Capítulo 3 - Corte as asas do Anjo

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- Então, o senhor está me dizendo que os acompanhou numa volta por todo o condado, apenas porque eles são novos na cidade, e não porque eles são nobres? - perguntou James, provocativamente enquanto carregava uma pilha de livros.

- Há algum motivo para que eu permita que o tolo do meu sobrinho continue me insultando? - perguntou o padre, olhando em volta da sala como se estivesse falando com alguém que não fosse James.

Já era final da tarde, e James e seu tio estavam na biblioteca da igreja limpando pergaminhos e organizando livros. Ele tentou se manter concentrado na limpeza, mas sua curiosidade o impediu de manter a língua dentro da boca. O assunto em questão era a grande generosidade que o seu tio demonstrou para os Forks naquela manhã - e na grande parte da tarde. Ele duvidava que os tivesse tratado daquela maneira apenas porque eles eram novos na cidade. Na sua opinião particular, o padre Cohen estava mais interessado no dízimo gordo deles do que em qualquer outra coisa, pois conhecia o seu tio, e ele nunca dava ponto sem nó.

-Tio...

- Eu já lhe expliquei diversas vezes! - o padre já estava demonstrando sinais claros de impaciência - É dever do padre cuidar de cada um de seus fiéis! Não tenho culpa de que certas pessoas tenham mentes maliciosas - se referiu ao próprio sobrinho e se virou para organizar os livros em uma prateleira.

- Chama aquilo de cuidar?! - se inclinou para ficar da altura de seu tio - O senhor literalmente percorreu a cidade inteira, e fez um exímio passeio com direito a sorvetes e uma peça de teatro.

O padre se limitou a responder com "Humpf" e se dirigiu até a parte de cima da biblioteca batendo os pés bem alto na escada para abafar o som da voz de James.

-Tio! - ele subia a escada logo atrás dele - A última vez que fez isso foi no meu aniversário de 8 anos!

-Garoto! - bradou o padre tentando controlar o impulso de amordaçar James - Pare de me encher com esses idiotices! Minha consciência está perfeitamente limpa! Se quiser continuar questionando minhas ações como padre, eu sugiro que faça apenas em sua mente, ou então eu mesmo darei um jeito de calar a sua boca!

James fez uma expressão assustada, se afastou um passo do padre após aquele grito e se voltou para uma prateleira fingindo organizá-la.

Pela primeira vez naquela tarde, o silêncio ecoou naquela sala, e na cabeça do padre, James finalmente tinha calado a boca.

-Mas tio...

James não havia se calado.

- Se é para cuidar de cada um dos fiéis... - questionou baixinho e cínico - por que o senhor não levou junto com vocês o mendigo que está todos os dias na porta do templo para passear com vocês? Não conheço ninguém tão fiel quanto...

O padre andou rapidamente na direção de James, batendo os pés no chão, para dar um cascudo em sua cabeça.

-Seu moleque! - ele tentou desferir o golpe disciplinar.

- Opa! - James desviou da disciplina.

O padre perdeu o controle de sua velocidade, e cambaleou até se bater com os manuscritos à frente e cair no chão de quatro. James estava dando a sua vida para conter a espalhafatosa gargalhada que gostaria de dar naquele momento, mas mesmo com as duas mãos na boca, algumas risadas abafadas saíram sem querer.

- Tio - disse com uma mão na boca, andando até o padre e desviando dos livros no chão -, o senhor se machucou?

A única coisa que ouviu o seu tio responder, foram alguns murmúrios sobre "empurrar" e o "rio Tâmisa".

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