Estarei aqui para o que precisar

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Deserto da Patagônia, Argentina, ano de 2017.

Rebecca Point of view.

"Vocês hm...comem?" Perguntei confusa.

"Óbvio que comemos. Ainda somos da mesma espécie: Homo Sapiens-Sapiens." Falou.

"Okay. Está com fome?"

"Não, obrigada." Falou olhando tudo ao redor. " Vocês ainda usam paineis" Falou surpresa.

"Sim. Vocês tem isso no seu planeta?"

"Sim. Em museus, porque isso é tecnologia beeem ultrapassada , tipo uns 10 mil anos atrás nós usávamos." Disse e arregalei os olhos em surpresa.

"Rebecca, você..." Nam começou, porém parou ao ver Freen. Freen se assustou e correu para trás de mim. " Você foi rápida em seguir meu conselho, a moça já está até pelada."

"Nam, mais respeito. Ela não está pelada. Usa minha blusa e bom, ela..hmm..ela veio junto com aquele negócio grande." Falei receosa. Nam gargalhou.

"Não seja infantil, Rebecca. Como ela veio parar no meio do deserto? Falando nisso, você já chamou alguma equipe de cientistas para estudar aquilo?"

"Vocês não podem tocar em minha nave. Preciso ir embora, preciso consertá-la e ir embora." Freen falou preocupada.

"Acalme-se Freen. Está tudo bem." Falei tentando tranquilizá-la.

"Me chamo Namorntara, mas pode me chamar de Nam." Nam falou sorrindo e Freen ergueu o dedo suspenso no ar novamente, exatamente igual fez comigo. Sinalizei com a cabeça que era pra Nam tocar o dedo de Freen e Nam hesitou, porém o fez.

"Me chamo Freen." A morena dos olhos azuis falou assim que Nam tocou seu dedo.

"Então Freen, o que é isso de universo pararelo?" Perguntei fascinada com o pensamento de que eu teria respostas para minhas infinitas perguntas.

"Veja bem, vou resumir pois vocês são extremamente leigos nesse assunto, de acordo com meu pai. Existem vários universos e eu vivo em outro. A passagem para outro universos é o buraco negro. O detectamos pela imensa radiação transmitida por ele no espaço. Vocês ainda sustentam a antiga teoria de que tudo que entra Ali é sugado e destruído, algo que vai contra a própria lei de vocês - No universo nada se perde, tudo se transforma.- Porém vocês ainda não possuem tecnologia para transpassá-lo." Falou naturalmente. Seus olhos eram magníficos e talvez, só talvez, eu os ache tão cativamente quanto acho os astros e estrelas.

"Okay. E como falamos o mesmo idioma?" Perguntei curiosa e empolgada. Nam nos olhava talvez começando a acreditar no que Freen dizia.

"Sabemos todos os idiomas de vocês devido a nossas constantes visitas." Falou e arregalei os olhos. Como assim todos?

"Como assim todos?" Perguntei incrédula.

"Isso não importa. Preciso de auxílio. Preciso voltar pra casa. Meu pai ficará furioso se souber que deixei minha nave cair justo no planeta mais primitivo."

"Você me pede ajuda me chamando de primitiva?" Perguntei levando as mãos a minha cintura.

"Pois sim, terráquea. Você é primitiva. Dizem existir 88 constelações nesse universo sendo que na verdade é muito mais, e mesmo que fosse apenas 88, em cada constelação há vários planetas, existem constelações muito maiores do que a via láctea e em cada constelação há bilhões de estrelas. E mesmo assim acreditam que há vida apenas aqui, nesse minúsculo pedaço de nada chamado Terra mesmo sabendo que vocês mal conseguem sair da Via láctea." Disse antes de começar a caminhar em direção à sua nave.

"Vocês estavam falando sério?" Nam perguntou boquiaberta.

"Estou tão surpresa quanto você, minha cara amiga."

"Os ET's são mais bonitos do que eu pensava." Falou baixinho, rindo.

"Realmente aquela beleza tinha que ser de outro mundo." Falei perdida na imagem de Freen semi-nua.

"Está escorrendo, Becky."

"O quê?" Perguntei ainda perdida com a visão de Freen.

"O gozo entre suas pernas." Falou rindo.

"Ora, cale a boca." Falei lhe dando um leve tapa no braço. "Vou pegar alguma roupa para ela usar." Falei completamente sem graça.

Peguei uma roupa bem quentinha, pois o deserto daqui era bem frio, e caminhei até lá. Lhe entreguei, ela adentrou sua nave e minutos depois voltou vestida. Devo admitir que ela ficou sexy com minha roupa. Ela definitvamente combinava com moletom.

"Do que é feito sua nave?" Perguntei curiosa.

"De um dos elementos da tabela periódica que vocês ainda não descobriram." Informou como se fosse algo normal e mais uma vez fiquei surpresa.

"E como posso ajudar se tudo aqui é tão arcaico, de acordo com você mesma?"

"Se você fundir Zircônio com...espera, você entende de química?"

"Bastante mas não o suficiente pra isso." Falei e ela pareceu decepcionada." Porém, conheço alguém que pode nos ajudar." Falei e seus olhos brilharam tanto, mas tanto, que eu gostaria de dar mais notícias que a alegrassem só para voltar a vê-los assim.

"Então, me ajudará?" Perguntou esperançosa.

"Sim, senhorita." Falei sorrindo. Peguei meu rádio, já que celulares não funcionavam naquela região e liguei para a mulher mais experiente em química que eu conheço na face da Terra. Faz mais sentido dizer essa frase agora que conheço uma extraterrestre.

Chamou...

Chamou...

"Alô?"

"Noey? Preciso da sua ajuda. Você não vai acreditar..."

Assim que desliguei olhei para Freen e ela me olhava com uma expressão indecifrável.

"O que fazia?" Me perguntou.

"Falava com Noey, a química também cientista que vai nos ajudar."

"Falava com ela por esse negócio de 20 quilos?" Perguntou e olhei para meu rádio. Qual era o problema dessa garota? Esfregava a tecnologia chique de seu universo pararelo o tempo inteiro em minha cara.

"Sim, é o único que temos por aqui. Contente-se com isso." Falei um tanto irritada.

"Desculpe." Pediu cabisbaixa. Oras Rebecca, ela é de outro planeta, óbvio vai estranhar tudo. " É só que no nosso planeta temos um adesivo colado em nossa pele e por ele nos comunicamos."

"Veja bem, queira me perdoar, Freen. Só estou em um mau dia e estou estressada. Entendo que é tudo novo para você." Falei sincera.

"Tudo novo não. Tudo velho. As coisas daqui são lendas onde vivo. Vocês realmente são primitivos." Que garota abusada. Pois agora serei estúpida com ela o tempo inteiro também. Quem ela pensa que ela é para ficar tentando nos humilhar o tempo inteiro? "Mas obrigada, Rebecca. Você sabe...por me ajudar. Não tenho mais ninguém a quem possa recorrer." Falou abrindo, pela primeira vez, um sorriso. Olha esses dentinhos, meu Deus.

"Estarei aqui para o que precisar, Freen." Falei oferecendo-lhe um sorriso em troca. Eu sei, eu sei. Sou trouxa, mas quem não seria com uma Freen linda desse jeito, com essa voz, com esses olhos e ainda por cima sorrindo pra você?

Se alguém não seria trouxa por ela eu não sei, mas eu estou sendo.

Acho que ser trouxa faz parte de mim.



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