SHIVER

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- Arte. Para muitos, ela é subestimada, mas a verdade é que ela conta nossa história. - Pausei olhando os rostos na sala escura iluminada somente pelo slide que eu apresentava. -Ela foi mudando, evoluindo conforme nós, seres vivos, descobríamos o que sentimos de verdade. Técnicas novas de se expressar foram surgindo. - Passei o slide em meu notebook. -Estátuas, pinturas, desenhos, rabiscos, músicas, palavras no papel, tatuagens, filmes, séries, teatro.. Tudo isso é uma forma de se expressar, mas além disso, é arte.

O sino tocou e todos começaram a pegar seus materiais.

- Na próxima aula, irei explicar mais a fundo a divergentes formas de arte. - Digo fechando meu notebook.

Os alunos saíram da sala aos poucos para o intervalo. Abri as cortinas e então saí pela porta a trancando.

Passei pelos corredores cheios colocando minhas chaves no bolso da calça jeans acenando brevemente para alguns alunos. 

Não gosto de admitir, mas a sala dos professores me intimida. São muitas perguntas que não me sinto a vontade para responder, não só vindas do diretor, mas também dos professores mais velhos e fofoqueiros. Sem falar é claro, nos olhares. Sendo assim, eu estou me acostumando a comer no refeitório com os alunos, geralmente como alguma fruta ou algo que trago de casa.

Adentro o lugar iluminado e me aproximo das merendeiras que me cumprimentam com um breve sorriso. Pego uma maçã e olho ao redor mordendo um pedaço dela. Mastigo devagar e com calma até encontrar ele. Os olhos escuros que tanto procurei na última semana, mas dessa vez, estão diferentes.... Estão, castanhos.

- Professora! - Ângela entra em minha frente de forma animada me fazendo a olhar.

- Oi querida. - Digo abrindo um sorriso após engolir o que tinha em minha boca. - Do que precisa? - pergunto de forma atenciosa.

- Gostaria de saber se você não quer ajudar o jornal da escola com algum projeto interessante. - Ela diz com um sorriso que ia de uma orelha para a outra. 

- Como assim? - Indaguei inclinando minha cabeça para o lado franzindo minha testa. - Minha matéria é interessante o suficiente para ter um projeto no jornal da escola? - Rio baixo.

- Para ser sincera professora, a matéria só se tornou interessante para todos por causa de você. - Ela foi direta.

- Por minha causa? - Apontei para mim mesma antes de morder outro pedaço da maçã

- Sim! Boa parte dos alunos costumavam matar as aulas de artes pelos corredores, na biblioteca ou até mesmo na enfermaria. - Ela diz concordando com minha fala. - Bem, a matéria não é ruim, mas nosso antigo professor era. - Ela diz de forma rápida. - Ele foi atacado por um animal pouco tempo antes do final das aulas. - A garota suspirou. - Que deus o tenha.

Concordo segurando a careta. Eu não acreditava em deus, mas sabia que mal e bem coexistiam.

Meus olhos foram além da garota encontrando a mesa onde o dono dos olhos felinos se encontravam. Minha testa se franziu quando vi a garota de cabelos curtos que eu acho que deve se chamar Alice e o aluno que esbarrei esses dias juntos com Jasper a mesa.

- Oh, os Cullen - Ângela tinha acompanhado meu olhar.

- Os Cullen? - Indaguei a olhando.

- Isso mesmo - Ela falou ainda mais animada do que antes. - Os Cullen foram adotados pelo Doutor Cullen e sua mulher, eles não são todos irmãos de sangue. - A garota me explicava. - Sabemos disso por conta de seus sobrenomes e também porque existe meio que uma panelinha entre eles.

Molho meus lábios sentindo minha boca seca. Eu não deveria demonstrar tanto interesse assim, é errado... Pedofilia, credo.

- Edward e Alice são gêmeos, Emmet é o irmão mais velho deles. - A garota continuou falando enquanto secava seus colegas. - Enquanto Rosalie, Jasper e Claire são irmãos com pouca diferença de idade, se não me engano, Jasper e Rosalie também são gêmeos.

Um incomodo se alastrava por minha barriga. Temos uma diferença de idade de o que, 7 anos? Não é tão ruim assim.

Porra, no que eu to pensando? Isso é crime.

Fiz careta negando com a cabeça antes de olhar Ângela.

- Depois conversamos, está bem? - Sorrio de forma breve para ela olhando seus olhos por de trás de seus óculos.

Um sorriso surge nos lábios da menina que concorda animadamente. 

Minha pele se arrepia e flashes surgem em minha mente, parecia que eu me sentia inspirada parta pintar. Eu via uma garota com as mãos sujas de vermelho rubro parada na frente de uma casa, parecia cena de filme de terror, mas daria uma boa pintura.

- Até logo, Ângela. - Digo olhando para ela uma última vez antes de dar as costas para ela mordendo minha maçã indo para fora do refeitório.

Parece estranho, mas tenho flashes de inspiração. Acontecem as vezes e de maneiras variadas, mas geralmente aparecem quando estou conversando com alguém. Então, eu guardo a ideia e pinto um quadro ou então faço um desenho. 

O engraçado, é que parecem visões ou então pedaços de um filme. Eu consigo visualizar nitidamente como vou fazer a pintura antes mesmo de ter os materiais em mãos.

No final do dia, estou parada em meu escritório com um quadro pintado pela metade em minha frente sobre o cavalete de madeira. Fico sentada em minha cadeira analisando minha produção até aquele momento. Ela parece falar comigo, se comunicar de alguma forma na qual eu posso sentir os sentimentos que quis passar com o balançar do pincel. 

Medo. Horror. Náusea.

Realmente, uma cena de filme de terror.

A tinta borrada em meus dedos começam a incomodar, queimando minha pele enquanto inclino a cabeça para o lado com meus olhos percorrendo o que parecia ser um rosto conhecido. Naquela tela, havia uma garota encarando suas mãos sujas, mas eu sentia que a reconhecia. 

Sirenes me assustam chamando minha atenção para a janela.

- O que? - Franzi minha testa pegando um pano sujo que estava sobre minha mesa.

Limpo meus dedos conforme me aproximo da janela vendo duas viaturas da policia da cidade passarem pela rua abaixo junto de uma ambulância. 

Aperto meus dedos ouvindo o som se distanciar rapidamente em meio ao escuro que caia por entre as árvores. O que será que aconteceu? 

Olho para o relógio que está em minha parede. Os ponteiros marcam seis horas da tarde.

- Espero que nenhum adolescente tenha feito besteira... - Suspiro e me viro para voltar a pintura.

Mas aquela sensação aparece. Aqueles olhos estão em mim, eu sinto.

Olho ao redor para desencargo de consciência e me vejo sozinha no cômodo. Volto para a janela e olho para o outro lado da rua, para o verde da floresta e me arrepio.

- Você está maluca Lizzie, pare de pensar coisas desse tipo. - Bufei comigo mesma e torci meu nariz fechando as cortinas.

Tenho que parar de assistir filmes de terror e séries de investigação. Eu fico paranoica com qualquer barulho, até mesmo com a geladeira ligando no meio da noite.


THE ART OF PAIN, Jasper Hale - HIATUS/SENDO REESCRITAOnde histórias criam vida. Descubra agora