#2: Nada ficou no lugar.

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BJH


O ar gélido de Seoul invadia meus sentidos, tornando tudo estranhamente familiar. Nasci e vivi grande parte da minha vida aqui, mas me acostumei muito rápido com o padrão de vida americano. A oportunidade de emprego ter surgido aqui era, no mínimo, uma coincidência muito engraçada. Meu peito aperta de saudade dos meus tios, primos, amigos e, ah, de Seulgi. Minha Seul, nunca fiquei tanto tempo longe da minha melhor amiga. Nos conhecíamos tanto, mas agora parece que somos duas estranhas... tomara que eu esteja errada.

(...)

Depois de quase matar Seul com minhas cosquinhas, ela se recompõe e decide ir até a cozinha para preparar algo para mim. Com isso, minha atenção finalmente se situa na ambientação de sua casa: é totalmente a cara de Seulgi. Os tons de nude pelas paredes e móveis, vários quadros pendurados (quase todos feitos por ela), plantas e discos por todo lugar. O cheiro que domina o ar me levou até nossa adolescência, quando acampávamos no parque próximo a escola. Passamos muito tempo ali, mais até do que na escola.

Seulgi mudou muito. Digo, ela continua com os olhos juvenis tão únicos, as bochechas cheinhas e o mesmo costume de usar acessórios que remetem a gatinhos, porém sua energia agora é muito mais...intensa? Parece que ela passou por algumas coisas nesse período, que afetaram verdadeiramente sua personalidade. Ela continua linda, linda demais. Me pergunto como sua vida amorosa anda, se ela já conseguiu se soltar mais e sair com pessoas.

— Baechu, eu fiz uma salada de frutas.

Ela surgiu do nada, ou talvez já estava ali um tempo e eu não tinha percebido, afinal, eu estava viajando em meus pensamentos enquanto encarava o encontro de duas paredes no canto do quarto.

— Ah, oi! Você não esqueceu que amo frutinhas.

— Eu não esqueci nenhuma de suas preferências, haha. Sei que ainda deve gostar de homens mais velhos.

— É, na verdade, algumas coisas mudaram.

— Agora gosta dos mais novos? – Ela responde com um sorriso jocoso no rosto.

— Seulgi, eu sou lésbica. Me descobri no segundo período da faculdade.

— Oh. Isso é... ah.

Ela parecia chocada, mas não pela informação inesperada, e sim por ter cometido a gafe de tentar adivinhar meu tipo ideal masculino.

— Eu desconfiava... Na verdade, você sempre fazia um esforço para sair com meninos. Na época, achava que você não encontrava ninguém à sua altura.

— À minha altura? – não pude segurar o riso. Eu sei que muita gente tinha em mente que eu era uma pessoa com um ego incomum, mas não sabia que até Seulgi pensava assim. — Eu não era essa pessoa não, Seul.

— Não foi isso que eu quis dizer... é que, ahh, esquece.

Volto a rir e Seulgi é contagiada com a minha risada. Pego a tigela que trouxe para mim e um garfo e levo alguns pedaços de banana para a boca. Seulgi também é ótima na cozinha. Na verdade, não sei no que ela é ruim. Ela consegue ser boa nos estudos, em pintura, em culinária, na música – toca violão e piano como jamais vi outro alguém tocar –, é apaixonante.

 — Que delícia, muito bom mesmo, obrigada. – Seulgi sorri e agradece silenciosamente. — Mas, enquanto a você? Quer dizer, eu sei que você não é boa com relacionamentos. Não sei se mudou...

— Ah...eu? Não sei... desde que você se mudou eu namorei com duas pessoas, apenas. Fiquei com algumas outras, mas nada demais. Meninos e meninas. 

— Ah, você é bissexual?

— É, sim. Quer dizer, não sei. Ainda não pensei sobre isso.

Não estou surpresa. Ela sempre teve olhos para mulheres, mesmo que na sua adolescência negasse até a morte. Lembro da irritação do professor de história que tentava tirar uma resposta de Seulgi, mas ela estava muito ocupada babando pela aluna novata. Eu nunca olhei para Seul de outra forma, ela sempre foi minha irmã de alma. Mas há algo nela muito diferente, que posso afirmar que me atrai.


Obs: Capítulo não revisado. 



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