– Mira na cabeça do meu pau!
Ele arregaçou a glande toda para fora esticando a pele pela base. C. estava em posição de frango assado. Só esperou eu tirar de dentro de seu cu para relaxar as pernas e repetir o comando:
– Acerta essa jatada na cabeça do meu pau, filho da puta!
Eu tirei a camisinha olhando nos olhos dele. Soquei meu pau forte com as duas mãos me imaginando ainda dentro daquele cuzinho. O pau de C. ia explodir. Na verdade, a cabeça do pau dele parecia um enorme cogumelo. Me vinha sempre à mente o Mario, o Luigi, a Princesa e o pau de C., fazendo o papel de cogumelo, e a lembrança me ajudava a conter a gozada. Ele segurava aquele pau latejante pela base e empurrava em minha direção, apontando para o teto. Aquilo sempre me dava um tesão do caralho. Não sei quanto tempo eu resistiria. Quando senti o gozo vindo, puxei para trás toda a pele da minha rola com uma mão só, as veias do meu pau pulsavam, aceleradas. Contraí os músculos do ventre e relaxei de vez, fazendo meio litro de gala acertar a cabeça da rola de C. como um tiro à queima roupa, exatamente como ele havia pedido.
Mal terminei de gozar, sem qualquer movimento das mãos, ele começou a contorcer o quadril, e aquele pau de cabeça de cogumelo apontado para cima por pouco não leitou o teto do quarto.
– Que chuva de gala! – eu disse, sorrindo para ele.
– Olha, garoto de programa atirador de gala que nem você eu nunca conheci, mas tenho certeza que você também não tem outro cliente com tanta fartura de leite quanto eu.
– Você é único em tudo. – menti para C.
O fetiche de levar uma jatada de gala na cabeça do pau, bem ali no limite da glande e do freio da rola, isso era todo dele. Já gozadas mais fartas, essas eu vi muitas, as minhas, e as de diversos outros clientes.
É que eu não comecei ontem. São pelo menos 22 anos de prostituição. Profissionalmente, entre 20 e 21 anos de carreira. Antes disso, foi mais treino. Em 2024, completo 40 anos de idade. Sobre o que me manteve tanto tempo nesse trabalho? Eu diria que a honestidade. Fui, sempre, um garoto de programa honesto com meus clientes no limite de seus desejos. Se menti, foi sempre colocando, nos pratos de uma balança, a verdade, no outro, o prazer. Quando a invenção originava mais prazer, a invenção era a minha eleita. Quando fosse a verdade, eu iria com ela, mesmo que quase nunca isso acontecesse. A mesma técnica será empregada na narrativa de minhas memórias, podem minhas leitoras ficar calmas – vou chamar de leitoras mesmo, no feminino, porque descobri que esse tipo de literatura é muito mais consumida por mulheres, ao contrário do meu trabalho, que é enormemente mais requisitado por homens... casados.
Mas eu preciso voltar ao assunto da honestidade. Então, não pretendo enganar aqui qualquer leitora sobre os motivos que me levaram à escrita deste livro. E achei justo compartilhá-los de início.
Como havia dito, faço 40 anos este ano. Bom capricorniano que sou, tinha planejado toda a minha aposentadoria. Sempre vi os 40 como um momento emblemático, cabalístico. Como um atleta de alta performance ou uma apresentadora de programa infantil que testemunha o crescimento de seu público cativo, os 40 seriam o meu limite. Juntei pouco mais de 200 mil reais ao longo desse tempo. Tenho MEI, recolho o teto do INSS mensalmente, fiz cursos de massagem como complemento de meu trabalho, sem, entretanto, poder me dedicar com maior profundidade por conta da rotina de atendimentos. Pretendia me dedicar ao tantra por uns 6 meses de modo intensivo na Índia, retornar para Recife, abrir um spa, e seguir com a vida. Embora os planos ainda existam, o dinheiro se foi quase todo. A pandemia não só levou mainha. Os custos do hospital dela que o plano de saúde não cobriu esgotaram minha poupança. Os clientes ficaram raros e a vida de um garoto de programa de luxo não é das mais baratas. Hoje, deixei o bairro de Boa Viagem e moro em um flat em Piedade; estou numa academia popular, dispensei o personal; faltei às revisões com meu dentista; o meu barbeiro agora é outro; e não tenho mais dinheiro para terapia. Leitora, antes de me sugerir as plataformas de sexo online, um ou outro amigo já recorreu a elas, nenhum obtendo sucesso. A concorrência é grande e, convenhamos, o meu mundo é analógico.
A pandemia também já passou. Posso até dizer que a frequência de clientes já está normalizada. O fato é que os 40 estão batendo à porta e não será em um ano como garoto de programa que eu recuperarei os 200 mil reais poupados em 20 anos de profissão. Sim, é verdade, posso continuar me prostituindo por pelo menos mais 5 anos, talvez 10. E não teria problema nenhum com isso. Mas é que um sentimento de melancolia me invade quase diariamente às 5 da tarde, outras vezes, principalmente nos finais de semana, preenche inteiramente o sábado e o domingo, indo embora muito após o nascer do sol da segunda-feira. Então não sei se o problema é comigo ou com o compromisso que eu havia estabelecido para mim – estudar o tantra e abrir meu spa – parar aos 40.
Há perguntas que não conseguimos responder para nós mesmos. O fato é que anteontem, leitora, após minha sétima ou oitava sessão com C., que se diz escritor, e que diz estar escrevendo um livro sobre um protagonista garoto de programa, ainda que a maior parte de suas sessões sejam ocupadas por murros em suas costelas, enforcamento e golden shower, ele fez um comentário e uma pergunta tão ouvida por nós, garotos de programa, que, diferente de todas as outras vezes, permaneceu ecoando em meu juízo:
– Olha, você é muito bom no que faz. Não há dúvida. Muito experiente. Mas você não tem 34 anos como diz no site. Se você não passou dos 40, você está bem perto... Já pensou até quando você vai ficar nesse negócio?
– Até quando eu continuar fazendo um homem gozar como você goza comigo. – dei um beijo nele. A resposta era automática e ensaiada. A pergunta, extremamente previsível, me soou verdadeira pela primeira vez.
Despedi-me dele e me veio a ideia de escrever este livro. Ninguém melhor que eu para contar as memórias de um garoto de programa. Na realidade, minhas próprias memórias. Dando certo, é um negócio escalável. Quem sabe eu não recupere meu dinheiro perdido com essa publicação? Quem sabe minha história não ganha uma adaptação para a Netflix? Então voltamos à honestidade. O ponto de partida da escrita se deu pelo mesmo motivo que vendi orgasmo a minha vida inteira: por dinheiro. Só ao iniciar a escrita é que me recordei de minha antiga terapeuta, que me sugeria sempre que eu escrevesse sobre minhas experiências. Lembrei dela, bastante. E, agora, revisando este capítulo, mudando uma outra palavra, eliminando as repetições, imaginando os efeitos de sentido sobre minhas leitoras, lembrei dos cadernos do Doutor P.
O sexo nunca foi só por dinheiro. Talvez a escrita também não seja.
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Memórias de um GP
RomanceUm garoto de programa experiente planeja a aposentadoria por meio da escrita de suas memórias. Falido, o sucesso de seu livro é a tentativa de garantir sustento no futuro breve, mas também de revisitar o passado e fazer as pazes com personagens imp...