you wanted to touch his hands and lips and this means your life is over anyway

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Dos 32 anos da vida de Ramiro,esse momento foi,sem dúvida,o mais constrangedor. Quando ele teve que pigarrear para conseguir fazer a voz sair e se segurar na mesa a sua frente para não perder o equilíbrio,se dirigiu a Petra com uma calma que não sentia:

-Você pode chamar a Gaby,a Aline e o Silva  e pedir pra eles encontrarem a gente na sala de reunião,por favor? Eu tenho um assunto pra tratar com vocês. 

-Um assunto? Que mistério é esse? É sobre o caso? - O tom de Petra era levemente desconfiado.

-Eu vou explicar tudo,tá bom? - Ramiro agora conseguia falar mais firme - Só se garante que ninguém além do pessoal que estava no Naitendei ontem vai ouvir essa conversa,por favor.

-Mas tem a ver com o caso ou com você? Tô ficando assustada,Ramiro - Os olhos da mulher mais baixa ficavam progressivamente mais arregalados enquanto falava.

-Eu vou falar assim que tiver todo mundo reunido. É sobre mim e sobre o caso,você vai entender. Junta todo mundo,tá? - A cabeça do homem trabalha a mil por hora,tentando imaginar um jeito de ficar menos mortificado ao dizer para uma equipe inteira de investigação policial que na noite anterior tinha se atracado com um suposto ladrão e falsário.



Quando seus amigos chegaram na sala,o cacheado estava prestes a furar o chão,andando de um lado para o outro. Ele tinha uma foto impressa do suspeito e revisava de novo e de novo como diria pra melhor equipe de investigação de São Paulo - sua equipe,a equipe ele era líder - que o cara que eles conheceram e que Ramiro inconsequentemente estava aos beijos é a mesma pessoa que roubou a porra do MASP. 

Se ele for bem sincero,existe uma voz no fundo de sua mente que se pergunta se aqueles momentos com Kelvin foram reais. Se,de alguma forma,o ruivo não descobriu a profissão deles e se aproximou do primeiro trouxa que deu abertura. Mas aí também,a troco de que? O agente não tinha iniciado uma investigação profunda ainda, mas duvidava bastante que o nome de Kelvin não fosse verdadeiro. E ele até poderia ter dito que iria para a Itália só pra plantar uma pista falsa na polícia,mas Ramiro viu tanta sinceridade naquela empolgação,o jeito que os olhos brilhavam e as mãos gesticulavam em excitação para apontar em detalhes o que o atraia no país. Ele ficava tão bonito assim. Passional. Empolgado. Feliz.

Em contrapartida,sabe-se lá se o que era lido como genuíno condizia com a realidade. A única coisa concreta dessa história toda é que Kelvin era uma das pessoas mais inteligentes,talentosas e espertas que já havia investigado. Essa combinação era perigosíssima e,por vezes,letal. Mas não dessa vez. Existe outra afirmação aqui que é: ninguém saiu machucado. O menino podia ser um bandido, falsificador e mentiroso,mas agressor não era. Isso pesava positivamente de alguma forma,não?

Bom,isso pouco importava. O que importava de verdade é que Ramiro queria virar o maior desgraçado desse país se não colocasse esse moleque atrás das grades. Era uma questão de honra agora.

-Tá todo mundo aqui. - A voz de Gaby e a movimentação do grupo arrastando as cadeiras para sentarem arrancou Ramiro de seus devaneios - Eu tô curiosa do porquê dessa reunião só com a gente. Você tá bem,amigo?


-Mais ou menos - Ramiro não era um homem de falar abertamente sobre o que sentia,longe disso. Mas tinha uma confiança inabalável naquelas pessoas à sua frente. - Eu preciso falar uma coisa pra vocês e preciso que vocês me prometam que não vai sair daqui. É sobre o caso,mas me afeta diretamente. Não é segredo que meu objetivo aqui,quando o Pedro aposentar,é ficar com a chefia no lugar dele. Eu sei que tenho o apoio de vocês nesse plano e o que eu vou falar agora pode me prejudicar.

we have not touched the stars (nor are we forgiven)Onde histórias criam vida. Descubra agora