Maya, você gosta de homem!

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Minha mãe saiu depois de desligar a TV, foi pra cozinha onde a mãe da garota estava parece que as duas tinham muito assunto, ao contrário de mim que mal sabia o que dizer pra outra visita. Levantei do sofá em direção a varanda, ela ficou me olhando ainda sentada. Virei os olhos com cara de "Meu Deus, minha mãe me arruma cada uma" pra ser simpática, chamei:
- Você não vem?
- Estava esperando você me chamar.
Olhei bem pra ela, parecia que ela fazia as coisas esperando alguma reação minha e isso me deixou com um sensação meio estranha.
Enfim chegamos na varanda, fiquei de pé olhando pra baixo, ela se sentou na cadeira e continuou olhando pra mim. Já estava ficando um clima meio pesado, ninguém falava nada então resolvi mostrar meu lado sociável de ser:
- Bem, a noite está bem quente não é?
- Sério isso? - Ela disse rindo.
- O que?
- Vamos conversar sobre o tempo?
Dei de ombros. Ela continuou:
- Nada contra, mas achei que você tinha mais personalidade, pelo menos foi o que pareceu quando quase me bateu quando nos esbarramos no corredor.
- Ah, aquilo.. - Falei lembrando da cena que eu fiz - Na verdade não "nos esbarramos", você que veio e bateu em mim.
- Agora sim parece a mesma pessoa - Ela falou isso com um sorriso meio de lado.
- Você deve achar que eu sou uma grossa, mal humorada e meio louca né? - Falei, já disposta a começar uma amizade, o papo dela tava sendo bem legal afinal de contas.
- Na verdade - Ela disse enquanto se levantava e chegava bem perto de mim - Te achei linda.
Chegou ainda mais perto e parou na minha frente, eu já sentia sua respiração no meu rosto e por algum motivo gostei disso.
- Linda é? (Juro que não sei porque eu perguntei isso, quando o mais provável era que eu estranhasse aquilo tudo e fugisse dali)
- Sim, muito linda e quando tá brava fica mais ainda.
Ela começou a virar o rosto direcionando a sua boca na minha. Meu coração tava acelerado, e minha respiração rápida como se eu tivesse corrido quilômetros. Tudo na minha cabeça alarmava mandando eu sair dali, empurra-la, fazer alguma coisa, afinal eu não curto meninas nada contra mas eu gosto de garotos, pelo menos até hoje... porque nesse momento nada disso tá importando parece que algo me prende ali perto dela.
O barulho de passos em direção a varanda faz com que ela se afaste rapidamente e volte a sentar na cadeira em minha frente.
Minha mãe aparece:
- Meninas o jantar está servido!
Não falo nada, nem me mexo. Na verdade eu ainda tava meio chocada com tudo que tinha acabado de acontecer. Vendo minha cara de espantada, a menina fala por nós duas:
- Estamos indo Tia Vera.
- Não demorem!
Minha mãe voltou pra cozinha. Ela levantou, e ficou me olhando um pouco depois baixou a cabeça e sorriu. Chegou perto de mim e falou bem perto do meu ouvido:
- Vai ficar ai?
Ela parecia se divertir com minha cara assustada. Ela me deu um beijo demorado no rosto dizendo:
- A proposito, meu nome é Eduarda. Mas pode me chamar de Du.
Vendo que eu não reagia, ela se afastou e começou a andar, então eu falei:
- Ma-Maya..
- Ah, você acordou! Então Ma-Maya, vamos comer? Eu confesso que estou com bastante fome!
Ela saiu indo pra cozinha. Depois que voltei a mim, fui também. Parei de pensar no que tinha acontecido e o jantar seguiu normalmente. Eduarda ou Du, falava muito conversando com nossas mães e ria de tudo também. Eu fiquei mais na minha. No fim do jantar fomos pra sala, nossas mães conversavam sobre trabalho, filhos, academia essas coisas. Eu estava lá só de corpo, minha mente estava no que quase tinha acontecido e o pior, imaginava como seria se minha mãe não tivesse aparecido.

- Maya, não vai se despedir da Estela e da Eduarda?
Falou minha mãe me tirando dos meus pensamentos.
- Ahh claro, adeus Dona Estela até outro dia.
Dei dois beijinhos no rosto dela e me aproximei de sua filha:
- Tchau Eduarda, falei sem coragem de encarar ela.
- Tchau Maya.
Ela falou sorrindo meio de lado.
Quando minha mãe se despedia mais uma vez delas Dona Estela disse:
- Maya, você se incomodaria de ir na minha casa amanhã fazer companhia pra Du? É que eu trabalho até mais tarde e não queria que ela ficasse sozinha.
Minha mãe passou na minha frente:
- É claro que ela vai Estela, não vai ser incômodo nenhum ela não faz nada mesmo.
Depois desse comentário da minha mãe não tive como negar:
- Tudo bem - Falei sem muito ânimo, disfarçando pois na verdade gostei desse pedido.
Du olhou pra mim, parecia meio envergonhada com o pedido da mãe:
- Tudo bem mesmo? - ela me perguntou um pouco mais baixo para que só eu ouvisse.
Assenti com a cabeça e então elas se foram.
Ajudei minha mãe com a louça e depois fui pro meu quarto. Peguei meu celular pra falar com Luana, precisava falar com alguém sobre aquilo. Ela não estava on line. Breno estava, e parece que me esperando pois assim que abri o whatsapp ele falou comigo:
- Ei linda
- Oi
- Te liguei mais cedo e você nem atendeu :(
- É eu vi, desculpa
- Ta acontecendo alguma coisa?
- Não, porque?
- Sei lá, você nem me ligou hoje e não falou comigo na escola também..
- Meu dia foi meio corrido, e falando nisso tenho que dormir, beijo
- Hm, ok. Beijo.

Não ia dormir, mas aquele papo também já tava me enchendo. Breno sabe que eu não gosto de cobranças, sempre deixei claro que apesar de ficarmos as vezes, nós éramos apenas amigos.
Além disso meu pensamento ainda estava no quase beijo. Por algum motivo aquilo não saia da minha cabeça. E pensar que amanhã ficaria um tempo na casa de Du não estava ajudando muito.
Fui até o banheiro, joguei uma água no rosto, e me olhei no espelho repetindo:
- Calma, não foi nada demais. Ela só estava brincando, ou tentando te deixar sem graça. E mesmo se não fosse brincadeira, você não é lésbica. Maya você gosta de homem!
Depois dessa sessão de terapia comigo mesma, deitei na cama. Muito tempo depois consegui finalmente pegar no sono, mas ainda com um frio na barriga só de de pensar em encontrar Eduarda no outro dia.

PerdiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora