Capitulo 6

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"Alguns segredos precisam permanecer no mais completo escuro. A porta que dá para esse lugar? Trancada. Não são todos os que entendem o quão perigoso seria se certas informações caíssem em mãos erradas. Se você está lendo isso, é porque alguém quis que esse diários chegasse até você. Honre o lugar que ocupa, seja no que quer que ela planeje.

Deve estar se perguntando o que  de tão mirabolante está escrito nesse diário. Não seria nada extraordinário, se os personagens dessa história não fossem quem são. Preciso avisar que pode se surpreender com o que contém aqui, ou até mesmo pensar consigo mesmo "já desconfiava". Mas é importante saber que existe uma grande diferença entre a desconfiança e a certeza.

O foco dessas páginas? Nossa aclamada família real. Questões ainda não descobertas, protegendo a todos aqueles que a defendem, e sem dúvidas, arruinando a glória daqueles que não acham que são lá as grandes e leais pessoas que juram de pés juntos ser. Todos os podres empurrados para debaixo do tapete nesses anos de poder supremo. Salve o rei!"

Ao terminar a primeira página do diário que Alexia achou na rua, Augusto recostou na cadeira. Não é todo dia que lia coisas parecidas com aquela. Na verdade, nunca leu nada que parecesse ter um mínimo de importância, fosse na vida dele ou de outras pessoas. Fechou o pequeno livro e colocou-o em cima da mesa de jantar.

Já estava no meio do caminho para seu quarto, quando de súbito voltou para pegar o diário de volta. Não conseguiria dormir até ter terminado de lê-lo. Pelo que tudo indicava, a aventura aconteceria agora, e ele não queria perder nada.

Chegou em seu quarto, fechou a porta, e sentou-se na pequena cama de solteiro, com o livro já aberto. Imediatamente percebeu a mudança da caligrafia: a escrita, antes bem organizada e redonda, agora eram nada mais que esboços de palavras. Quem escreveu-as devia estar com pressa, ou até mesmo medo do que seria registrado. Percebeu então que a primeira página era um alerta para que só lesse quem tivesse coragem de entrar naquela história. Não sabia exatamente porque, mas sentiu que era a pessoa certa para ter aquilo em mãos. Sabia que era de confiança.

Voltou a ler:

"Hoje, faz três meses que Madalena engravidou, de acordo com minhas contas. Um tanto incomum, pois sua barriga está grande para um curto período de tempo. Ela deve estar mentindo pra mim, com toda certeza. Deve estar esperando um filho de algum outro rapaz do reino, e se aproveitando do nosso envolvimento para jogar a responsabilidade em alguém que pode mantê-la.

Ainda assim, não consigo acreditar que ela seja capaz de fazer algo assim tão horrível. Madalena é uma mulher digna, e se se envolveu comigo, foi por pura insistência minha. Só espero que Fernanda um dia me perdoe, por ter tido um caso e ela logo em seguida engravidar. Pediu-me para não assumir esse filho, e assim farei. Ela não vai perceber se eu mandar dinheiro para a mulher: o reino está em sua melhor fase desde que meu pai morreu. A pequena Eva deve estar nos dando sorte. Será que um dia vou deixar de me arrepender de ter traído Fernanda?

O problema com o Reino do Oeste foi resolvido. Nada que algumas descobertas não façam os inimigos mudarem imediatamente sua opinião. O que vem me preocupando mesmo é uma certa feiticeira de lá, que anda espalhando coisas que não devia para a região. Estou reassumindo o controle de tudo, e essa mulher pode acabar me prejudicando. Logo me livrarei dela, mas enquanto isso, é melhor tomar cuidado com as coisas que ela fala. E principalmente o que sabe."

Intrigado, Augusto mais uma vez parou de ler o diário. Sua mãe se chamava Madalena, como a mulher citada, e se na época que o documento foi feito, a rainha estava grávida de Bernardo, ele também já estaria na barriga de sua mãe. Mas sabia que era só uma coincidência, pois a data de nascimento dos dois era diferente. Além do mais, sua mãe era uma morta de fome, não teria nenhum envolvimento com alguém da família real, sem contar que nunca trairia o pai das crianças. Certo?

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