— Harry, você entende tudo que eu acabo de te dizer?
Harry presta atenção aos barulhos. Há muitos no escritório do Prof. Dumbledore - agulhas de tricô que trabalham sozinha, uma chaleira, o tic-tac incessante do relógio. Ele consegue ouvir o assovio do vento e os cochichos entre os antigos diretores, eternas memórias aprisionadas em quadros. Um deles, Fineus Nigellus, é um antepassado de Black.
Harry prestava atenção aos barulhos quando estava na Rua dos Alfeneiros. Quando seus tios o deixavam de castigo no armário escuro embaixo da escada por horas, tantas que ele acreditava que passaria o resto da vida naquele espaço minúsculo, Harry se concentrava nos sons à sua volta - o ranger dos degraus quando alguém descia as escadas, a estática da televisão, o latido de cachorros na calçada. Os sons o lembravam de que ele ainda estava vivo, que ainda havia um mundo para onde voltar quando finalmente o deixassem sair.
Harry não ouviu uma palavra do que Dumbledore acabou de dizer.
Ele pisca, desviando a atenção das prateleiras. Um dos livros está se movendo cadenciadamente, como o peito que sobe e desce com a respiração tranquila de um animal adormecido.
— Sinto muito, professor.
Dumbledore tira os oclinhos de meia lua e esfrega os olhos. Parece cansado. Harry não sente pena. Ele está caminhando por uma linha muito frágil de raiva e remorso. Não é culpa do diretor - não toda a culpa, pelo menos -, mas ele é a pessoa mais perto de Harry naquele momento.
— O senhor Black está no Ministério da Magia agora — Dumbledore volta a falar depois recolocar os óculos sobre o nariz torto. — Ele ficará detido até que receba um julgamento adequado. Relaxe, menino — se apressa em dizer quando Harry faz menção de protestar, seu coração momentaneamente batendo tão rápido que o deixa ligeiramente desorientado. — Um auror de minha confiança foi responsável pela prisão. Como o Sr. Black se entregou de boa vontade, nada de mal irá lhe acontecer.
Harry apenas encara o velho, completamente atônito, o coração ainda martelando em seu peito e em seus ouvidos. Ele quer quebrar alguma das velharias que Dumbledore guarda naquele escritório. Quer gritar com ele, e perguntar qual a porra do seu problema para deixá-lo ir até lá?! Foi para isso que ele se deixou ser levado até a enfermaria? Para dar tempo ao diretor para convencer Black a se enfiar em seja lá qual fosse seu plano brilhante que provavelmente o levaria de volta para Azkaban?
Pequenos pontos de luz brilham na visão periférica de Harry. Havia mentido para Madame Pomfrey; não se sentia nada bem. Ele tenta manter suas emoções no presente, mas sua mente teima em voltar para horas antes, e para a voz de um homem lhe implorando por piedade.
— O que o senhor acabou de dizer? — consegue falar sussurradamente, cerrando os dentes numa tentativa pífia de evitar que palavras de raiva e bile escapem por sua boca.
Dumbledore olha para Harry com aqueles olhos branco-leitosos. Em outras ocasiões, a postura complacente e sábia o tranquilizaram. Agora, toda a calma do diretor só serviu para deixá-lo ainda mais nervoso.
— Entendo que você está confuso, mas lhe garanto que tudo está sob controle.
Harry não quer, mas acaba rindo com a última frase.
— Como estava nos últimos doze anos, quando vocês o deixaram apodrecer em Azkaban?
Dumbledore arqueia as sobrancelhas. Deus sabe quantas vezes Harry recebeu aquela mesma reação quando não conseguiu segurar a língua. Ninguém esperava grandes coisas dele. Reações? Oh, quanta bobagem. Para a maioria das pessoas, Harry era um animal selvagem que teve os dentes arrancados.
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Vou Deixar a Luz Acesa
FanfictionBlack e Lupin estavam ombro a ombro, as varinhas erguidas. - Você devia ter percebido - disse Lupin com a voz controlada -, que se Voldemort não o matasse, nós o mataríamos. Adeus, Peter. Hermione se virou para a parede para não olhar, e Ron abaixou...