Perdição

Sem chão

Parei no tempo encarando aquele olhar de carinho e súplica. Ela realmente queria namorar comigo, ela ME queria. Aquilo parecia meio surreal. Sei lá, é tão difícil gostar de alguém e ser recíproco, e agora na minha frente pedindo pra ser minha e eu ser dela estava a pessoa que não saiu do meu pensamento desde o dia que a conheci. Se o mundo fosse uma dimensão paralela onde só existisse eu e ela, aquilo seria o auge da perfeição. Mas não é, o mundo é esse amontoado de complicação em que escolhas podem te levar ao inferno e ao paraíso ao mesmo tempo. E era assim que estava me sentindo, olhando pra ela com aquele rosto ansioso esperando o meu "sim".

- Du, eu..
- Só é falar SIM Maya
- E é o que eu quero
- Quer??
- Queria.. Não sei são tantos problemas numa simples palavra, ai meu Deus
- Não, não são você que tá dando proporções gigantescas a uma coisa simples
- Você não entende
- Verdade não entendo mesmo, é tão perfeito quando estamos juntas. E eu sei que você também sente e sabe do que eu to falando
- É eu sei, mas..
- Sem mas, na boa Maya eu estou tendo paciência porque eu sei que é tudo muito novo pra você, só que eu não quero ficar me iludindo nessa história se não for dá em nada, vou te perguntar mais uma vez, e sério vai ser a última. Maya, você quer namorar comigo?
- Poxa Eduarda, calma ai eu preciso.. Sei lá, pensar tem minha familia, tem a Luana e tem tudo e todo mundo, por favor tenta me entender
- Claro, eu já entendi.
- Sério? Eu sabia que..
- Olha Maya eu já vou indo, até depois.
- Mas.. E o filme? Pera você tá brava, você disse que entendia eu pensei que..
- Isso não importa mais, eu tenho que ir desculpa.

Ela disse isso e simplesmente levantou e foi embora. E eu fiquei sem chão, sem ar, parecia que o mundo tinha se aberto numa cratera bem ali em frente aos meus pés que me impedia de tomar qualquer atitude.
Minha mente só repetia a frase "caralho porque você tem que ser essa garota insegura? Por que Maya?"

Eu não sei. Eu já me conforme com o fato de está muito apaixonada por ela, sim mesmo ela sendo uma garota, sim mesmo isso fazendo de mim lésbica. Isso. Lésbica. Repetindo parece ainda pior.
Esses sentimentos estão me deixando com um super medo, eu nunca senti algo assim por ninguém e por mais complicações que a história toda possa ter, eu só consigo pensar que por puro medo eu perdi a minha Du. Eu joguei a chance de ser feliz pela janela e isso tá doendo pra caralho.
Depois de meia hora o filme acabou, eu mal vi o final meus olhos marejados me impediram. Saí do cinema cabisbaixa, não podia ir pra casa. Pensei em ir até o parque das flores, sentei-me em um banco mais afastado do resto da praça e fiquei lá olhando pro nada.
Pessoas passeavam com seus filhos, algumas mães e babás conversavam enquanto os bebês estavam nos carrinhos alheios a tudo, algumas pessoas corriam fazendo cooper e velhinhos caminhavam. O tempo estava agradável aquela manhã, por isso as pessoas pareciam felizes e dispostas, eu parecia está em uma realidade diferente de todas elas. O colorido do dia só refletia como tudo estava cinzento e tempestuoso dentro de mim. Esperei que as horas passassem para que eu pudesse ir pra casa sem deixar pistas que matei aula.

Eram pouco mais que duas da tarde quando resolvi ir pra casa, peguei um ônibus e quase desci no ponto errado tamanha era a minha distração.

Ao chegar no meu prédio, vi que o elevador estava quebrado, pra completar o meu dia "sensacional" fui pelas escadas quase me arrastando, quando cheguei no último lance de escadas que já dava pra o meu andar, ouvi vozes. Não estava querendo falar com ninguém, nem ao menos pra dar boa tarde, aproveitei que as escadas eram meio escuras e baixei a cabeca enquanto passava pelas duas pessoas, aparentememte era um casal pois estavam entre uma discussão e beijos, quando passei ao lado do casal a garota que estava encostada na parede e consequentemente de frente pra mim, falou:
- Mama?
Ainda não quis levantar a cabeça e tentei apressar o passo. Mas a pessoa insistiu, então levantei a cabeça rápido apenas pra dizer seja lá pra quem fosse:
- Oi, desculpa estou com press..
Parei quando reconheci a pessoa, era a Luana, mas meu verdadeiro espanto foi com a pessoa que estava de frente pra Lua, achei que era um garoto pois estava de capuz e isso escondia um pouco seu rosto, mas olhando bem reconheci no mesmo momento, era Du.
Rapidamente a cena que eu estava vendo quando subia as escadas veio na minha mente, a discussão e é claro: o beijo.

Mas uma vez meu chão se abriu em duas metades, sem saber o que fazer, dizer, ou como entrar no buraco imaginário em minha frente, fiz a coisa mais idiota porém a primeira que me veio a mente: corri pra casa.
Ainda pude ouvir a Luana gritando:

- Ei, calma ai Maya! O que aconteceu? Esperaaa!
Corri ainda mais rápido e entrei em casa, gritei pra minha mãe enquanto ia pro meu quarto: - Não tô pra ninguém!

Cai na cama e também no choro, na minha bolsa o celular tocava sem parar, enxugando as lágrimas que não paravam de cair olhei no visor e joguei o celular na parede. Não queria mais ver aquele nome na minha vida.

*No visor do celular de Maya*
- Du ligando -

Oi meninas, desculpem de verdade a demora pra postar, eu tento ser mais presente aqui e postar sempre mas as vezes não dá, obrigado pelos comentários e pra quem ler e não comenta, fiquem a vontade aqui amores! Beijo e mais uma vez obrigado pela reciprocidade <3