8|Girls don't cry

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Não consigo sair do quarto

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Não consigo sair do quarto. A confusão de Jihyo e sua fuga apressada ecoavam na minha mente, misturando-se com a melodia de "Stand By Me" que ainda tocava em loop nos meus pensamentos. Eu estava deitada na cama, olhando para o teto, tentando entender o que tinha dado errado.

Minha mãe bateu na porta no meio da tarde.

— Sana, você está bem? — sua voz filtrava pela madeira com uma preocupação que eu podia sentir.

— Estou... só cansada — eu menti, sabendo que ela não compraria aquela desculpa por muito tempo.

Ela suspirou do outro lado da porta.

— Se precisar conversar, estou aqui, querida.

Eu murmurei um agradecimento, mas não disse mais nada. Eu não estava pronta para explicar, talvez porque eu mesma não entendesse.

Não muito tempo depois, ouvi batidas na janela. Era Momo, sua expressão preocupada visível mesmo através do vidro. Eu me arrastei para abrir a janela, e ela entrou, ágil como sempre.

— O que aconteceu? — Momo perguntou, sentando-se na beirada da minha cama.

— Eu...beijei a Jihyo — abaixei a cabeça assim que seus olhos se arregalaram, me deixando envergonhada. — E ela...saiu correndo.

Momo balançou a cabeça, uma expressão desacreditada no rosto. Não tenho certeza se ela está surpresa pelo beijo ou por Jihyo ter fugido, é difícil saber. 

— Eu só não entendo porquê isso aconteceu, a culpa foi minha? Eu não deveria beijá-la?

— Sana, isso pode ser algo novo para Jihyo também — ela disse depois de um momento. — Talvez ela precise de espaço para pensar.

— Espaço eu dou, mas e se ela decidir que foi um erro? — eu perguntei, a insegurança clara na minha voz.

— Então você vai saber que tentou — Momo respondeu, sua mão encontrando a minha. — E se for mais do que isso, ela vai voltar. Só dê a ela tempo.

Eu assenti, as palavras de Momo fazendo sentido, mesmo que o medo de perder Jihyo fosse uma sombra constante na minha mente.

— Obrigada, Momo — eu disse, espremendo sua mão.

Momo sorriu, aquele sorriso que sempre me fazia sentir que tudo ficaria bem.

— Sempre às ordens — ela disse, e nós ficamos ali, duas amigas enfrentando o desconhecido juntas.

Mais tarde, Momo se foi, e eu fiquei sozinha com meus pensamentos e o silêncio do meu quarto. Não demorou muito para que a quietude se tornasse insuportável, e eu sabia que precisava sair, sentir o concreto sob as rodas do meu skate, deixar que o vento levasse embora parte da confusão que Jihyo havia deixado em seu rastro.

Coloquei meu walkman, ajustei os fones de ouvido e deixei que "Boys Don't Cry" do The Cure me acompanhasse enquanto eu deslizava pelas ruas. A música, com sua batida pungente e letras que falavam de corações partidos, parecia entender exatamente como eu me sentia.

Quanto mais eu pensava em Jihyo, mais eu percebia que precisava entender esses sentimentos que borbulhavam dentro de mim, sentimentos por outra garota. Era algo que eu nunca tinha considerado antes, algo que parecia tão natural quando eu estava com ela, mas agora, estava cheia de perguntas sem respostas.

Decidi que minha próxima parada seria a biblioteca central. Mesmo isso sendo um tabu na sociedade, eu esperava encontrar algum livro, algum recurso que pudesse me ajudar a compreender o que estava acontecendo comigo. A biblioteca era um lugar de conhecimento, de respostas, e eu precisava de ambas as coisas.

Chegando lá, eu percorri os corredores, passando os dedos pelas lombadas dos livros até encontrar a seção que eu buscava. Havia alguns títulos que prometiam falar sobre relacionamentos entre pessoas do mesmo gênero, sobre a história e as lutas da comunidade denominada LGBT há pouco tempo. 

Um livro em particular chamou minha atenção. "Devassos no Paraíso: A homossexualidade no Brasil, da Colônia à Atualidade" de João Silvério, lançado em 1986. Parecia oferecer uma visão abrangente do assunto, apesar de não ser uma história da Coreia. 

Peguei o livro e me acomodei em um canto tranquilo da biblioteca. As páginas continham histórias de amor, de luta, de aceitação e de coragem. Histórias que, de alguma forma, começaram a fazer sentido para mim, a me mostrar que o que eu sentia por Jihyo não era errado, era apenas... humano.

Eu li até que as palavras começaram a se misturar com as emoções, até que senti que estava pronta para enfrentar o que quer que viesse a seguir. Com o livro ainda em mãos, eu sabia que a jornada estava apenas começando, mas pelo menos agora eu tinha um mapa para me guiar

...

Os dias se transformaram em semanas, e a ausência de Jihyo tornou-se uma constante na minha vida. Ela não aparecia mais pelas ruas que costumávamos percorrer juntas, nem no fliperama onde compartilhamos tantos momentos. A cadeira ao lado da máquina de "Speed Demons" permanecia vazia, e o silêncio daquela ausência era mais ensurdecedor do que o barulho dos jogos.

Tentei me distrair, passando mais tempo com Momo, focando-me em minhas manobras de skate, mas a sombra de Jihyo estava sempre lá, espreitando nos cantos de minha mente. Eu me perguntava se Jihyo estaria pensando em mim, se estaria tão confusa quanto eu. O que significava aquele beijo? Por que ela fugiu?

Uma tarde, enquanto eu estava na biblioteca, folheando um livro sobre relacionamentos, Momo se aproximou. Seus olhos perspicazes captaram minha tristeza.

— Sana, você está tão quieta hoje. Isso é por causa da Jihyo? — ela perguntou, sentando-se ao meu lado.

Eu suspirei, incapaz de esconder minha confusão.

— É... Eu não sei o que pensar. Desde aquele dia no fliperama, ela simplesmente desapareceu.

Momo me olhou com compreensão.

— Talvez Jihyo esteja tão perdida quanto você. Sentimentos assim podem assustar, especialmente se forem novos para ela.

Eu assenti, mas o vazio em meu peito persistia. O silêncio de Jihyo era ensurdecedor, e eu me perguntava se ela estava tão confusa quanto eu. Eu só queria entender, queria saber se havia algo real entre nós ou se tudo não passara de um impulso passageiro.

À noite, enquanto eu deitava na cama, olhando para o teto, a melodia de "Boys Don't Cry" ainda ecoava em minha mente. Eu me perguntava se Jihyo estava chorando também, se ela sentia a mesma saudade que eu.

 Eu me perguntava se Jihyo estava chorando também, se ela sentia a mesma saudade que eu

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Por hoje é só isso. 

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