Capítulo 9 - Beijo roubado não se pede"

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Um barulho insistente se sobrepôs naquele cenário desconexo, onde as imagens que se formavam não faziam sentido algum deixando tudo ainda mais confuso.

Mikaela abriu os olhos de par em par e se passaram alguns segundos, até que ele se conscientizasse de que tudo não havia passado de um pesadelo, e que o barulho insistente nada mais era do que o despertador do radio relógio chamando-o incessantemente para enfrentar a rotina diária.

Ainda com os reflexos lentos ele esticou o braço pra desligar o despertador, precisou apenas desse mínimo esforço pra descobrir que cada centímetro do seu corpo doía demasiadamente!

"Ai, caralho!" - xingou quando finalmente tomou coragem pra se sentar no sofá cama.

Olhou em volta para a bagunça que tinha dominado seu diminuto quarto e as imagens da noite passada foram chegando aos poucos, brindando-o com o horror que ele já havia vivenciado. Ainda pra ajudar, parecia que tinha alguém invisível martelando sua cabeça, tamanha era a dor que ele estava sentindo em suas têmporas.

Desejou intensamente poder voltar para aquele breve momento antes de chegar a tocar na maçaneta do táxi, pensou que se pudesse ter mudado de ideia, o taxista ainda estaria vivo.

Mas era como dizia o velho ditado...Não adianta chorar pelo leite derramado.

Quem iria adivinhar que acabaria desse jeito? Desde o momento em que ele entrou naquele maldito táxi até o fatídico momento em que o taxista teve os miolos estourados por aquele cara suspeito!

Aquele cara...

Mika pensou no homem alto de aparecia cadavérica, perguntando a si mesmo o que ele fazia no casarão? Por quê estavam limpando todo o local, inclusive removendo os moveis e tudo o mais?

Xingou mentalmente querendo saber em que momento ele iria esquecer a imagem de horror, a cabeça estourada do taxista, que segundos antes conversava com ele normalmente!

É logico que ele limpou todo o vestígio de sua presença, eliminando principalmente qualquer impressão digital que ele pudesse ter deixado no console do carro ou até mesmo do lado de dentro e de fora da porta do passageiro. Tudo em prol do sucesso de seu disfarce!

Depois de se certificar que tudo estava ok, Mika andou feito um camelo fazendo o caminho de volta, passando inclusive em frente ao antigo casarão. Parando apenas pra avisar a policia através de uma ligação anônima de um telefone publico qualquer.

Nem sequer se questionou a respeito, pois era certinho demais pra deixar o pobre do taxista sem nenhum amparo da lei e de seus familiares.

Mikaela fechou os olhos e elevou as mãos, deslizando-as pelos cabelos...fez uma careta ao senti-los pegajosos.

Se levantou sentindo também seus pés doerem a cada passo que dava até o banheiro.

"Merda!"

Foi exatamente isso o que ele disse ao ver o seu reflexo no espelho, os cabelos emplastrados ainda levemente tingidos de uma cor rosácea...Rezou internamente pra que fosse só um restinho de sangue e se enfiou no chuveiro sem demora! Obviamente, o banho que ele tomou de madrugada não tinha sido muito eficaz, mas ele estava tão exausto que só queria cair no sofá e dormir.

A lembrança da imagem da massa encefálica do motorista espalhada pelo carro, fez seu estomago embrulhar! Mikaela chegou a arranhar a própria pele de tanto que ele se esfregava com a bucha. Respirou pela boca quando o jorro de água caiu com força sobre sua cabeça e seus ombros. Com os olhos ardendo ele pegou o frasco de shampoo, esvaziando-o quase que completamente sobre a cabeça, voltando a ensaboar tudo outra vez.

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