3 - Resiliência

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Resiliência (s.f)

'É ir à guerra e voltar. É sentar com seus demônios numa mesa de bar e... conversar. É apanhar de todo lado e levantar. É ter espírito de boxeador, dar ganchos de direita nas dificuldades e nocautear a própria dor. Tiago diria: "quem sete vezes cai, levanta oito". É limpar o rosto depois do choro. É a mãe solo, grávida aos dezenove, que trabalhou para estudar e estudou para trabalhar e, com um sorriso no rosto, ignorou os julgamentos e cuidou do filho que tinha para criar.

É ter uma alma-água, que se adapta ao co(r)po em que estiver, da melhor forma que puder.'

Pov's Fernanda

De fato, eu gostaria muito mais se pudesse fazer o trabalho com qualquer outra pessoa, mas não tive opção. Não quer dizer que eu tenha algo contra Alane, eu realmente não tenho, mas convenhamos que é bem melhor se juntar com quem queremos e temos mais intimidade.

Hoje o dia começou cedo, às 6:30. O Marcelo acordou chorando bastante, e eu aproveitei para levantar logo para trocá-lo. Ultimamente ele têm acordado apenas uma vez na noite, e dorme até depois das 9:00 aos finais de semana, quando não tenho que acordá-lo para ir trabalhar. Inclusive, estranhei o fato de ele ter acordado bem antes do horário estipulado, mas, como hoje é dia de mercado, e eu recebo visita a tarde, foi bom ele ter acordado cedo.

Depois de acalmar Marcelo, decidi dar logo banho nele ao invés de apenas trocá-lo. Ele vai ficar mais calmo e mais confortável quando formos ao mercado. Enquanto eu tirava a roupa presente nele, Marcelo brincava com os dedos animadamente, como se estivesse descobrindo algo mirabolante. Presenciei um lindo sorriso banguelo que Marcelo deu após entrelaçar os próprios dedos. Cheguei mais perto e deixei um beijo na testa do bebê. Ele não foi desejado, não foi planejado, mas é meu filho, saiu de mim, e ele não tem culpa de tudo o que aconteceu entre eu e o genitor dele, muito menos do que a minha vida se tornou depois do nascimento dele.

Provavelmente é o primeiro ou o segundo beijo que dou em Marcelo desde que ele nasceu. O processo de aceitação é muito difícil, até porque ele é fruto de um relacionamento tóxico, mas tem o direito e precisa viver e ser feliz, como qualquer outro bebê ou criança. No fundo, eu amo o Marcelo, mas é tudo muito confuso, tudo muito assustador. Eu tenho medo do que o Marcelo pode passar, tenho medo de que ele não se sinta amado o suficiente, ou pior, procure esse amor em outras coisas ruins. Eu sei que não sou uma boa mãe, mas só não desisti de tudo ainda por ele. O Marcelo precisa comer, precisa ter as roupinhas dele, precisa ter os brinquedos, precisa ir ao médico, e se eu não trabalhar e estudar, eu não vou poder dar tudo isso a ele. Eu tento todos os dias ignorar o meu cansaço, ignorar toda a vontade de largar tudo e ir embora, porque o meu filho precisa de mim. Eu não sou uma pessoa equilibrada emocionalmente, mas tenho plena consciência de que preciso melhorar o meu eu e me permitir mais. Porém, enquanto eu tiver a responsabilidade do Marcelo, eu prefiro focar nele do que em mim, apesar de saber que talvez seja possível atingir os dois.

Depois de dar banho, vestir e dar o leite do Marcelo, deixei ele brincando mais um pouco e peguei meu celular. Percebi que havia uma notificação de Alane.

 Percebi que havia uma notificação de Alane

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