Capítulo 1 - Azul Celeste

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O domingo, primeiro da semana, é conhecido internacionalmente como o dia do ócio, em que todos os cidadãos trabalhadores recuperam as energias extraídas por toda a correria que a semana lhes proporciona. Domingos são dias destinados para o descanso, entretanto, essa máxima não se refere aos católicos. Para os católicos, domingo não é um dia relacionado apenas ao descanso, mas também é consagrado à oração e à espiritualidade, e as igrejas católicas, por sua vez, se enchem de fiéis adoradores para aprender lições bíblicas e celebrar o tão importante sacrifício de Jesus Cristo, na Missa de Domingo.

A igreja do convento de Saint Peter, em Rawcliffe, era grande e bonita, de paredes em creme com detalhes dourados, com um belíssimo altar constituído por três bancos de madeira escuros com estofados brancos. Nas duas extremidades do altar, havia dois grandes vasos dourados com flores da estação, e na parte de trás, estava pendurado no alto, a imagem de Jesus crucificado. O teto da igreja era composto por pinturas de anjos, santos e passagens bíblicas feitas à mão, além de lustres ornamentais deslumbrantes. Os bancos da igreja eram de madeira e envernizados, com enfeites de flores e candelabros nas pontas.

Os preparativos para a missa começavam cedo, e todos do convento eram obrigados a se levantar às 4 da manhã, para que no momento em que desse 7:30, os portões fossem abertos para a chegada dos fiéis. As preparações para a missa envolviam lavar as escadas, limpar os bancos, limpar a igreja, arrumar os ornamentos do altar, preparar as hóstias, e além destes, tinha também o trabalho de fazer as comidas para os mais necessitados que iam para a porta da igreja pedir por esmolas. Haviam também os trabalhos que eram ainda mais pesados, e estes infelizmente, sempre sobravam para James. James era um aspirante a padre, que estava sempre a disposição de qualquer um que precisasse de sua ajuda. James realizava muitas tarefas diferentes em um dia só, e a grande maioria delas não eram de fato obrigações dele, mas segundo ele mesmo, o bem estar do convento era a sua principal responsabilidade.

James M. Cohen, um jovem rapaz alto de apenas 20 anos, que possuía cabelos loiros, olhos azuis acinzentados, e um sorriso inegavelmente másculo, além de ter um corpo vigoroso e forte. Ele era um bebê órfão que foi adotado e criado no convento de Saint Peter, por seu tio, padre John, que tinha apenas 30 anos quando ele nasceu, e cabelos ruivos que ainda não haviam ficado completamente grisalhos. Sua aparência não era tão semelhante a de seu tio, exceto por seu queixo bem marcado e os seus olhos pequenos e puxados. O rapaz era famoso em Iorque, principalmente entre as moças (e talvez até entre as senhoras), por causa de sua aparência e de seu modo bondoso e brejeiro de ser, entretanto era demasiadamente fechado, não se misturava com outros conventuais, e não possuía nenhum amigo, somente alguns colegas, mas nenhum deles era próximo de fato, nem mesmo o seu tio John.

James era devoto ao convento e muito esforçado para com as pessoas ao seu redor. Ele se recusava a aceitar ajuda, mas sempre estava lá quando os outros precisavam, e além de tudo, alguns pequenos esforços não eram tão sacrificantes quanto pareciam, digo, talvez fossem sacrificantes de fato, mas aquela pobre criança desejava receber atenção, por mais que ele jamais admita isso em voz alta. James queria ser apreciado, e se o preço da apreciação era uma leve dor nos ombros e seu nariz escorrendo por causa da grande quantidade de poeira que encontrou nos lustres, então o esforço valeria a pena.

- Ei! - gritou uma freira de mais idade, entrando no salão - James, o padre John está perguntando se você já terminou o esboço do discurso de hoje.

Esboço coisa alguma, era literalmente o discurso inteiro.

- Irmã Annabeth! - James estava de pé no último degrau de uma escada de madeira, apoiada em uma viga de madeira na horizontal, utilizada para amarrar os lustres - Que alegria em vê-la! Por favor, jogue para mim este espanador que caiu no chão.

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