Boa leitura.
Ari Castillo
Dias se passaram e eu praticamente não vi Matteo, exceto de madrugada, quando sem querer eu o via acordado no escritório ao passar em frente para ir á cozinha. Acho incrível como ele aguenta ficar acordado de madrugada quando na verdade acorda cedo e trabalha o dia todo. Mas o que me intriga é que ele nem sempre foi assim. O Matteo que eu me lembro da infância tinha a vida bem organizada e sabia separar o trabalho da vida pessoal. Ele dormia cedo e comia alimentos saudáveis. Hoje, apesar de estar em boa forma e fazer exercícios físicos todos os dias, ele parece não se preocupar com o que está comendo e muito menos se está dormindo o suficiente. Às vezes sinto que ele só está tentando ocupar a mente o máximo possível. Talvez a morte do meu pai o tenha abalado mais do que ele deixou transparecer.
Matteo hoje é frio e indiferente quando está ao meu lado. Apesar de nunca ter dito em voz alta, eu realmente sinto falta do padrinho carinhoso e protetor que eu tinha antes de tudo isso acontecer. Sinto falta do abraço cuidadoso que ele me dava toda vez que eu entrava nesta casa. Sinto falta das cócegas que ele fazia em minha barriga quando eu pulava na piscina desajeitadamente. Mas sinto ainda mais falta dos beijos na testa e das histórias que ele inventava na hora de dormir. Um meio sorriso aparece em meu rosto quando me lembro que as histórias eram péssimas. Mas como era o padrinho que as contava, eu amava e sempre caía no sono, e então ele me cobria com o cobertor e apagava as luzes.
— O que aconteceu com a gente? Será que ele não me ama mais agora que cresci? — eu falo alto, sabendo que não tem ninguém além de mim.
Eu faço uma careta involuntária ao pensar nessa possibilidade e pego meu celular para checar as novas mensagens. É Camila, minha amiga desde sempre, me convidando para sair com os amigos de faculdade dela. Ela é um ano mais velha que eu e, quando fui para a Inglaterra, ela estava no último ano do ensino médio. Somos amigas de escola, mas nunca fomos colegas. Mas não foi preciso, porque sempre estivemos juntas, mesmo que por chamada de vídeo. Eu respondo a mensagem dizendo que talvez não é uma boa ideia eu sair com universitários porque geralmente eles bebem, e eu não sou de maior ainda. Ela nem mesmo me responde e ao invés disso me liga.
A voz aguda e mandona quase me surda quando ela exclama:
— Pare de agir como uma criança, Ari! Você vai fazer dezoito no mês que vem! Comece a agir como uma jovem agora, porque é o que você é!
— Eu não sou independente, você sabe disso. Não tem como eu me sentir como uma jovem adulta enquanto eu morar com meu padrinho.
Eu escuto minha amiga bufar do outro lado e até consigo imaginá-la revirando os olhos azuis.
— Convenhamos, né, amiga. Seu padrinho é um gostoso, mas um baita pé no saco. Não te deixa fazer absolutamente nada! Credo! Só ignora ele!
Eu sinto minha pele esquentar ao ouvi-la falar tão levianamente do meu padrinho e falo rapidamente:
— Prometo que mês que vem eu o ignoro. Mas agora não dá.
— Ah, não! Você não vai fazer isso comigo, Arianita! Eu já confirmei com meus amigos que você iria! Eles estão super ansiosos para te ver, você sabe o quanto eu falo de você para todo mundo.
— Isso é problema seu, Camila, desculpa! Eu não tenho como ir. Matteo pode chegar a qualquer momento e eu prometi que não sairia sem a permissão dele.
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Apenas Afilhada
ChickLitAri Castillo é uma jovem mestiça com sangue coreano e espanhol, que cresceu na Espanha devido à morte da mãe ainda no parto. Durante toda sua vida foi mimada por seu pai e cresceu protegida do mundo exterior em internatos católicos apenas para moças...