Capitulo 7

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Do lado de fora da pequena casa feita basicamente de madeira, Lucas resolveu dar espaço a Daniel. O irmão estava dentro da casa acompanhando o funeral, mas estava mais interessado mesmo em passar mais tempo ao lado da princesa Jordana. Não achava que era correto fazer do funeral um encontro romântico, mas já tivera aquela idade, sabia perfeitamente como tudo parecia secundário quando aquele que não saia de sua cabeça estava por perto. No caso de Lucas, tinha sido ainda maior. Melhor, podia dizer.

Ele não tinha nada contra Jordana. Achava a garota bonita, gentil, de boa família, que sempre teve muito contato com a dele. Sabia que estava nas mãos de Daniel, e não podia esperar para que fosse pedida em casamento. Era atenciosa com o povo, nunca teve nenhuma polêmica ao contrário dos irmãos mais velhos. Mas achava que não era a garota certa para o irmão, cuja personalidade era difícil demais para alguém que só sabe concordar com tudo que fizesse. O caçula precisava de alguém que fosse companheiro, mas que o encaminhasse para a direção certa. Pra falar a verdade, achava que nenhuma princesa podia oferecer isso a Daniel: elas têm tudo, menos noção real de como é o mundo, das dificuldades da vida.

Já pensou milhares de vezes em selecionar algumas jovens do seu reino pra conhecer Daniel, para que ele visse como é conversar com alguém não está preocupada apenas com o vestido estar com cada fio no lugar. Ele sempre se preocupou com pessoas de diferentes realidades, até teve contato com elas, mas nunca de forma pra entender completamente o que ela falam.

Uma coisa perturbava Lucas. No dia do baile, não pôde deixar de notar como o irmão e a tal fada madrinha, Duda, se deram bem. Ousava até dizer que o que surgiu ali não foi apenas uma amizade. Devia ser coisa de seres mágicos.

Naquele momento, várias pequenas luzes roxas começaram a surgir no cenário verde. Perto das árvores, um pouco afastadas, elas foram se intensificando, ativando a curiosidade de Lucas, fazendo-o se aproximar do curioso lugar. Jurava já ter visto aquilo antes, mas não conseguia se recordar quando. Parecia ter sido em outra vida.

- Cuidado, Giselli!- ele reconheceu a voz como a de Duda.

No momento em que ouviu aquele nome, parou onde estava. É claro que já tinha visto aquela luz antes. Era a luz de Giselli, que sempre via quando ela ia nos encontros deles. Aquele sinal, foi o rastro da garota que Lucas viu no dia que ela desapareceu de sua vida sem mais nem menos.

Por um momento, não soube o que fazer. Sempre sonhou com o dia que veria a amada novamente, mas nunca realmente parou pra pensar como ele seria, de fato. Nem mesmo achou que isso seria possível. Quando tal ideia o ocorria, sempre era a mesma coisa: eles se olhariam, e saberiam que o tempo de espera já tinha acabado. Que poderiam finalmente ser felizes, e que nada nem ninguém os impediria. Mas não seria assim agora. Ele tinha uma mulher, e ela... Bem, não sabia como estaria agora. Estava ciente de que ela poderia ter refeito a vida, poderia até ter esquecido tudo, vê-lo como passado. Mas essa realidade era difícil demais para ele aceitar. Preferia acreditar no que seu coração mandava ele acreditar.

Sentiu os batimentos acelerarem rapidamente. Correr dali seria tolice, ela poderia o ver fugindo como uma criança assustada. Não queria que tivesse esse pensamento, ainda pensando nele ou não. Raios, pensou. O simples fato de saber que a encontraria em poucos segundos, que seus olhos se encontrariam novamente, que o sol iluminaria novamente os cabelos ruivos da moça, traziam Lucas de volta para a adolescência. Involuntariamente mexeu no cabelo, de forma que ele ficasse bagunçado como ela dizia gostar no passado. Estava sendo ridículo, e cada vez mais uma raiva lhe queimava o peito. Detestava o efeito que ela lhe causava, e ainda causa. Chutou uma pedra que estava por perto com toda sua força.

- Vejo que alguém ainda tem problemas pra se controlar.

Quis gritar. Aquela voz era como uma música, que poderia transportá-lo para onde bem entendesse. Era assim que costumava se lembrar. Só que ali, ela o fez perder todo o controle sobre si. Achou que não conseguia se movimentar, mas se virou lentamente para olhá-las.

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