Flórida
St. Augustine, 1761
Muitas horas antes...
Ava percebeu o que se passava pela sua mente e suspendeu imediatamente o que quer que fosse aquilo. Ela era uma moça de Deus, uma noviça, não devia ter pensamentos vingativos como aqueles.É óbvio que a madre Abigail e o Sr. Phillips pagariam pelo grande pecado que cometeram contra Emilly, mas apenas Deus daria a punição devida.
Olhou para a marca da cruz na pele de Emilly mais uma vez e abotoou os botões do hábito novamente. Ajudou-a a limpar os ferimentos das mãos com ajuda de um pano úmido e ataduras que conseguiu na enfermaria do convento. Sentia náuseas todas as vezes que Emilly arquejava de dor com o antibiótico, mas acima de tudo sentia raiva. Ava sempre soube que as pessoas olhavam Emilly de uma maneira diferente e a condenavam sem ao menos conhecê-la, mas ao contrário de todos, Ava não achava errado o que Emilly fazia, o que ela sentia, e não merecia passar por nada daquilo.
Quando terminou olhou para as mãos agora enfaixadas da amiga e a guiou devagar para fora da sala onde estavam. Desceram as escadas juntas e se separaram diante das portas da frente que davam para o jardim. Sem que dissessem qualquer coisa, prometeram uma à outra que se encontrariam no gazebo nos fundos do convento em algumas horas.
Dentro de si, Ava gritava, queimava de raiva! Queria ir até a sala de Abigail e confrontá-la sobre aquilo, fazê-la sentir tanta dor quanto Emilly sentiu quando o ferro quente queimou sua pele ou até mais. Mas não podia. Sabia o quanto isso era errado e lembrou-se das palavras do padre sobre não deixar o pecado entrar e tomar conta da sua vida, então pegou duas luvas de jardinagem e começou a mexer na terra, plantando algumas sementes de tomates.
Estava tão imersa em seus pensamentos que nem viu quando a irmã Tereza se aproximou cautelosamente e tocou-lhe o ombro com a delicadeza de um gato. Ava não se assustou, mas virou rapidamente para trás para ver quem era, dando de frente com a senhorinha que havia batido em sua porta pela manhã.
Ela não disse nada, apenas segurou a mão de Ava discretamente e depositou um papel amassado lá e foi embora com um mini sorriso no rosto. Ava não entendeu nada, mas deixou o que estava fazendo e desdobrou a folha amarrotada. Estava escrito em letras meio tortas, mas de fácil entendimento:
"Venha até minha sala, por favor."
Péssima hora para um bilhete de abigail chamando-a para uma conversa. Ava não gostaria de estar nem na mesma cidade que a madre naquele momento, mas mesmo assim se obrigou a limpar a terra em suas vestes e se dirigir para dentro das paredes do enorme convento. Subiu as escadas até o segundo andar, virou a direita e parou em frente a porta de madeira onde tinha avistado Emilly uma hora antes. Puxou ar para os pulmões e o soltou quando deu duas pequenas batidas na porta e ouviu a madre convidando-a para entrar.
Assim que adentrou o novo local, suas narinas capturaram um aroma amadeirado e de canela, provavelmente vindo da xícara de chá posta sobre a mesa. As janelas grandes estavam fechadas, mas as cortinas de seda estavam afastadas, dando uma ampla visão dos campos verdes além da cidade. Abigail estava sentada em sua cadeira estofada atrás da mesa, mexendo em alguns papéis, sem nem desviar o olhar do que fazia. Fez um gesto para que ava sentasse e esperasse. Quando terminou, tirou os óculos de lentes pequenas e redondas e encarou a jovem ruiva que tinha o queixo bem marcado quando trancava a mandíbula com força. Era notório o quanto estava nervosa ou irritada com algo.
- A senhorita Phillips falou com você, não foi? - obteve sua resposta quando ava desviou o olhar e não respondeu - presumi que faria isso, porque é teimosa demais para acatar minhas ordens, mas você não é.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Filha Do Mal (Pausado)
ParanormalUma enfermeira do St. Augustine Hospital fica responsável por dar assistência a uma idosa que acabou de fazer uma cirurgia. Ao ver que a mulher não tem acompanhantes, a enfermeira passa a dar mais atenção para a senhora e acabam se tornando muito pr...