1 - Oblívio

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Oblívio (s.m)

'É um coração abandonado, é o sentimento de te procurar infinitas vezes sem resposta. É um grito no vazio. É saudade em corpo frio. É a falta da própria falta. É brindar sozinho num bar.

É a sentença final da existência.'

Pov's Fernanda

-Ah, não, Marcelo!

Cá estou eu, com a roupa que acabei de colocar toda gorfada graças ao meu filho de 5 meses! Engraçado que essas coisas só acontecem quando estou prestes a sair para o trabalho!

Eu engravei do Marcelo com apenas 19 anos, quase 20. Agora ele tem 5 meses, e eu tenho 21. O Marcelo não foi esperado, e eu não gosto de ser mãe. Ele me dá muito trabalho e atrapalha totalmente a minha rotina. Os meus pais pararam de falar comigo desde que souberam que engravei dele, e passaram a me odiar mais ainda quando descobriram que o meliante que fez isso simplesmente foi embora. Infelizmente, tive que me adaptar com a rotina tendo um bebê. Eu odeio o fato de que eu poderia estar por aí, aproveitando a vida como os outros jovens, saindo para baladas, bebendo. Ao invés de fazer isso, eu tenho que trabalhar pela manhã, ir para a faculdade a tarde e o início da noite, e tentar descansar o resto do dia para começar todo esse ciclo novamente. Pela manhã, o Marcelo fica com a minha amiga Pitel, ela é a única que realmente me apoia e abriu mão do próprio trabalho para ficar com ele. À tarde o Marcelo vai para a faculdade comigo. Depois de muita conversa eu consegui convencer a supervisora, Leydi, a deixar eu levar ele, porque não tenho outra opção e ele não tem idade suficiente para ir para creche ou escola ainda. Infelizmente o dinheiro do trabalho não dá para praticamente nada. Eu uso ele para pagar a faculdade e comprar as coisas que o Marcelo precisa. Para a minha sorte, eu consegui uma kit net com a Yasmin, uma das coordenadoras da faculdade. Ela sempre me ajudou desde quando entrei lá, e paga algumas coisas para mim, já que dinheiro é o que não falta para ela. Eu não desisti ainda dos estudos porque sei que vou ter um retorno no futuro, e desse jeito poderei proporcionar o melhor para o Marcelo. Apesar de não gostar nem um pouco da maternidade, o Marcelo é o único pirralho que eu me dou minimamente bem. Eu nunca gostei de crianças, mas tive que aprender a lidar com ele, já que é o meu filho e está destinado a ficar comigo por um bom tempo. Fiz os exames dele a um tempo e ele está com algumas suspeitas de autismo. Confesso que me amedronta um pouco esse quesito. Já é difícil cuidar dele assim, imagine se for realmente diaginosticado e precisar de remédios, terapias e as outras coisas que pessoas com esse espectro precisam. Sem condições, não tenho dinheiro para isso!

Após ser inspirada com forças interiores que eu não consigo identificar da onde saíram, troquei a minha roupa e a roupa de Marcelo, peguei as chaves de casa, a bolsa dele e saí. O caminho até a casa de Pitel não é tão longe, então logo eu estou na casa dela. Como de costume, deixo Marcelo lá às 7:00 e pego às 12:30.

Cheguei na casa da cacheada e toquei a campainha.

-Ah, oi Nanda! Oi Celo!- Pitel abriu os braços para o menino, que não tardou em se jogar em sua direção.

-Bom dia, Pitel! Aqui tem as coisas que ele precisa!- entreguei a bolsa para ela.

-Tá bom, Nanda. Bom trabalho!

-Obrigada, até mais tarde!

Saí correndo da casa de Pitel. O relógio já constava 7:15, e eu pego trabalho às 7:30. O caminho até o trabalho é um pouco mais distante e leva em torno de 20 minutos a pé. Eu não tenho dinheiro para pedir uber todo dia.

Atualmente, estou trabalhando em uma padaria muito conhecida aqui em Niterói. Eu sou atendente, mas, raramente, fico no caixa recebendo os pagamentos também. Já fazem 6 meses que trabalho lá, e confesso que estou com um certo receio devido a minha chefe, Isabelle. Na verdade, não dela, e sim do que ela pode fazer. Com a minha rotina extremamente corrida, eu não consigo chegar exatamente às 7:30, e Isabelle é extremamente pontual. Antes de mim, mais 3 funcionárias foram demitidas por esse motivo, e eu não sei o que ela viu em mim para ainda me manter lá. Bom, seja lá o que for, que continue assim, eu não posso perder o emprego.

Julgo Desigual - Ferlane Onde histórias criam vida. Descubra agora