Eu só queria voltar pra casa

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Ushuaia, Argentina, Ano de 2017

Rebecca Point Of View

Assim que chegamos em casa, colocamos as coisas de Freen em meu quarto. Irin se despediu, alegando que não seria empata foda. Tentei explicar que Freen e eu não somos nada além de amigas, porém Irin costuma ser mais teimosa do que uma mula e não me deu ouvidos, como sempre.

"Rebecca?" Ouvi Freen gritar do banheiro.

"Sim?" Respondi em bom tom para que me ouvisse.

"Eu não sei ligar isso, pode me ensinar?" Acho que devo ter vocação para ser mãe. Ensino tudo para ela tão calmamente. Entrei no banheiro e mais uma vez ela estava pelada. Engoli seco e foquei os olhos no chuveiro. "Eu aperto e não funciona, acho que quebrou." Dei risada.

"Você tem que girar, assim." Falei, abrindo o registro e a água começou a cair sobre seu corpo. Seus olhos se direcionaram ao chuveiro, buscando saber de onde a água vinha. Ela deixou que a água caísse em seu rosto e soltou uma gargalhada quando isso aconteceu. Que som agradável.  "O azul é água fria e o vermelho é água quente, você regula de acordo com o que preferir." Falei e ia saindo."E Freen, eu agradeceria se você se cobrisse da próxima vez." Falei e ela assentiu, ainda perdida em uma doce gargalhada. Sorri com a imagem dela de uma forma tão pura e ingênua antes de sair e fechar a porta.

Preparei algo para comermos, já que ela não quis comer no shopping com Irin, e eu acabei não comendo também. Assim que ela saiu do banho, tomei o meu e comemos. Liguei para Nam para dizer que estávamos prontas e ela disse que passaria em casa em alguns minutos para irmos para o trailer.

Assim que ela chegou, foi muito gentil com Freen, como sempre e agradeci por isso. Eu odiava ver medo naqueles olhos azuis tão lindos.

Assim que chegamos lá, como imaginei, havia carros para todos os lados, inclusive um tanque do exército. Uou.

"Freen, não diga a eles que você veio nisso, por favor." Disse lhe olhando nos olhos.

"Eles mantêm contato com meu planeta, talvez saibam uma forma de eu ir embora mais rápido e nunca nos fizeram mal."

"Eles não faziam nada porque sabiam que vocês são mais fortes e sempre vinham em bandos. Você está sozinha, está frágil." Alertei. "Eles podem querer fazer experiências ou algo assim com você, pode ser perigoso." Falei descendo do carro. "Me prometa que não dirá que veio com a nave.".

"Eu prometo." Suspirei em alívio e me aproximei de todos.

"O quê está havendo aqui?" Perguntei firmemente.

"Porque não nos informou?" O presidente da NASA perguntou sério.

"Eu sabia que saberiam de qualquer forma, preferi economizar meu tempo." Falei naturalmente.

"Descobriu algo? Essa coisa geralmente é pilotada por alguém, precisamos saber quem é o rapaz que veio nisso." Falou e engoli seco, dando graças aos céus pela primeira vez por viver em uma sociedade machista.

"Hm...quando caiu eu não vi ninguém, apenas isso." Menti.

"Vamos extrair algumas amostras para levar a nosso laboratório, já que o peso disso é tão grande que será impossível levá-lo daqui." Avisou. "Você escolheu o lugar certo para fazer suas pesquisas. Assinando como pesquisadora dessa região, você provavelmente ficará rica caso consigamos encontrar o rapaz, ele pode dizer coisas que jamais conseguimos arrancar deles."

"E porque ele diria sendo que ninguém nunca disse antes?" Perguntei.

"Tentaremos pelo jeito bom, se não conseguirmos nada, uma boa tortura pode funcionar." Falou e arregalei os olhos.

"Isso é crime." Esbravejei.

"Por favor Senhorita Armstrong." Falou gargalhando. "Pensei que fosse mais inteligente. Ele não tem documentos daqui, não é como se as nossas regras valessem pra ele."

