Flórida
Convento St. Augustine, 1761
Ava havia passado o dia inteiro dentro das paredes do convento ajudando na preparação de alimentos para a caridade. Apenas seu corpo estava presente, pois sua alma e sua mente vagavam juntas em um limbo de melancolia e solidão.
Quando enfim deixou a cozinha já era tarde. Após o jantar, numa mesa de freiras silenciosas, Ava retirou-se para seus aposentos, onde fez seus rituais pessoais e deitou-se na cama.
Ava não conseguia pregar os olhos. Havia algo que não a deixava dormir, mas não sabia exatamente o quê. Virava-se de um lado para o outro na pequena cama no minúsculo quarto. Seus cabelos vermelhos que tanto odiava estavam esparramados no travesseiro; seus olhos verdes custavam a ficar fechados por muito tempo, já que sua mente não parava de trabalhar. Estava próximo o dia de tornar-se esposa de Cristo.
Após inúmeras tentativas, Ava sentou-se na cama. Suas costas ardiam como chamas, mas não mais que sua alma ferida.
Havia uma única lanterna acesa em cima de uma cadeira de madeira ao lado da cama, que não iluminava mais que um metro e meio. Desistindo de permanecer na cama, Ava pegou a lanterna com uma luz amarelada e dirigiu-se a uma pequena cômoda de madeira de três gavetas do outro lado do quarto, abriu a primeira gaveta e pegou uma pequena carta escrita à mão por seus pais.
A folha que continha quase a mesma coloração da luz estava preenchida de palavras meio tortas e caligrafia pouco legível, mas Ava amava ler o que eles mandavam todo mês. Essa em suas mãos contava como havia sido a colheita deste ano e como seu pai estava feliz por ter colhido o bastante para passarem o resto do ano e ainda venderem. Sua mãe, apesar de muito animada, contava que estava com saudades da filha e questionava quando os visitaria novamente; pedia que Ava passasse ao menos o aniversário em casa.
Claro que ela sentia saudades de casa, mas não podia abandonar seus deveres como noviça no convento. E por passar tanto tempo longe de casa sem poder dar notícias frequentes, seus pais se preocupavam mais que o suficiente. Só era permitido às freiras e noviças enviar e receber cartas dos seus familiares uma vez ao mês, então Ava sempre preenchia duas folhas contando-lhes o que se passava em sua nova vida sem poupar detalhes.
Quando dissera que desejava seguir a vida religiosa, como sua tia fizera anos atrás, seus pais não acharam que seria uma boa ideia, já que era sua única filha. Mas Ava não desistiu e, como fora criada desde criança na igreja católica, não demorou muito para que seus pais cedessem e a ajudassem no que precisasse. Há quase cinco anos, uma adolescente sorridente de olhos cor de jade, adentrou os portões do grande Convento St.Augustine e agora faltavam menos de duas semanas para tornar-se aquilo que nascera para ser: uma mensageira de Cristo.
Mas será que era isso mesmo que ela queria? Será que seus pais estiveram certos o tempo todo?
Batidas leves na porta fizeram Ava largar a carta dos pais rapidamente e fechar a gaveta antes de abrir a porta. Não se surpreendeu quando uma mulher loira usando uma camisola longa e branca adentrou seu dormitório sem ao menos ser convidada.
- Emilly! - falou alto o suficiente para que apenas a loira ouvisse - o que está fazendo aqui? Já é tarde e se nos pegarem acordadas
- Não se preocupe, ninguém me viu - pousou a lanterna que segurava na cadeira, logo após sentar-se na cama - além disso, estão todas dormindo e eu sei que você não estava conseguindo dormir.
Ava sabia o quanto sua amiga a conhecia bem, sabia quando não estava sentindo-se bem. Mas ela não era a única que tinha consciência de quando a outra estava passando por momentos ruins; sabia que quando Emilly passava a madrugada em claro, algo a estava perturbado.

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Filha Do Mal (Pausado)
ParanormálníUma enfermeira do St. Augustine Hospital fica responsável por dar assistência a uma idosa que acabou de fazer uma cirurgia. Ao ver que a mulher não tem acompanhantes, a enfermeira passa a dar mais atenção para a senhora e acabam se tornando muito pr...