II

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02/11/1996
Deixei a porta do apartamento aberta assim que o porteiro me pediu autorização para liberar I. Pus-me então a mexer os copos no bar, organizar a posição do balde de gelo, para fingir que estava ocupado. Minha ansiedade era ver o elevador abrir e captar aquela primeira impressão do rosto dele. Toda primeira impressão é autêntica, muito diferente das seguintes. O barulho era sinal de que o elevador estacionara. Que homem! Era um menino, mas também vivia ali um homem, notava-se. Era espantosa a semelhança dele com o Enrique Iglesias. Tive de fingir neutralidade e tentar não criar expectativa, inconscientemente eu sentia que aquela memória se repetiria muitas vezes para mim: o elevador se abrindo, I. levantando o rosto, ensaiando um sorriso de canto de boca e me olhando de longe. Aquele homem de 1.90m, ombros largos, lábios desenhados, anunciava-me uma bela noite. Ele parou na entrada, deu boa noite e eu disse entre, fique à vontade. Fui até I. para fechar a porta. Ele me abraçou de imediato como se já nos conhecêssemos, uma mão repousou entre minhas escápulas, a outra deixou tocar gentilmente minha nuca e me cumprimentou com dois beijos, movendo cada lado de meu rosto para um selinho nas bochechas. No segundo beijo, I. cheirou meu pescoço e me disse no ouvido “parece que temos o mesmo gosto para perfume” e conduziu meu nariz para que eu sentisse o cheiro idêntico em seu pescoço: Eau pour Homme, Armani, repliquei. Ele me disse então que teríamos que descobrir nosso cheiro natural para não nos confundirmos. Informei que teríamos tempo para isso.

Fomos para o sofá. Ofereci uma bebida. Ele pediu água com gás. Abri uma perrier. Fui de whisky. Ele me puxou para mais perto, colocou meus pés sobre seu colo e riu um sorriso malicioso, perguntando se eu sempre usava sapato dentro de casa. Disse-lhe que só quando recebia alguém especial. I. me encarou e advogou que não poderia ser especial para mim ainda, mas que em breve se tornaria. Sem pedir autorização, desenlaçou meus cadarços e tirou-me os calçados. Encaixou a mão enorme por trás da batata de minha perna e enfiou-a por dentro da meia, removendo primeiro a direita, depois a esquerda. Meio constrangido e me sentindo invadido, ele me tocava como se já o tivesse feito antes, perguntei as pessoas não te dizem muito que você se parece com o Enrique Iglesias? Ele jogou um sorriso irônico para trás sem soltar os meus pés, que, a esse ponto, recebiam uma massagem sua. I. me contou que ouvia isso todos os dias e que, infelizmente, era péssimo cantor, mas que dançava  até melhor que ele. Rimos juntos. Então ele deslizou o meu pé esquerdo para mais perto de sua coxa. I. provocava o roçar de meu calcanhar no seu membro, aparentemente ereto, muito ereto. Ele alternava os meus pés em seu órgão como se tentasse me demonstrar o tamanho daquilo, fazendo cada pé deslizar da base até a ponta. Na glande, I. envolvia o meu pé inteiro com sua mão e fazia movimentos circulares do meu calcanhar sobre a glande. Minha respiração sem dúvida ficou mais forte. Descansei o copo de whisky na mesa lateral do sofá. I. me deitou no sofá, virando-se de frente para mim, pôs uma almofada em minha cabeça. De frente para mim, ele pegou meus dois pés e os guiou por seu membro, pressionando cada pé contra as laterais daquele tronco rígido. I. ergueu o meu pé esquerdo e chupou cada dedo. Um por um. Enquanto isso, sua mão esquerda fazia meu pé direito acariciar sua genitália. Depois, ele distribuiu beijos e mordidas leves em meus dois pés, suspendeu um pouco minhas pernas e reclinou-se sobre mim, fazendo-me sentir aquele órgão pesado entre meus testículos e ânus. I. resvalava seu pênis contra meu períneo. Ora fazia movimentos circulares, ora simulava uma penetração. Tudo isso olhando-me nos olhos. Eu não estava mais em lugar nenhum. O sexo era um lugar e o tempo e o espaço haviam se convertido naquele momento, naquela experiência. I. se aproximou de meu rosto e chupou uma orelha, assoprou meu pescoço, ensaiou um beijo na minha boca por três vezes até morder meu lábio superior, deslizar sua língua nos meus lábios e finalmente enfiá-la toda em minha boca. “Agora eu vou te comer”, ele sussurrou. Eu assenti que sim. Não queria falar nada. Não haveria palavra suficiente. Ele tirou a camisa e deve ter percebido minha reação. I. era mais bonito que o Enrique Iglesias. Ele tinha um dorso de nadador, os músculos abdominais completamente visíveis e as entradas laterais muito marcantes. I. não parecia real. Ele abriu minha camisa de uma só vez com brutalidade, fazendo voar alguns botões. Sua boca foi rápida em direção aos meus mamilos. Para mim, foi como se fizera sexo oral. Com gentileza, fez-me levantar do sofá e ficar de pé. I. estava sentado em minha frente, pernas abertas, eu cabia entre suas pernas. Ele desabotoou minha calça e sacou-a junto com minha cueca. Eu já estava completamente excitado. Ele recolheu minha cueca no chão, cheirou longamente, e me disse “então esse é seu cheiro natural?!”. I. beijou minha glande. Pôs toda a glande na boca e brincou com a língua. Ele repousava a língua na parte inferior da glande e fazia movimentos rápidos com a língua para um lado e para o outro. Uma mão mantinha segurando um lado de minha bunda ou então acariciando meu ânus, com a outra mão ele alternava toques no meu órgão e no meu peito. Sua boca foi engolindo meu membro até ele me ter completamente dentro dela. Afastei-me rapidamente. Ele perguntou se tinha me machucado. Eu lhe disse não, de forma alguma, mas se você continuar com isso, vou gozar agora. Ele me falou que ainda não era ocasião. I. se desfez de sua calça devagar, deixando-me observar tudo. Manteve-se de cueca. Era impressionante a beleza e o tamanho daquele pênis, daquele homem, o desenho de suas coxas, a firmeza daquelas panturrilhas. Acho que até os joelhos dele eram bonitos. I. segurou minha mão e a levou a seu órgão. A impressão é de que a qualquer momento aquela cueca rasgaria. Segurando minhas duas mãos, ele as guiou para cada lateral da cueca e as desceu vagarosamente. Aos poucos vi aquilo saltar. Era um pênis sólido, grosso, grande. Toda a minha existência cabia ali, viver para aquele dia, para encontrar aquele homem, esse mistério que o bom sexo opera sobre o ser humano. Eu já havia visto muitos homens nus. Eu sabia que, naquela noite, eu não estava diante da regra, mas de uma exceção. I. tem essa beleza, talvez a beleza em si, que enche o espírito de satisfação, uma beleza contemplativa. Senti, frente a frente com aquele homem, algo semelhante ao que sentira quando vira o Davi de Michelangelo pela primeira vez. A diferença é que não pude tocar no Davi. I. era muito mais que Davi. Não era só uma obra-prima que me permitia o toque. I. não era uma escultura. Ele estava mais para uma performance artística, dessas que só acontecem e tomam vida na interação com o público. O meu desejo era o seu combustível. I. parecia me desejar como se eu tivesse os seus mesmos atributos e fosse tão extraordinário quanto ele. O sexo com I. era uma forma de expressão artística.

