Time dos Sonhos

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"O começo é a metade do todo."

Platão

Não sou a maior entusiasta de sistemas governamentais.

Sinceramente? Sou uma das suas maiores céticas, por assim dizer. Foi por este motivo que, ao invés de sonhar em dedicar minhas habilidades em algo mais honroso, como a medicina ou o corpo de bombeiros. Eu decidi que, entrar na mente de psicopatas sem uma única gota de empatia pela humanidade de maneira geral e compreender seu modo de agir, seria a melhor utilização das minhas ditas, "habilidades" psicológicas.

O que, agora, aqui, nesta caixa metálica sem nem ao menos um pouquinho de bossa nova para relaxar, começo a questionar os motivos que me levaram até aqui.

Eu poderia estar do outro lado do mundo, descobrindo a cura para doenças autoimunes ou desenvolvendo foguetes para chegarem em uma nova terra, mas, não. Estou aqui, prestes a ser testada e avaliada novamente por um monte de homens, falocêntricos que, acreditam ser o suprassumo da inteligência do mundo. Talvez, quem sabe, meu pai tinha razão, eu tenho um gosto pela tortura ou desgaste mental que estas situações me causam. Parece uma explicação plausível!

As portas se abriram, revelando uma sala movimentada, não tão grande quanto eu esperava que fosse, mas careta o suficiente para se encaixar aos padrões do FBI. Dois passos para fora do elevador, me deram uma visão perfeita da sala do chefe de departamento e também, de um grupo específico do que julguem serem agentes, aglomerados em uma única mesa me observando nada discretamente. Me senti um panda no zoológico, quando será que me jogaram um pedacinho de bambu?

Desviei meu olhar do grupo, rumei para meu objetivo final.

Parei em frente a porta, vestindo minha máscara imaginária de mulher ultra confiante e segura, dando três batidas ritmadas na porta de Aaron Hotchner.

— Entre. — Seu tom taciturno ecoou através da porta, ao que obedeci sem hesitação.

— Senhor? — "Senhor"? Jura, ele é o que, o mestre dos magos por acaso? Maldito seja esse comportamento militarizado que a academia grava em nossas mentes.

— Só Hotchner, é suficiente. Sente-se, por favor.

— Sim, senhor. — No instante em que fechei a boca, senti vontade de me jogar pela janela. Mas, ao invés disso, sorri timidamente, indo sentar-me a sua frente.

— Você tem muitas indicações, boa formação e notas excelentes na academia. Apesar do atraso para se formar na academia! — Seu tom discreto, mas desconfiado, me fez sorrir de lado educadamente. De fato, Hotchner era bom no que fazia, provou isso enquanto tentava me perfilar nesta entrevista.

— Problemas pessoais. — Sei que, ele sabe o real motivo do meu atraso para me tornar agente federal. Esse cara, basicamente, escreveu o manual de regras que aprendi a usar na academia, mentir para ele não seria de bom-tom, certamente. Por isso, achei que omitir alguns detalhes me renderia menos explicações.

Ele acenou positivamente, sem me encarar, folheando lentamente meus arquivos a sua frente.

— Deve saber que, Strauss é uma oposição confessa ao seu ingresso na UAC? — Pontou calmamente, como quem fala sobre assuntos banais do dia a dia e não do que poderia vir a ser minha carreira profissional inteira.

— Sim, senhor. Não é somente ela, se me recordo bem!

— E você está bem com isso? Vai conseguir trabalhar, sabendo que, qualquer mínimo deslize pode acarretar na sua demissão ou transferência? — Desta vez, seu olhar frio encontrou o meu.

Vermelho Sangue (Spencer Reid)Onde histórias criam vida. Descubra agora