Xiao suspirou, bebendo mais um pouco do café ruim que Venti tinha feito naquela manhã. Fazia mais de duas semanas que o músico passava seu café todos os dias — com exceção de sábado —, e sinceramente? Talvez Xiao estivesse errado sobre Venti. Nenhum outro colega de quarto ofereceu-se para passar café para ele também, por mais chocho e aguado que ele fosse. Era um bom sinal.
O rapaz apoiou a cabeça na mão, encarando o artigo que precisava ler para a próxima aula. Sem vontade de continuar sua leitura, deixou sua mente vagar até seu colega de quarto, que hoje também estava por ali estudando. Era curioso; ultimamente sua mente parecia sempre parar em Venti quando menos esperava. Bateu de leve com a lapiseira no papel; nem entendia o porquê de ter antipatizado tanto com o outro rapaz. Talvez fosse a lua minguante ou o Mercúrio em sei lá o quê; Mona com certeza saberia explicar melhor.
Piscou, tentando focar em sua leitura novamente. Tomou o resto do café, e estava quase conseguindo absorver alguma coisa, até Venti interromper sua concentração:
— Xiao? Vou buscar algo pra lanchar. Você quer que eu traga tofu de amêndoas para você?
E sinceramente? Venti nem era tão ruim assim.
***
Ok, era mentira. Venti era péssimo, e Xiao deveria estar pirando por considerar aquele sujeito como alguém aceitável.
Claro, tudo parecia estar indo bem: Venti continuava a deixar seu lado do quarto mais ou menos organizado, colaborava nos dias de limpeza e continuava a fazer seu café ruim. Mas, como a perfeição é apenas ilusão, poucos dias depois Venti achou outra forma de o fazer subir pelas paredes.
Conforme o semestre avançava, Venti demonstrou ter um sério problema de insônia. Talvez não fosse insônia em si, mas mais uma dificuldade de dormir depois de tomar quatro xícaras de café ou ficar até tarde no bar. Quando Venti finalmente dormia, já era quase nascer do sol, e por isso muitas vezes não ouvia seu alarme tocar.
Isso não seria nenhum problema se ele não despertasse às 6h30 da manhã.
Xiao virou-se na cama e bufou. Cobriu sua cabeça com o travesseiro, tentando abafar o barulho. Ele não sabia quanto tempo o alarme ficou tocando sem parar, mas quando Venti finalmente desligou-o e se levantou, já parecia ter se passado horas.
Isso se repetiu mais algumas vezes — e a pior parte: sempre nos dias que o artista não tinha aula pela manhã. Uma semana depois, quando Venti largou uma xícara de café ruim em sua mesa enquanto Xiao estudava, o rapaz não resistiu:
— Eu não aguento mais seu alarme. Dê um jeito de acordar sem me perturbar — exigiu, mas foi tão casual que pegou Venti desprevenido. Ele piscou, confuso, encarando Xiao, que parecia muito concentrado em folhear um sketchbook.
— Hã... Eu vou tentar? — ofereceu. Venti não obteve respostas.
***
Ele não tentou.
Na quarta manhã que acordou ouvindo I Want to Break Free a todo volume, Xiao decidiu que tinha sido suficiente.
Chutou as cobertas e levantou. Mais uma vez acordava às 6 de uma manhã fria, em que podia dormir até às 10.
— Venti, acorda — mandou, desligando o alarme. Venti, por sua vez, continuou ressonando baixinho, sem nem se mexer do lugar.
— Acorda — repetiu, sentindo seu corpo arder de raiva. Era pedir dormir até mais tarde no dia em que tinha apresentação de trabalho? Xiao acreditava que não. Venti, novamente, não se moveu. Cansado, o artista puxou o pé de seu colega de quarto, derrubando-o da cama.
— Não, mãe, eu odeio queijo!
Xiao apenas encarou enquanto seu colega abria os olhos, confuso e ansioso.
O outro rapaz piscou, ainda sonolento, e falou rouco:
— Xiao, o quê...
— Da próxima vez que eu acordar às 6 da manhã ouvindo Queen — começou, ríspido —, você vai acordar de uma forma muito pior.