Beijei aquele pênis muitas vezes antes de colocá-lo na boca. Por inteiro, não seria possível. Tomei coragem e com a boca pouco afastada de seu órgão, olhando nos seus olhos, pedi a ele por favor me coma. I. riu apenas com os lábios, escondendo os dentes, pediu-me camisinha e lubrificante. Abri a gaveta da mesa lateral. Dei-lhe camisinha. Ele questionou mais uma vez sobre o lubrificante. Eu disse que não seria necessário. I. mordeu os lábios. Ele me virou de costas, afastou cada lado de minhas nádegas com as mãos e enfiou sua língua quente e áspera em meu ânus. Eu tinha espasmos enquanto ele punha e retirava a língua, às vezes mordendo a polpa de minha bunda. I. voltou-me novamente de frente, pôs a camisinha me olhando nos olhos e pediu para eu sentar em seu colo. Ele deixou as costas descansarem no encosto do sofá e pediu para eu sentar no meu tempo. I. deixou as mãos no meu quadril, como que para ajustar a melhor inclinação. Eu coloquei as mãos em seu peito, sem conseguir preencher minhas mãos completamente.  

Não houve dor. Também não houve pressa. Assim que I. sentiu que já estava todo dentro de mim e que eu estava confortável o suficiente, segurou-me pelas pernas e me ergueu em seus braços continuando a penetração. I. me levou para a mesa de jantar, me deitou sobre ela sem tirar aquele membro rígido de dentro. Ele me beijou e me disse “agora sim você vai me conhecer”. I. me penetrou de todas as formas, ora lento, sacando todo o seu pênis para fora e enfiando-o de vez, ora rápido, sem me dar qualquer tempo de reação. Outras vezes ele parava e contraía seu membro, deixando-me sentir o latejar daquele órgão pulsante. Nessas horas, I. segurava o meu pênis e me masturbava. Tentei lhe dizer que eu estava muito perto, que ficaria a noite inteira, a vida inteira, preso ali, naquele momento, tudo o que consegui dizer foi vou gozar e o gozo brotou quase instantaneamente sobre minha barriga e meu peito. Urrei de prazer. Imediatamente após, I. saiu de dentro de mim, arrancou a camisinha e sobre o meu gozo, despejou o seu líquido viscoso. Ele deitou-se ao meu lado na mesa de mármore, herança de minha avó. Olhou-me nos olhos e disse “você é muito bonito” e me deu um beijo na boca. Ficamos calados olhando um ao outro por alguns minutos. Finalmente, pedi sua ajuda para me levantar da mesa.

Tomamos banho juntos. Jantamos. Conversamos sobre seu intercâmbio na Europa, sobre o plano real, e sobre o álbum do Enrique Iglesias, claro. Sua visita me custaria 140 reais. Paguei 280. Pensei em convidá-lo para dormir, mas era demais para uma primeira vez. Disse-lhe gostaria de vê-lo de novo. Ele me contestou que adoraria repetir o que tivemos. E se foi.    

Memórias de um GPOnde histórias criam vida. Descubra agora