Prólogo

504 51 20
                                    

Ao traçar um destino, certifique-se que não há lacunas que podem vir a mudar todo um futuro.


133 d.c

Todos em Porto Real partilhavam da mesma alegria naquele momento, enfim havia chegado o décimo oitavo dia do nome de Lucerys Velaryon, mas se enganava quem tinha em mente que aquilo era amor pelo garoto, muito pelo contrário, era apenas interesse sobre a pobre criança. Fazia séculos que um omega não agraciada a casa Targaryen, séculos que eles pagam penitência perante aos deuses, mas desde do nascimento de Lucerys aquilo havia mudado, todos sabiam que o pequeno bebê de bochechas rosadas seria especial, só não sabiam que nele seriam depositadas todas as esperanças da dinastia Targaryen, que todos os homens variam nele uma forma de recuperarem sua fama de adorados pelos deuses.

Todos os dias do nome de Lucerys eram comemorados com enorme alegria, infelizmente era apenas pelos Targaryen e seus adoradores, Lucerys não fazia parte dos Targaryen que comemoravam, muito pelo contrário, ele abominava toda aquele exagero, nenhum deles fazia questão de esconder como estavam contentando os dias para que enfim ele completasse dezoito anos. Muitas vezes, trancado sozinho em seu quarto, Lucerys pensava no que sua vida se tornaria depois de completar dezoito anos, todos os pensamentos terminavam de maneira horrível para ele, o que fazia com que o garoto considerasse sua única salvação daquilo tudo, mas não, ele não faria aquilo com a mãe, então apenas aguentava tudo em silêncio e forçava sorrisos sempre que alguém perguntava se ele estava ansioso. 

Do jardim, Lucerys observava toda a movimentação dos criados com tédio, alguns até se arriscaram em mandar sorrisos para o jovem omega, mas o mesmo ignoravam ou fazia careta, ele não estava no humor natural naquele momento, então os criados passaram em silêncio quando perceberam que naquele momento não era o doce Lucerys que estava ali, mas sim o Lucerys amargurado que poucos conheciam. Lucerys observou com interesse quando alguns alfas passaram carregando enormes manequins, ele sabia que todos eram usados para treinos e se estavam sendo levados para o pátio exterior, era porque haveria competições, em primeiro momento Lucerys se alegrou com aquilo, mas logo suspirou sabendo que aquilo seria para os alfas que tentariam impressioná-lo.

— Todos estão a sua procura, sobrinho — Lucerys desviou sua atenção dos criados para a pessoa que falou consigo, Aemond estava parado ao seu lado, o alfa estava com as mãos cruzadas atrás do corpo, enquanto olhava de forma séria para o sobrinho, normalmente Lucerys se perguntava se aquele tapa-olho era o que deixava Aemond tão sério. 

— Para tirar medidas eu suponho — murmura relaxando no banco de madeira e descansa sua cabeça nele, enquanto olhava para o tio. 

— Sua suposição foi certeira, Rhaenyra já lhe procurou por todos os cômodos desse castelo.

— Hmm…

Lucerys continuou a observar o tio, aquilo era quase como algo magnético, era impossível desviar os olhos de Aemond quando se olhava pela primeira vez, mas Lucerys fazia como forma de punição, ele sempre olhava atentamente para o rosto do tio, para lembrar a si mesmo que o causador daquela cicatriz foi ele, mesmo Aemond ignorando aquele assunto, Lucerys se culpava, não importava quantas vezes Aemond falasse que estava tudo bem.

— Você está fazendo de novo — Aemond resmungou tirando Lucerys de seus devaneios. 

— Perdão — suspira levantando. — Bem, tenho que ir acalmar minha querida mãe — sorri fraco parando ao lado do tio e olha atentamente para ele. — Você poderia me salvar disso — sussurra baixinho. — Assim eu teria certeza que não me odeia…

Lucerys saiu deixando Aemond estático com suas palavras, ele sabia que o tio não faria nada, mas não custava tentar. Durante seu trajeto até o quarto, Lucerys estava inquieto, seus dedos sofriam com aquilo, envolta de suas unhas estava em carne viva, era uma forma discreta de descontar suas frustrações e ele se sentia no controle fazendo aquilo, quando entrou no quarto, sua mãe e algumas criadas já estavam lá, ele apenas suspirou se deixando ser arrastado para aquilo. 

O  ômega se manteve em silêncio durante todo o trabalho das criadas, nem mesmo falava quando elas perguntavam algo, logo todos entenderam que ele não estava bem e continuaram a trabalhar em silêncio, Lucerys conseguia sentir o olhar da mãe em si, mas ignorou, ele não queria falar com ela, então optou por ficar quieto e de cabeça baixa, mas isso só durou até as criadas saírem deixando mãe e filho.

