Capítulo 1

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Meu coração parecia explodir, o ar me faltava e meus pulmões ardiam, eu estava em apuros, ah sim, estava e não via como conseguiria sair desta situação.

Na pior hipótese eu seria desintegrada pela compressão do ar, e na melhor o Guirt a minha frente permitiria minha passagem na fenda e eu o mataria lentamente, bom não era tão fácil matar um Guirt, mas séculos de prática me renderia alguma vantagem.

Ele me olhou fixamente, e nos olhos daquela criatura humanoide não havia nada que não o próprio vazio, de uma cor leitosa os olhos quase se igualava a cor de sua pele, não fosse pelos tons cintilantes que refletido a luz apareciam no couro branco.

Em minha mente ouvi suas palavras em uma voz melodiosa e suave e tão bela:

- Eu a deixo passar e você me conta o que quer e vai embora sem me ferir ou a mato agora- Ah ele sabia, mas como poderia? Minha mente sempre foi muito bem vedada, ele não tinha como saber, a não ser que alguém o tenha avisado sobre minha chegada, mas quem? Quem sabia que eu iria até aquela fenda naquele exato espaço tempo? Bom, no momento não importava, minha vida dependia dessa promessa e veja bem, Bruxas não costumam quebrar suas promessas e disso todos os seres sabem.

Muita coisa se passava em minha mente naquele momento, eu tinha tanto a fazer, mas primeiro eu precisava concordar com a promessa, ou com um estalar de dedos ele me deixaria presa até eu me desintegrar. Com um pensamento transmiti uma afirmação, já que eu nem detinha o controle sobre minha boca.

Em um segundo eu estava presa, em outro ar entrava em meus pulmões e eu ofegava descontroladamente, me sentia fraca e um pouco tonta, mal consegui ficar de pé, o que me resultou a um tombo vergonhoso.

- Pensei que as Bruxas fossem mais fortes, ao que parece eu estava enganada.

Pensei em rebater, veja, eu sou forte, qualquer outro não teria suportado a pressão, mas quando abri a boca apenas um resmungo saiu.

- Vou esperar que se recomponha, não tenho interesse em conversar com alguém jogado ao chão.

Ela devia estar bem segura de minha promessa, pois ninguém nunca ousou falar comigo desta forma, não que tenha vivido para uma segunda vez tentar.

- Eu recebi informações de que você estava a caminho, por isso eu estava preparada e consegui lhe prender. Antes que perca tempo tentando imaginar quem possa tê-la traído, vou lhe poupar o esforço.

Não poderia ser verdade, não, não, não, não.....

Eu estava em choque, não conseguia respirar e minha cabeça doía, por um momento acreditei que talvez a GUIRT poderia ter me prendido de novo, mas eu estava presa nas minhas próprias emoções, eles não poderiam estar todos mortos...

Minhas memórias sobre as sequência dos fatos são embasadas, talvez fossem lágrimas que escorriam em meu gosto, ou possa ter começado a chover, mas como eu saberia? Eu não chorava a séculos, e o último choro que me lembro foi de felicidade por ter me formado na academia e recebido a maior idade, mas a angústia, a dor em meu peito era um sentimento estranho, amargo, minha garganta se fechou e eu não conseguia falar, tentei erguer o rosto e talvez eu devesse estar com uma cara realmente assustadora pois a Guirt deu alguns passos para trás.

Mais uma vez tentei me levantar, apoiei minhas mãos ao chão de pedras cinzas e lisas, mas fracassei, tremores irradiavam por todo meu corpo e soluços me escapavam, Céus eu estava aos prantos na frente de uma maldita Guirt, que vergonhoso...

- Peço desculpas por ter entregado a notícia desta forma, eu deveria ter mais empatia, no entanto já faz algum tempo que venho esperando sua chegada e acredito que agora que sabe dos fatos, queira partir.

Minha única reação foi ter conseguido movimentar meu rosto em um sinal de afirmação, mas eu não deveria partir sem antes ter concluído minha tarefa, tinha coisas a fazer, mas.. mas..

- Sou a guardiã desta fenda, e posso te mandar para qualquer outra onde sua presença já seja conhecida e aprovada, portanto, peço que pense em uma e que feche seus olhos, que a mandarei para lá em um segundo.

Fechei meus olhos o mais forte que pude e esperei pelo grande puxão em minha alma, mas nada senti, e com aquela voz doce e sobrenaturalmente linda a Guirt me disse:

- Busque a última gota de seu sangue e a proteja com sua vida, virão tempos sombrios e esta gota será nossa salvação, espero que fique bem Aurora.

E antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, o puxão foi dado e em um instante escuridão tomou conta de mim.

Talvez eu pudesse ter sonhado tudo, isso, foi apenas um sonho ruim.

Quando abri os olhos a escuridão ainda tomava conta de minha visão, mas não como antes, não apenas na travessia pela fenda e no pequeno quarto da simples estalagem em Bel Mork, mas sim totalmente dentro de mim.

Consegui reunir forças o suficiente para conjurar a luz da lamparina que iluminava o quarto, e a luz fraca e vacilante que surgiu foi o suficiente para que eu percebesse que não poderia ter sido um sonho. A cama ainda estava arrumada como eu havia deixado antes de partir, o grande espelho a minha frente me mostrou o habitual capuz negro que me cobria totalmente, e talvez eu não tenha reparado na força com que eu serrava meu punho esquerdo, mas a ardência das unhas contra a pele chamou minha atenção, e quando olhei, uma pedrinha cinza e lisa estava aninhada ali, e neste momento eu desabei.

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