Parte 05 - Seja sonâmbulo;

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 Conforme o fim do semestre se aproximava, Venti ficava cada vez mais estressado.

A vontade inicial de Xiao era rir da cara do seu colega e repetir um belo bem feito infinitas vezes. Porém, Venti, fisicamente, estava de uma forma que nunca tinha visto então: pálido, com olheiras e cada vez mais quieto. Ele simplesmente não estava normal.

Xiao, tão acostumado com o barulho, estranhou a mudança. Jamais admitiria a ninguém, mas estava compadecido, até. Sem avisar, assumiu o compromisso de fazer o café e passou a deixar pelo quarto pacotes de bolacha para o outro rapaz comer, pois tinha certeza que ele não se lembrava de comer quando passava o dia fora.

No geral, eram dias anormais. Xiao gostava de ter uma rotina, e Venti fazia parte dela, infelizmente. À noite, sentia falta da respiração leve do seu colega de quarto, pois ajudava-o a dormir também. Agora, quase nunca Venti dormia no seu horário de sempre, estando no dormitório ou não.

Até que ele começou a falar.

Na primeira noite, Xiao acordou com alguns murmúrios vindos do seu colega. Sonolento, o rapaz revirou-se na cama, tentando entender o que Venti estava falando. E então, ficou possesso. Quem era Venti para acordá-lo no meio da noite por puro capricho?!

Xiao sentou-se de supetão, olhos estalados, pronto para reclamar com seu colega pela falta de consideração. Percebeu, então, que Venti estava deitado, virado para o seu lado. Na escuridão, não conseguia enxergar seu rosto direito.

— Para, mãe... eu já falei... — ouviu Venti murmurar. Xiao piscou.

Ele estava acostumado com roncos. Sempre que bebia, Kaeya roncava — o que era quase todo dia, basicamente. Venti, às vezes, também. Mas... conversas?

Desde quando Venti era sonâmbulo?

Xiao ouviu o outro rapaz murmurar mais algumas coisas ininteligíveis e resolveu deitar-se novamente. Pensou em conversar com Venti pela manhã, mas quando acordou, mal se lembrava do ocorrido.




Xiao gostaria de dizer que os monólogos noturnos de Venti estavam tornando-se cada vez mais escassos, mas ele estaria mentindo. Estava enlouquecendo? Sim, mas resolveu controlar sua língua, pelo menos daquela vez — por mais que seu corpo estivesse reclamando. Durante muito tempo, teve insônia. Agora que tinha se livrado dela, não estava mais acostumado a não ter uma noite de sono.

Seu eu da madrugada, porém, não parecia ser tão piedoso. Depois do sexto dia consecutivo — era um sábado à noite, tenha dó! —, Xiao sentiu algo dentro de si quebrar.

Foi o protocolo padrão: no meio da noite, acordou assustado, ouvindo alguém conversar. Sentou-se na cama.

A partir disso, em um dia normal, ele deitaria-se de volta após perceber que era só Venti reclamando de alguma comida ou conversando com alguém. Em algum ponto, voltaria a dormir. Naquele dia, porém, seu eu interior resolveu não escolher a paz, principalmente porque Venti parecia ter bebido e estava mais comunicativo do que o comum.

Lembrou-se de Kaeya e seus roncos; naquela época, ele simplesmente chutava seus lençóis, andava até seu colega de quarto e o sacudia pelos ombros. O cale a boca! era opcional, mas sempre bem-vindo. Venti, naquele dia, precisava de um tratamento parecido.

Xiao levantou-se. Seus dedos formigavam em antecipação. Aproximou-se de Venti, e o rapaz deitado pareceu sentir sua presença, pois ao invés de manter-se de barriga para cima, virou de lado, de frente a Xiao. O artista aproximou-se, quase sorrindo maldoso, e chegou tão perto que seus dedos sentiram o calor da pele de Venti. Porém, segundos antes de concluir seu plano, Venti abriu a boca e murmurou, enrolando as sílabas:

como irritar Xiao: o guia completo // xiaovenOnde histórias criam vida. Descubra agora