Boas vindas infernais

9 1 14
                                    

Ok, antes de tudo, esse aqui vai ser bem diferente. Era um dos meus textos meio poetizados que ficava no "em um dia qualquer", mas retirei a publicação porque dediquei para alguém que agora eu quero esquecer, mas esse texto era um queridinho meu, então decidi "reformar" ele, trazer um final novo e deixar ele vivo, mesmo que não seja o original que eu tanto amava. Para mim, nunca mais vai ser o mesmo, mas pode ser interessante para quem não leu a primeira versão.

Enfim, sobre os avisos, os de sempre: violência extrema, aqui temos uma leve perturbação e umas pequenas saliências, mas nada demais. Boa leitura aos que ficaram.

Inferno. INFERNO!! O inferno está na cabeça dele. Corpos decapitados, membros decepados, sangue espalhado. Cabeça vazia, oficina do diabo? Ah, me poupe! O inferno inteiro está na cabeça daquele maluco! Fogo, sangue, crateras, corpos, prisões, cabeças sem um corpo. Alguma delas deve ser a sua... Procure! Procure sem parar! Uma sem olhos, com falhas nos cabelos de tanto puxar! Ele perdeu a cabeça, ajudem a achar! Ele perdeu a cabeça! Ajudem! Ele está completamente perturbado!

Ah, doce inferno... Uma tentação. Para um louco como ele, seu terror é o paraíso. Olhos pendurados em árvores secas são maçãs saborosas... Olhos tão pecaminosos quanto o fruto proibido. Colha todos, guarde! Estão em árvores e lembram olhos humanos, mas não são frutos de guaraná... Ei! Sua cabeça não tem olhos! Procurando, procurando, os olhos dele estão por aqui! Veja, veja! Ajudem ele! Ele não tem olhos mais! Está cego!

O inferno é mesmo uma condenação? Não, quanta diversão! Para um ser conturbado, o inferno é ótimo. Cheio de gente pra torturar, muitas cabeças para cortar, muitos corpos para desmembrar, muitos membros para brincar! Pernas, braços, mãos, pés, dedos, dentes, orelhas, olhos... Muitos olhos. Talvez porque sejam dois para cada... Estão todos te observando! Oh Deus, quantos dedos! Talvez seja porque são vinte para cada. Deus? Não tem Deus aqui, você está no inferno! Junte todos os dedos, vamos brincar de pega-vareta! Ei, não peque dedos tortos!

Juntaram-se ele e os demônios, brincando de bolinha de gude com os olhos e pega-vareta com os dedos. Muita diversão no inferno! Bobo de quem acha que o paraíso é legal... Não pode nem comer fruta, quem dirá fazer massacres. Massacre? Ele quer! Parem a brincadeira, peguem as almas mal conformadas com sua condenação e soltem por aqui. Ele vai caçar! Vai caçar cada alma como se fosse um animal, usando foices, machados, enxadas e tudo que tem direito. Invadam a seção de jardinagem, o modus operandi dele é se lembrar de sua roça. Guarde essa arma, idiota, ele gosta de sangue, armas não espalham tanto sangue!

Caçou uma. Passou a foice pelos pés, contando os calcanhares. Grite, agonize! Sangre! Deu uma machadada no ombro agora? Se acalme, garoto! Vai matar muito rápido assim! Arraste consigo, deixe em um lugar melhor, com mais visibilidade. Arranque um olho, arranque o outro, rasgue o nariz. Quebre o maxilar! Ah, quanto sangue! Grite, grite mais! Ele quer te ver sangrar! Ele quer te ouvir gritar! Que pena, não consegue mais gritar... Corte a garganta, ele quer ouvir seus grunhidos afogados em sangue agora. Sangre, sangre mais!

Caçou outra. Acertou a inchada no meio da cabeça? Nem deu tempo de brincar! Rápido, rápido, faça sangrar! Corte os pulsos, corte os braços, corte a jugular! Sangue, mais sangue! Ele quer te ver jorrar! Ah, que pecado seria se ele se excitar... Oh, estamos no inferno! Vamos pecar! Sangre mais, o cheiro está forte, o sorriso está enorme, a diversão mais ainda! Caralho, o que é isso? Está excitado! Está excitado! Nunca ficou excitado antes... Só porque não sabia que sangue era o seu tesão!

