Azul como o céu

111 14 0
                                    

—— Sisy! —— Rose me chama por esse apelido que eu tanto detestava. Quando mais nova, os outros me chamavam assim para zombar da minha cara, mas sei que ela não sabe disso e é por isso que eu a deixo me chamar assim. —— Tenho um pedido pra você.

—— Não tenho maçãs, Rosie. —— A mais nova faz bico pra mim, me arrancando uma risada —— Certo, o que é?

—— Preciso de algo que me deixe madura... Mais velha e mais... Bonita.

—— Você é perfeita. —— suspiro —— Se você soubesse o quão preciosa você é... Você parece um anjo! Tem um corpo bem feito e mesmo sendo escrava você nem tem calos ou rugas!

—— Eu sei Sisy, mas eu... Eu quero impressionar alguém... Vai ter um banquete e eu sei que só vou servir, mas quero estar à altura. Por favorzinho...

Respirei fundo e concordei apenas para ver um sorriso no rosto da mais nova.

Fiquei a noite toda costurando um belo vestido escarlate para a mesma e fiz um vestido azul para mim. Um azul escuro tão belo quando a noite, não que eu me sentisse merecedora dessa comparação.

Desde cedo, minha aparência foi a minha maior insegurança. Eu via as mulheres de Kattegat, sempre loiras ou no máximo ruivas, olhos claros e tinham um corpo tão invejável... Já eu tenho cabelo cacheado e preto, olhos tão escuros que eram quase a mesma cor do cabelo, não tenho um corpão... Só tenho seios para compensar e só. Por isso gostaria que Rosie visse que ela é maravilhosa, queria que ela se visse com os meus olhos.

No dia seguinte, resolvo ir para praia no tempo livre. Me aproximo do mar calmamente, aproveitando a brisa e o vento refrescante, até ouvir um barulho de algo quebrando. Algumas pessoas gritam horrorizadas e resolvo ir até lá para ver o motivo do grito.

Horror.

Essa era a melhor palavra para descrever os rostos delas naquele momento. Mas ninguém ousava falar alguma coisa. O motivo pra tanto espanto? Ubbe estava carregando o corpo de Sigurd, enquanto Hvitserk carregava Ivar que estava com os alhos azuis mais escuros que o normal, ou talvez isso seja coisa da minha cabeça.

Realmente, talvez eu esteja louca pois por alguns segundos, senti os olhos de Ubbe se encontrarem com os meus com um olhar cansado e sentido ao mesmo tempo. Ele entra em uma casa que mais parecia uma cabana.

Sou tirada do meu transe com alguém tocando meu braço de leve, e quando me viro dou de cara com Hvitserk que tinha uma feição pálida, ele me olha e engole seco enquanto coça a nuca.

—— Olha... Você vive com aquela menina né? A Rose... Pode entregar isso a ela?

Eu o olho seriamente sem responder, o irmão dele tá morto e ele está querendo saber de uma garota? Sério? Tinha que ser homem!

—— Ei! Eu sei que não é o melhor momento, mas o surto de Ivar não estava em meus planos... Além do mais, eu ajudei a entregar o presente de Ubbe.

Ergui uma sobrancelha

—— Presente? Eu não recebi nada, você é um péssimo entregador então.

—— O que? Mas eu pedi pra te darem... Droga... Eu já vou indo, mas por favor entregue isso à garota.

Ele sai e eu decidi voltar pra casa. Mas no caminho encontro Ragnar que olha pra mim e se afasta sem dizer uma palavra. Será que eu tinha feito algo de errado? Logo encontro Helga que também mantinha uma expressão acabada, ela me abraça e ficamos assim em silêncio.

Ela me conta oque aconteceu e eu sinto meu peito pesar, sei que Sigurd nunca foi com minha cara antes mesmo de ter a chance de me conhecer, mas acho que talvez ele tivesse mudado de ideia, se tivesse tido a chance de amadurecer.

Olho para o céu e vejo corvos voando em círculo, como se fosse algum tipo de comunicação. Depois de voarem, um fica no galho de uma árvore observando tudo e todos, enquanto o outro apenas continua a voar como se premeditasse algo que eu não compreendia.

Pode parecer besteira, mas o céu estava tão escuro quanto os olhos de Ivar, tão fechado quanto Ragnar, tão limpo quanto Hvitserk e tão "quieto" quanto Ubbe.

Flowers - Ubbe | VikingsOnde histórias criam vida. Descubra agora