novidade, qual é?

— Uma fofoca na verdade... Sabe Torvi? A que era mulher de Bjor? Ouvi dizer que ela está se envolvendo com Ubbe. Sortuda né? — quanto escuto isso, coloco minha mão na ferida sem querer e solto um grito — Day! Você tá bem? — Corre até mim.

— Tô ótima — começo a rir de nervoso — Melhor impossível — Uma lágrima escorre em meu rosto — Eu só... Preciso descansar. Podemos conversar mais tarde?

A mais nova me abraça — Se cuide, ouviu? Quero te ver bem, pare de ser tão teimosa — Sorri e afasta lentamente, me deixando só.

Senti um nó se formar em meu pescoço, trazendo falta de ar, comecei a chorar baixinho. O que eu estava pensando? Realmente achei que aconteceria? Eu me sinto tão tola que nem consigo deixar de me culpar. Minhas mãos começam a tremer e por isso, decidi voltar pro meu quarto, ali ninguém poderia me ver ou me perturbar.

Mas enquanto eu estava no corredor, minha visão fica turva, achei que era pelas lágrimas, mas a minha pressão foi caindo mais e mais. Coloco minha mão na parede pra me apoiar, não durou muito, pois logo senti minhas pernas falharem.

Tentei abrir meus olhos, eu senti algo macio ao invés do chão duro, me fazendo entrar em desespero, mas não podia fazer nada pois eu não sentia meu próprio corpo.

Me sentia fraca, me sentia impotente.

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Não tenho certeza, mas acredito esse foi o cap mais longo que já escrevi.

Falando em algo mais sério, acho que todos sabem o que está acontecendo no Rio Grande do Sul. Quem não poder contribuir com dinheiro, pode contribuir fazendo doações, divulgando as páginas de doação ou orando pelas pessoas de lá.

E para as pessoas que moram no Rio Grande do Sul, se cuidem e tentem achar uma cidade próxima para ficar, espero que todos fiquem bem.

Beijos 😽

Flowers - Ubbe | VikingsOnde histórias criam vida. Descubra agora