Franzi os olhos e senti mãos em meu braço. Olhei para trás e vi Nam parada, eu sabia que com seu toque ela queria me acalmar.

"Não deixa de ser uma vida. Não é certo fazerem isso. Não é." Reclamei.

"Ele pode ser perigoso." Ele retrucou. "Depois de colher informações devemos eliminá-lo para o bem de nossa sociedade, se deixarmos que ele volte para seu lugar, ele contará o que fizemos e teríamos uma guerra."

"Então não faça mal algum e evitariam isso." Quase gritei.

"Precisamos avançar nosso conhecimento e precisamos de respostas, se ele colaborar provavelmente tudo ficará bem, mas ele não deixa de ser perigoso." Ri sarcasticamente. Eu tentava manter a calma, mas imaginar alguém machucando Freen me irritava, me desesperava. Por Deus, ela não sabia nem ligar um chuveiro, não sabia o que era cama. Se escondia atrás de mim por medo do tom alto de voz de Irin. Como seria perigosa?

"Você está louco."

"Porque, afinal de contas, se importa tanto?" Perguntou parecendo estar desconfiado. Droga.

"Porque é uma vida, oras."

"Você nem sabia que existia vida fora daqui." Falou caminhando até bem perto de mim. "Então não ouse ficar no meu caminho." Sussurrou e o fuzilei com o olhar. Meu peito subia e descia. Homem asqueroso, maldito infeliz...

Senti novamente o toque suave de Nam em meu braço.

"Não seria difícil de encontrá-lo, afinal ele deve ter uma aparência bem estranha." Atuei.

"São exatamente igual a nós." Falou. "Mas é claro que a senhorita não sabia disso, certo?" Falou me analisando. Droga, droga, droga. Ele está desconfiado.

"Infelizmente não. Há mais coisas lá fora do que imaginei." Falei fingindo surpresa. Eu não sei fingir e deveria estar fazendo mil perguntas pra ele agora, ele me conhece o suficiente para desconfiar.

"Você está bem?" Perguntou ainda me analisando.

"Ela não está, Senhor." Foi Nam quem tomou a palavra. "Está tendo problemas na vida amorosa." Apontou para Freen, quem estava encostada no carro olhando em nossa direção.

"Bonita a moça." Ele falou a olhando. "Finalmente resolveu viver um pouco." Falou e tentei forçar um sorriso. "Você está incluída nas pesquisas, sei que vai pedir isso de qualquer forma." Falou e assenti. "Em dois dias você irá para os EUA, eles tem a melhor tecnologia ufológica do mundo e nos será útil." Falou e arregalei os olhos.

"Não posso ir assim, Senhor." Como eu deixaria Freen sozinha? Correndo perigo e sem saber se cuidar sozinha? Não, não. De jeito de nenhum.

"Estou surpreso, você nunca foi de negar nada, ainda mais algo tão importante assim." Falou passando a mão em sua careca negra.

"Problemas no paraíso." Nam falou e arregalei os olhos.

"Você é quem sabe. Bom, vou voltar ao serviço, se me permitem madames." Ele fez uma reverência e se afastou, caminhei até Freen e seus olhos entregavam que ela havia ouvido tudo.

"Você pode ficar rica se me entregar." Falou com a voz falhando.

"Cale-se. Eu não farei isso." Admiti e ela soltou um longo suspiro em frustração.

"Estou com medo, eu só queria voltar pra casa." Sua voz quase em um sussurro fez meu coração se apertar. Ela não merecia isso, ela só queria ir para a sua casa.

"Eu não deixarei que nada te aconteça, okay?" Falei a abraçando. Ela pareceu confusa com meu ato, mas não relutou e acabou cedendo ao abraço. Seu cheiro natural era bom e misturado ao perfume que ela havia escolhido... uau... definitivamente esse perfume combinava com ela.

"Obrigada." Ela sussurrou e algo em sua voz me mostrava que ela estava realmente agradecida.





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