— Luc-

— Não — murmurou levantando a cabeça para olhar para a mãe. — Não quero conversar agora.

— Precisamos conversar, filho — Rhaenyra suspirou sentindo dor ao ser tratada daquela forma pelo filho.

— Já falei que não! — grita fazendo a mais velha dar alguns passos para trás, ele suspirou assim que percebeu o que fez. — Por favor… só quero ficar sozinho…

Rhaenyra suspirou olhando para o filho com pesar, doía nela a forma como Lucerys vinha encarando aquilo tudo, mas o mesmo estava no direito de agir como bem quisesse. — Tudo bem… até o jantar.

Lucerys ficou aliviada assim que ela não demorou a sair, restando ao ômega apenas todo o silêncio que aquele quarto lhe proporciona. Lucerys trancou a porta e em seguida seguiu para a sacada, estava quase chegando no final da tarde, logo todos iriam se recolher para jantar e em seguida dormir, mas aquele era um dos momentos que ele torcia para o tempo congelar.

Poderia parecer exagero está lidando com tudo daquela forma, mas para Lucerys nao era, desde que se descobriu omega ao doze anos, seu destino foi traçado, ele seria usado como moeda de troca e em seguida como propagando de uma ditadura que seu avô queria impor aos reinos que se recusaram a curvar-se a família Targaryen, aquilo ia contra tudo que Lucerys prezava, ele era uma pessoa, um ser humano e não queria viver daquela forma, não queria impor pessoas inocentes a soberba e ganância dos Targaryen, não queria ter que viver em um casamento político e pior, não queria ser apenas um omega parideiro, Lucerys sabia que aquele era um dos motivos do castigo que caiu sobre os Targaryens, eles não sabiam cuidar de seus ômegas e pagaram durante séculos por isso e nem mesmo assim aprenderam.

Sentado no canto do quarto, com os joelhos pressionados fortemente contra o peito, Lucerys fechou os olhos e rogou aos deuses, implorou para que ele fosse salvo daquele destino, implorou para que não terminasse como os ômegas das antigas histórias e por último implorou que sua partida não fosse tão sentida por aqueles que ele amava, ele só queria ser livre daquilo tudo, porque em seus ombros estava o peso de todas os ômegas que morreram pela ganância dos Targaryens. Quando abriu os olhos, Lucerys percebeu que sua oração foi atendida mais rápido do que ele imaginava, o que outrora era seu quarto, agora era um completo vazio, um vazio escuro e nebuloso, mas não faltava luz, parada em sua frente e vestindo cores da casa Targaryen, estava uma linda mulher de cabelos platinados.

Já em Porto Real, a porta do quarto de Lucerys foi derrubada por Criston e Daemon, toda a família havia notado o desaparecimento do omega durante o jantar e quando foram avisados pelas criadas que a porta do mesmo estava trancada, Rhaenyra entrou em desespero, ela lembrava vividamente o que a última omega da família Targaryen fez para não se casa, então a mesma ordenou que derrubassem a porta do quarto do filho e ficou aliviada por não ter a visão do corpo dele estendido na cama, mas ficou confusa quando não o encontraram em lugar nenhum do cômodo.

— Encontrem Lucerys! — Viserys ordenou bruscamente e ninguém contestou antes de sair do quarto, Rhaenyra os seguiu rapidamente temendo o pior e em seguida o rei e a rainha saíram do cômodo, sobrando apenas Aemond, Aegon e Jacaerys ali, os três estavam parados na sacada que Lucerys costumava ficar.

— Acham que ele fugiu? — Jacaerys sussurrou baixinho olhando para as colinas.

— Não, Arax ainda está aqui — Aegon comentou apontando para o dragão que estava no pátio, eles haviam mantido Arax ali para evitar que Lucerys fugisse.

— Ele ainda está vivo — Aemond disse assim que sentiu o olhar nervoso de Jacaerys sobre si. — Vamos procurá-lo. 

— E o condenar a esse inferno? —  o alfa mais novo perguntou olhando para o tio.

— Não — o caolho negou abrindo um sorriso. — Me casarei com Lucerys, ele não terá que viver nesse inferno — diz dando as costas para os dois.

E então o dia do nome de Lucerys chegou, mas nem sinal do ômega, ele havia evaporado, deixando todos de mãos atadas, não havia sinal dele em lugar nenhum, mas Rhaenyra insistiu com as buscas em todos os lugares, isso durou mais de um ano, as buscas só pararam quando Joffrey implorou para que a mãe parasse de se punir, então o desaparecimento de Lucerys Velaryon se tornou um tabu em Porto Real. 

The Great Last Dynasty Targaryen Onde histórias criam vida. Descubra agora