I - Reencontro

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Martin

Não importava para que lado Martin olhasse, todos os restaurantes, lanchonetes e bares estavam cheios. Seus amigos haviam decidido sair para comer fora, e escolheram a pior noite do ano para isso. Fazia um calor infernal, com sensação térmica de quarenta graus e com a umidade alta, era como se cozinhasse em banho maria, e as ruas lotadas só confirmavam isso, ninguém queria ficar em casa naquele inferno, e qualquer lugar climatizado serviria pra distrair a cabeça.

Eles andaram tanto que já estavam cansados e com fome quando encontraram uma pizzaria surrada com algumas mesas livres. O ambiente era confortável, apesar de pequeno, e não estava cheio como os outros, havia um casal em uma mesa próxima a porta, e um idoso em outra mais ao centro, mas só, o restante do espaço estava vazio como num dia de semana comum, e pra sua sorte, o ar condicionado gelava até mesmo o sangue nas veias.

Com a ajuda dos amigos, juntaram duas mesas e pegaram algumas cadeiras para se acomodarem num dos cantos mais próximos ao balcão, estavam em cinco contando consigo.

- O que vamos pedir? - perguntou seu amigo Tony, um rapaz alto e negro, com cabelos crespos cuidadosamente moldados num black power lustroso e um pente-garfo dourado no topo, que lembrava a ele uma pequena coroa.

- Qualquer coisa serve, eu só queria sair da rua mesmo. - respondeu apontando um cardápio extenso de sabores de pizza, bebidas e outros pratos aos quais não dedicou muita atenção.

- Credo amigo, parece que nem queria vir! - disse Eva, sua amiga de infância. Uma mulher esguia e de voz rouca, com óculos retangulares de armação rosa, que somados ao jeans surrado e a blusinha branca que estava usando, lhe faziam parecer uma professora de ensino fundamental.

-Tu dúvida? - brincou Tony.

- Não é por nada não, sabe, mas eu também não tava afim de vir, só que nesse calor não tinha muito o que fazer - declarou Dani, um dos amigos que fez por tabela quando se juntou ao grupo.

- Gente, o que importa mesmo é que todo mundo veio, né? Além disso, eu tô morrendo de fome, deixem pra discutir depois de pedir - foi a vez de Helen se pronunciar.

Enquanto seus amigos debatiam sobre o que iriam querer, Martin encostou as costas na cadeira, deixando a cabeça pendendo para trás, e fechou os olhos pra aproveitar melhor o ar frio que circulava ali dentro. Não era como se não quisesse estar ali, mas também não teve muitas opções. A verdade é que embora apreciasse a companhia dos amigos, sentia-se cansado demais pra socializar com quem quer que fosse naquele momento, precisava descansar a cabeça depois da semana de trabalho que tivera.

Enquanto deixava os pensamentos correrem soltos, um par de mãos ásperas cobriu gentilmente seus olhos, e quase deu um pulo quando uma voz conhecida sussurrou em sua orelha, numa altura que só ele poderia ouvir "Já se esqueceu de mim?".

No momento em que aquelas palavras inundaram seus ouvidos, ele sentiu o seu corpo aquecer e os pelos de sua nuca levantarem em excitação, "eu sou tão fácil assim?", pensou, ajustando-se na cadeira para encarar seu captor.

Agora de frente, podia ver melhor o dono da voz, que com o sorriso mais radiante que já vira, lhe cumprimentou em tom brincalhão.

- Calma, ninguém vai te comer! - disse o dono da voz.

- Nem fodendo, ítalo? - exclamou Martin, em choque.

- Em carne e osso! - respondeu o amigo, animado.

Ele levantou-se para cumprimentar o recém chegado com um aperto de mãos, mas foi puxado pra um abraço apertado que durou um pouco mais do que o normal. Por um breve segundo, ele quase havia esquecido que haviam outras pessoas na mesa, e com medo da reação dos demais, desvencilhou-se do aperto para apresentá-lo. Foi então que um pigarro alto pôde ser ouvido, e com ele, Eva chamou a atenção do amigo pra si.

Corrente de RetornoOnde histórias criam vida. Descubra agora