Caçou todas! Ah, a sensação é perfeita... Está cansado, porém, satisfeito. Então essa é a sensação de transar? Se sim, não é virgem mais! Ou é? Talvez ele seja o virgem santo do inferno. Todos irão venerar o virgem santo do inferno! Ele é louco, ele é maluco, mas ele é virgem! Matou todos, se banhou em sangue! Ele é o melhor! O seu perfume é fortíssimo, deve ser caro... O nome? "Sangue de condenados". Caríssimo!

Que o Diabo abençõe o seu pior filho. Virgem de corpo, pervertido de mente, e com muito sangue, não só em suas mãos. Esse sangue não pode ser lavado, mas ele nem quer se livrar. Ele ama o cheiro. Ama a textura. Ama a cor. Ele ama vermelho, e agora, está todo vermelho! Ah, como ele ama vermelho... E sangue! Será que ele ama sangue porque é vermelho? Ou será que ele ama vermelho porque é a cor do sangue?

Foda-se, não pergunte! Não questione! Questionar faz pensar, é o bigodudo louco que gostava de pensar. Ele morreu louco! Surtou! Ah, mas o argeliano elegante não morreu louco... Porque morreu cedo! Não deu tempo de enlouquecer, então não pense, não pense! Ah, foda-se, ele já está louco! Quem está dizendo isso? Eu, a voz! Chega de se controlar, seja um maldito primata! Não pense, não pense! Mas já pensou? Foda-se, você já está louco, louquinho! Sua loucura só é diferente... Então não pense, não seja louco igual eles!

Ah, não há motivos para questionar, afinal, neste momento é o favorito do teu soberano. Diabo ausente, mas sabe bem cuidar de seus filhos carentes. O Diabo gosta de rapazes virgens e loucos, ele adora, coloca como seus protegidos e mostra bem isso, mas esse garoto era com certeza o favorito dos favoritos. Ele poderia o esperar sentado de forma preguiçosa em seu trono, largado e todo torto, aproveitando a posição de superiodade.

Ele gostava de ser superior, aos poucos, se viciava em ficar naquele trono. Observou seus irmãos rebeldes: brigando, gritando, tumultuando. Nenhum deles fazia metade do que ele fazia, muito menos por prazer. Ele viu com seus próprios olhos o quão superior era. O pecado carnal, inteiramente humano e incentivado por demônios, não estava em sua forma original nele, e isso o fazia ser tão puro diante dos olhos do ser supremo daquele lugar. O desejo erótico era humano, não uma criação diabólica, mas este se aproveitava disso para corromper almas para arrastar aos seus domínios.

Mas com aquele garoto, era diferente. Seu único prazer era sangue, e quando ele mesmo notou isso, percebeu o quão superior ele era. Não era como seu superior: invejoso, impulsivo e rancoroso. Ele não ligava. Ele não se importava. Só sentia prazer em ver o caos e o sangue, era a única coisa que ele sentia. Naquele momento, teve a certeza de sua superiodade.

Quando a luz erradia por aquele recinto, todos sabem da sua chegada. O ambiente se torna mais quente, aconchegante... E lá está ele. O Diabo em pessoa. Seus olhos logo encontram o garoto coberto de sangue em seu trono, e logo ele sorri. O rapaz também o olha, com seu sorriso profano sendo exibido em seu rosto. Permanece sentado no seu trono enquanto o ser supremo do submundo caminhava em sua direção. Ele queria tomar aquele garoto para ele, ele era perfeito, puro e ingênuo demais para perceber sua superiodade...

Assim, se aproximou devagar do garoto, que se mantinha sorrindo e olhando para ele. Quando seus lábios quase se tocavam, ele atravessa sua foice na barriga de Lúcifer. Ao puxar a lâmina, corta seu torso, e o empurra, o fazendo cair deitado no chão.

Ao ver seu senhor deitado diante de si, ele coloca seu pé descalço no peito dele, olha em seus olhos, mantendo aquele sorrisinho, e faz a lâmina da foice voar na direção dele, separando a cabeça do corpo. Seus irmãos o olhavam com tamanha surpresa, todos atônitos. Ele pegou a cabeça no chão e admirou sua obra. O com o sangue que escorria do corpo, marcou seu corpo. Jogou a cabeça no chão e empunhou sua lâmina, indo para cima de seus irmãos com aquele mesmo sorriso.

Todos correram, mas de nada adiantou. Seu novo senhor chegou, e ele gosta de banhos vermelhos ao som de gritos.

Narrativas FatalizadasOnde histórias criam vida. Descubra agora