Xiao voltou a sua cama, ignorando o olhar assustado do outro rapaz.
***
O rapaz achou que as coisas estariam resolvidas depois daquela conversa amigável. Mas, é claro que estava errado — afinal, Venti cursava Música. Era literalmente o curso mais barulhento que existia. Ele deveria já estar esperando as coisas irem de mal a pior.
Após os episódios do alarme, por algum motivo, Venti começou a tocar música com mais frequência no dormitório deles. Talvez para lidar com a ansiedade de viver sob o olhar ameaçador do seu colega de quarto.
Quando era flauta — ok, Xiao podia ignorar. Ele poderia colocar seus fones de ouvido e ouvir 10 horas de white noise no Youtube. Não era o melhor, mas era o que ele conseguia fazer. E, sinceramente, às vezes as músicas que ele tocava eram até agradáveis.
E então, Venti cansou da flauta. Ele foi pro baixo. Ok, baixo, legal. Ele conseguia lidar.
Mas, após o baixo, veio a guitarra. E Xiao só conseguia pensar em duas coisas: de onde saía tanto instrumentos e, principalmente, por que os desuses estavam o punindo dessa forma?
— Venti — Xiao chamou após descobrir que seu colega de quarto era mais barulhento que os white noises que ouvia —, eu te odeio e odeio seu barulho.
O rapaz em questão olhou-o surpreso, errando a nota do teclado — sim! Um teclado que mal cabia dentro do quarto deles — que estava tocando naquela noite.
— Ah... Desculpa? Eu não te avisei que nossa sala de música está em reforma? Eles estão deixando ela à prova de som. Aparentemente, as pessoas têm reclamado... Você acredita?
— Chocante — respondeu ácido. — E quanto tempo vai demorar ainda?
— Um mês?
Um mês.
Ok. Um mês.
Xiao respirou fundo, pensando se talvez não seria melhor implorar para o trocarem de quarto. Porém, Venti sempre trazia seu tofu de amêndoas...
Ok. Um mês.
Porém, uma semana depois, Xiao abriu seu quarto apenas para descobrir Venti tocando violão e Aether, o irmão imbecil de uma colega sua de aula, sentado e tocando um cajón.
Algo no fundo da sua alma quebrou.
— Fora. Eu vou dar uma volta na quadra e quando eu chegar, eu quero essa merda — e gesticulou na direção de Aether — longe daqui.
— Ele está falando de mim ou do cajón? — perguntou para Venti, que deu de ombros. — Os dois, né?
— Ou vocês se mandam, ou eu vou jogar isso pela janela. Chega!
E saiu do seu quarto, sem nem esperar uma reação. Aparentemente, seu aviso funcionou, pois quando voltou, Aether e seu cajón estavam bem longe.
Venti, por sua vez, estava deitado em sua cama, dedilhando calmamente seu violão. De olhos fechados, não parecia ter notado a presença de Xiao.
O artista deixou sua mochila cair no chão silenciosamente, sem conseguir parar de encarar Venti. Quando entrou pela porta, estava pronto para mais uma discussão sobre barulhos e regras, mas ver seu colega de quarto tocando pacificamente deixou-o... calmo? Surpreso?
Bem. Xiao perdeu suas palavras. De fato, a única coisa que conseguia prestar atenção era na melodia que seu colega produzia. Seus dedos deslizavam pelas cordas com maestria, e pela primeira vez Xiao conseguiu realmente notar o talento do seu colega de quarto. Era um músico e tanto.
— Consegui te acalmar? — Venti falou, ainda de olhos fechados.
— Calado.
O outro rapaz riu, retomando a melodia que tocava antes.
Ok, talvez o barulho pudesse ser algo negociável.
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como irritar Xiao: o guia completo // xiaoven
FanfikceXiao odiava muitas coisas, e seu novo colega de quarto parecia estar se esforçando para chegar ao topo da sua lista. Ou As cinco vezes que Venti irritou Xiao, e a vez que Xiao tentou ter sua vingança. UNIVERSO ALTERNATIVO // XIAOVEN