Capítulo 8

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St. Augustine, Flórida

Casa de Helena Murphy

Estou deitada na minha cama, na mesma posição, há horas.

Meu corpo já não tem mais lágrimas a serem derramadas e agora só me resta sentir no peito a solidão desta casa.

Apenas uma coisa surge na minha mente neste período em que estou aqui:

"Nada é difícil demais. Agora acorde! Você está se afogando, acorde!"

Essa frase não sai da minha cabeça! Talvez ele não estivesse se referindo apenas à banheira, afinal. Eu estou mesmo me afogando num mar de tristeza, onde minhas lágrimas formam ondas gigantescas, prontas para me afogar.

Como um devaneio da minha cabeça pode ter tanta razão? Afinal, por que o Marcos, uma criança de dez anos, pode ter me dado um tapa no rosto tão grande?

Ouço meu celular tocar em algum lugar da casa. Não tenho a mínima vontade de sair da cama e atender, mas mesmo assim, cedendo ao som insistente, eu levanto e sigo o barulho até o sofá da sala.

A sala toda está uma completa bagunça: ainda há algumas marcas de pés molhados no carpete e uma ou duas manchas pequenas de sangue no chão. Meu celular continua a tocar debaixo de algumas almofadas e roupas minhas jogadas de qualquer jeito em cima do sofá.

Enfim o encontro. A foto de uma Brenda sorridente aparece logo abaixo do nome dela; atendo e deixo que ela fale primeiro:

- Helena, oi! Só liguei para ter certeza de que você vem ainda hoje.

- Oi, Brenda - é a primeira vez que eu falo algo em quase três horas. Minha garganta dói devido aos gritos dados mais cedo, portanto estou praticamente sem voz agora - estou quase pronta. Só vou terminar de arrumar umas coisas aqui e já apareço aí.

Dou uma rápida passada de olhos pela sala e vejo que vou ter que fazer muito mais do que só "arrumar umas coisas", mas prefiro não pensar nisso agora.

- Tudo bem, querida. Veja, já está tarde, então eu vou dormir. Tem uma chave reserva debaixo do tapete. Deixei comida pronta; coma alguma coisa antes de ir para a cama, por favor.

- Ok. vejo você amanhã. Boa noite.

- Boa noite, minha filha.

E com isso, ela desligou. Estou só de novo, mas agora preciso organizar algumas coisas para sair. Só não sei por onde começar.

Olho em volta enquanto penso em qual bagunça devo arrumar primeiro. Não que eu seja uma pessoa bagunceira, só tem tanta coisa acontecendo, que a última coisa que eu penso é em limpar minha casa. Dou uma última passada de olhos antes de desistir e voltar ao meu quarto, deixando a casa bagunçada para trás.

Coloco minhas roupas de forma desorganizada dentro de uma mala grande que estava ficando empoeirada em cima do guarda-roupas e a deixo em cima da cama. Depois de conseguir fechar o zíper após muita luta, algo novo perturba minha mente: a história maluca de Joyce.

Sem muito ânimo, mas com a cabeça cheia de perguntas, volto para a cozinha e preparo algo para beber, dessa vez mais leve do que os outros. Coloco o vinho, já aberto na geladeira, em cima da mesa e vou em busca de uma taça; quando não a encontro facilmente, pego um copo de vidro qualquer e o encho pela metade com o líquido alcoólico de cor tão bonita. Volto para a sala com o copo na mão e a garrafa debaixo do braço e sento-me no sofá. Ao meu lado, meu notebook repousa esperando que eu o abra e faça novas pesquisas.

Tomo um gole grande de vinho enquanto abro o Google para mais uma pesquisa sem sentido. Na barra de pesquisa as seguintes palavras são digitadas: Convento St. Augustine, 1761.

Filha Do Mal (Pausado) Onde histórias criam vida. Descubra agora