capítulo 1

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Desamparo

─A miserável vida de Edson

─A miserável vida de Edson

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2018

Observava os turistas fotografando as ruas de Ipanema, sentados naqueles carros pretos e grandes. Parecia que estavam ao lado de uma variedade de animais. Talvez, se eu visse um mico, uma preguiça ou até um tucano, eu faria o mesmo. Para mim, não há nada de errado no que estão fazendo; meu sonho era ir para a Áustria e também ficaria fascinado por tudo que é diferente do meu país. Soltei uma risada com a situação. É engraçado como aquelas pessoas estadunidenses consideram o Rio de Janeiro um dos paraísos concedidos por Deus. Talvez eles estejam certos; provavelmente, em algum momento, foi de fato um paraíso.

Mexi na minha caipirinha enquanto ainda observava os estrangeiros. Um deles, uma idosa rabugenta, estava me encarando com cara feia. Eu a encarei de volta. A idosa rabugenta levantou seu dedo médio para mim; suas mãos eram enrugadas e pequenas, semelhantes às de um bebê pelo tamanho. Isso arrancou um sorriso do meu rosto, e acenei para a idosa ignorante. Talvez eu me pareça com o ex-marido que a traiu há muito tempo, mas isso não importa agora.

O dono do bar era um velho amigo meu. Paguei pela minha bebida e saí do lugar. Eu estava vestido de forma um tanto brega, mas era verão, então deixei passar.

Estava em Ipanema para relembrar uma história intensa que aconteceu naquele lugar alguns anos atrás, envolvendo um conhecido meu que, se estivesse vivo, já teria minha idade. Se eu fosse um escritor ou compositor, teria divulgado sua história drástica e melancólica.

Você não precisa saber quem eu sou, serei insignificante para o enredo da história.

2006, Rio de Janeiro


Era uma maldita segunda-feira. Edson acordava com o humor de uma mulher na TPM. Já havia desligado o despertador tantas vezes que o som tinha se tornado uma melodia recorrente em seus sonhos. Mas Edson sabia que não podia viver sem seu emprego, apesar de receber apenas migalhas. Nunca foi seu sonho trabalhar em uma locadora. Ele ainda sonhava com um karma onde todos aqueles pirralhos que o fizeram bullying no primário morressem, enquanto ele se tornasse um milionário rodeado por prostitutas e amigos falsos. Mas tudo o que a vida lhe proporcionou foi uma casa minúscula de aluguel e um emprego medíocre. Edson acreditava que todos aqueles com quem estudou tinham uma vida bem melhor do que a dele ─ mal sabia ele que o rapaz que o atormentava morreu no tráfico naquele mesmo mês.

Ele estava desesperado. Deveria estar na locadora há 10 minutos! Dizem que quando se está com pressa, tudo o que mais precisamos se esconde. Mas, no caso de Edson, sua desorganização não ajudava. Apenas de cueca azul com um leve rasgo no traseiro, procurava seu uniforme no meio de uma pilha de roupas ─ a camisa, que já não lavava há algumas semanas ─ e suas bermudas? Onde estavam? O desespero tomou conta: "Não posso perder esse emprego!". Afinal, ele só conseguiu a vaga porque os outros três concorrentes eram analfabetos e um deles foi preso. Não teria a mesma sorte na próxima entrevista.

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