Capítulo 1

1.1K 147 15
                                    

Boa Leitura.

Matteo Medina

Eu estaciono minha Mercedes no estacionamento do internato e saio do carro tapando os olhos devido ao sol da amanhã que atinge diretamente meus olhos. Eu observo várias meninas e adolescentes saindo da Abadia de Wycombe, um internato para meninas localizado na zona rural inglesa, nos limites da cidade de High Wycombe, em Buckinghamshire. O local é bonito e instantaneamente te faz lembrar do século 19. Mas o que realmente me chama a atenção são as árvores, lagos e grama. O ambiente aqui é sempre fresco e pacífico.

Como Ari sempre gostou de música, aqui me pareceu ser o melhor lugar para ela se dedicar ao seu hobby em paz. A cidade não me parecia certa para uma menina que acabou de perder a única família que ela tinha. Neste último um ano e meio, eu percebi pelas suas ligações que ela mudou muito. Ela não fala comigo como antes e parece sempre desinteressada sobre o futuro. Mas ainda assim ela é tão educada quanto era na infância. A última vez que a vi foi em seu aniversário de 17 anos, há 10 meses atrás. Eu vim para a Inglaterra somente para vê-la, pois sabia que ia ser difícil para ela passar o primeiro aniversário sem o pai. E realmente foi. Ela chorou no meu abraço por meia hora e em seguida pediu para dormir. Não quis comer nada, nem tirar fotos, muito menos se interessou pelos presentes. Meu coração doeu pela menina. Fiquei preocupado em deixá-la sozinha em outro país, mas logo me lembrei que não tenho como cuidar de uma adolescente. Eu tentei por alguns meses, mas tudo o que consegui foi ter uma adolescente trancada no quarto enquanto eu estava ocupado com minhas responsabilidades. Apesar de ter recebido a guarda de Ari, fiz um acordo com ela de que devolveria sua liberdade e tudo que a pertence no mesmo instante que ela completasse 18 anos. Ela pareceu aliviada, mas ao mesmo tempo preocupada com o arranjo de morar fora durante a transição, mas concordou porque sabia que seria o melhor para nós dois.

Ela é minha afilhada, a única filha do melhor amigo que já tive. Eu a vi crescer e estive presente em todos seus aniversários. Marcos teve uma filha com uma coreana em seu intercâmbio na Inglaterra quando tinha apenas 19 anos e a namorada, 18. Foi um caos naquela época. Seus pais ficaram furiosos, mas felizmente apoiaram a gravidez no final. Infelizmente o inesperado aconteceu e Ji-Ae morreu no parto devido à trombofilia. Ari sobreviveu para o alívio de Marcos no meio de tanta tristeza. Mesmo muito jovem, Marcos fez questão de cuidar ele mesmo da menina. Ele veio de uma família rica e teve ajuda nos primeiros anos, até que ele mesmo fizesse seu nome. Quando fui convidado para ser o padrinho de Ari quando nasceu, eu não imaginava que criaria um vínculo tão grande com a menina. Mas conforme eu a via crescendo, nossa relação se tornou muito próxima de um tio e sobrinha. Me tornar padrinho aos 18 anos não estava nos meus planos, mas foi uma das melhores coisas que me aconteceu.

Como Marcos me via como um irmão, ele me passou a guarda da filha em testamento antes de morrer com um câncer raro no pâncreas que o matou dois meses após a descoberta. Os avós paternos de Ari são muito bons para ela, mas são muito ocupados em suas próprias vidas como empresários. Ari nunca teve contato com a família materna, pois seus avós coreanos a enxergam como a causa da morte da mãe. Eles nunca aceitaram o fato de que a filha morreu devido a um fruto de um relacionamento com um estrangeiro. Ari diz não se importar com a exclusão da família, mas eu sei que isso não é verdade. Principalmente quando ela tem os cabelos escuros como da mãe, além do formato dos olhos, que é típico de uma coreana. Ela até pode ter olhos verdes e ser clara como o pai, mas ainda assim tem traços asiáticos. Esses detalhes só fazem a garota ter uma beleza única, um tipo de beleza inocente e juvenil. Ela sempre chama atenção por onde vai, mas não parece perceber.

Distraído em meus pensamentos, sou tirado do transe quando escuto a voz de Ari me chamar distante:

Padrino, padrino!

Apenas AfilhadaOnde histórias criam vida. Descubra agora