Capítulo 16

57 9 0
                                    

Um adeus?

POV Hadria

.
.
.
.
.
Aquele olhar, manchado por lágrimas, se despedia. O abraço coletivo foi desfeito, e todos lamentavam sua partida. Sem paciência, Darling se via puxada por mim até a saída do portão. Hesitei um pouco antes de a erguer em meus braços, mas o fiz. Senti meus pelos se eriçarem e evitei olhar para ela.

Alcei voo, sentindo Darling se segurar mais forte. A ventania fazia meus cabelos voarem violentamente, e a pequena figura em meus braços não parava de me encarar profundamente. Não me senti intimidado por seu olhar, mas, de certa maneira, seus olhos sobre mim causavam arrepios.

Odiava me sentir assim diante dela e odiava mais ainda ter que admitir isso. Sua visão sobre mim não devia ser das melhores: "mal-humorado", "ranzinza" e "carrancudo" eram apenas alguns dos milhares de xingamentos que ouvia ela sussurrar contra mim. Bom, ela não estava totalmente errada. Meu humor não era dos melhores, e admito que com ela era ainda pior. Não odiava Darling, mas tinha meus motivos para não confiar nela.

"Hadria", ouvi sua voz calma.

Limitei-me a resmungar um "hum".

"Você sabe com quem Peter vai se casar?" Sua voz carregava tristeza.

"Com a princesa de Ilargia." Talvez não devesse dar tantos detalhes, mas que diferença faria se ela já estava indo embora?

"Entendi", sua voz melancólica sussurrou.

"Olha, Darling, o Peter pode ser um babaca, mas não se deixe abalar por isso. Talvez as coisas não sejam como você imagina." Senti um suspiro vindo dela, certamente questionando se realmente acabara de ouvir esse tipo de coisa vindo de mim. Seu rosto não expressava muita confiança no que eu havia dito.

"Caralho, não devia ter falado isso", pensei.

"Acredite, um dia você irá entender isso", murmurei, tentando confortá-la.

"Obrigada, mas acho que nunca irei entender", ela murmurou, triste.

Mantive-me em silêncio até chegarmos ao portal mágico, onde Darling partiria para sempre. Pensar nisso me deixou um pouco estranho, um aperto no peito. Não sei ao certo, talvez tenha sido algo que comi e não me fez bem, mas não gosto de sentir essa sensação.

"Chegamos", anunciei.

"Um arco-íris?", ela questionou.

"Você só precisa atravessá-lo e estará de volta à sua casa", expliquei.

Darling desceu dos meus braços e dirigiu-se ao portal que a levaria de volta à sua antiga vida. Vi-a parar e olhar hesitante para o arco-íris, e depois para mim. Ela parecia pensar por um momento e, de repente, veio em minha direção de maneira desajeitada. Fui surpreendido pelos seus braços que rodearam minha cintura. Devolvi o abraço e seu rosto se encostou ao meu peito, suas lágrimas molhando minha pele através dos tecidos. Afastei-me do abraço e a encarei. Com meus dedos, ergui seu rosto em minha direção, seus olhos brilhando pelas lágrimas que escorriam. Percorri meus dedos até seus lábios e os acariciei. Sem pensar, inclinei-me em sua direção e selamos nossos lábios. Foi um selinho rápido, mas pareceu uma eternidade. Aqueles lábios quentes contra os meus me deixaram atônito.

Sua expressão ainda exalava surpresa quando se afastou e me olhou pela última vez. Encarei-a parada em frente ao portal, pronta para partir, e então me virei para retornar ao palácio. Mas um som me interrompeu.

Ao olhar para trás,  deparei-me com uma grande  figura envolta em um manto negro, erguendo Darling pelo pescoço. Suas pernas debatiam-se em busca de ar, enquanto o demônio continuava a sufocá-la. "Maldito Arcanur", sussurrei raivoso, correndo em direção a ele. Arcanur voltou seu olhar na minha direção e apertou ainda mais os dedos contra o pescoço de Darling.

"WENDY!", minha voz desesperada ecoou pela floresta, quando Arcanur a lançou violentamente contra uma árvore.

"Seu desgraçado"

Corri em sua direção e desembainhei minha espada. Ele ergueu uma de suas vestes e travamos uma luta. Nossas espadas se chocavam, o som dos metais faiscava por todo o ambiente. "Preciso acabar com isso o mais rápido possível", pensei preocupado com Darling.

Desviei de todos os golpes que Arcanur lançou contra mim. Ele era ágil e habilidoso, mas eu não ficava para trás. Surpreendi-o e apunhalei-o no coração, minha espada perfurou seu peito até o outro lado.

"Tartarea animabus", sussurrou Arcanur, desaparecendo da minha frente e surgindo atrás de mim como um fantasma. Empunhava uma espada negra cravejada de antigas runas. Desviei antes que ele me atingisse, e sua risada demoníaca preencheu o ambiente.

Novamente, Arcanur avançou contra mim e desta vez seu olhar estampava ódio. Travamos uma batalha mortal e seus golpes eram rápidos e precisos. Era difícil desviar de todos. Lancei uma sequência de chutes no ar que o atingiram pelas rajadas de vento, cortando sua pele. Imediatamente suas mãos voaram em minha direção, lançando diversas lâminas cortantes. Consegui desviar e esquivar-me de todas, deixando Arcanur ainda mais irritado.

Fui pego de surpresa quando suas correntes emergiram e me atingiram violentamente, ferindo-me gravemente. Senti-me fraco diante do veneno que provavelmente estava impregnado nelas. Vi Darling tentando se levantar sem sucesso "merda  preciso protege-la" .Embora enfraquecido, não seria isso que me derrotaria. Concentrei minha mente e meu poder de cura onde fui atingido.

Uma sensação latejante de dor me assola, porém consigo me restabelecer.

"Barreira de proteção".

Uma barreira é erguida ao meu redor, impedindo os ataques de Arcanur.

Arcanur, por sua vez, tenta me atingir de todas as maneiras, sem sucesso. Sou surpreendido por uma explosão sob meus pés, que me lança para longe.

"HADRIA", ouço a voz da Darling.

Sinto minhas costas indo de encontro ao chão mas rapidamente me levanto e corro apressado em direção à Darling, que está acorrentada a Arcanur. "Maldito, quer levar a Darling", murmuro enquanto avanço com todas as minhas forças. Quando ele está prestes a entrar no portal, corto as correntes ao meio e seguro a Darling. Mãos demoníacas puxam Arcanur para cima e o mesmo atravessa o portal.

A Darling encolhe-se em meus braços, seu coração acelerado e sua respiração pesada. Ela me encara, analisando meu rosto para ter certeza de que era eu, e logo seu corpo ss entrega a exaustão.

Nunca É Tarde Para O Amor/Peter Pan E Wendy Onde histórias criam vida. Descubra agora