Era melhor nem saber...

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- Eu sei que você tá brava, e com razão...

(Silêncio)

- Deve ter pensado mil coisas erradas e deve tá confusa também não é?

(Mais silêncio)

Percebi que ela respirava fundo ao final de cada frase, continuei em silêncio.

- Olha Maya, vou te contar tudo que aconteceu desde o começo, talvez assim você ache que eu seja digna de ao menos alguma resposta sua. Bom, por onde eu começo... É no cinema, foi ali que tudo começou, ou melhor acabou né? Depois que saí de lá eu estava super mal, não sabia direito o que pensar tava me sentindo rejeitada, triste, sei lá horrível mesmo. Fui pra casa tentar esfriar a cabeça e comer alguma coisa, comer sempre me deixa melhor. Continuando, antes de chegar no prédio eu encontrei com a Luana, ela estava aqui perto da portaria do prédio tentei evitá-la mas, ao que tudo indica ela estava me esperando. Ela se aproximou, percebi que estava chorando. Ela começou a falar rápido e um monte de coisas de uma vez, pediu desculpas pela cena que fez e me pediu pra não se afastar dela porque ela estava precisando muito de mim. Fiquei meio sem ação e sem saber o que dizer, qualquer tentativa de explicar pra ela que não ia rolar mais nada e ela caía no choro de novo. Eu tava meio frágil pelo que tinha acontecido entre a gente e então senti dó dela, pensei no quanto é ruim querer alguém que não gosta da gente...

*nesse momento ela parou e me encarou por alguns segundos, seu olhar foi tão triste e desolado que eu não aguentei e imediatamente olhei pra baixo*

- Eu meio que me coloquei no lugar dela e pensei que talvez estivesse sendo dura demais, esse foi meu pior erro. Mandei ela se acalmar e chamei ela pra subir, pensei que talvez quando tivesse mais calma pudéssemos conversar melhor e ela entenderia. Eu não queria deixar ninguém mal daquele jeito Maya! O elevador estava quebrado, então fomos pelas escadas, ela já aparentava estar melhor então fomos conversando, comecei a explicar que entre a gente até poderia haver amizade mas que seria só isso e ela parecia estar entendendo, sério parecia de verdade... Enfim ela me pediu pra irmos na sua casa, falou que iria passar a tarde com você e eu disse que tudo bem. Mas aí tudo aconteceu bem rápido, chegando no seu andar já estava me despedindo dela, quando ela disse que tinha algo no seu pescoço, um inseto não sei. Me aproximei pra ver o que era e acabei chegando perto demais, aquela proximidade fez tudo ficar confuso, eu não queria beijá-la juro que não... Mas ela veio devagar, se chegou com aquele jeito dela e aí aconteceu, rolou um beijo e depois mais alguns, até que caiu a ficha da bobagem que eu tava fazendo, me deixei levar pelo momento não sei bem, mas assim que me toquei que estava fazendo uma burrice tamanho universal eu me afastei e falei que aquilo não ia mais acontecer, que não era pra ter acontecido e pedi desculpas pra ela. Aí começou a cena parte dois, ela começou a brigar comigo, me chamar de tantas coisas que você nem pode imaginar e no meio dessa crise de raiva ela tentava me beijar várias vezes, o humor dela ia entre amor e ódio numa fração de segundos, foi bem louco! E foi no meio dessa confusão que você apareceu e eu percebi de verdade o tamanho da minha idiotice. Meu mundo caiu quando te vi lá, e eu só conseguia pensar que agora oficialmente você iria se afastar e não ia querer nem a minha amizade, a sensação de te perder foi algo tão inexplicável, fiquei sem chão, quer dizer ainda estou sem chão. Maya, eu não queria fazer aquilo, eu me arrependo de tudo e sei que você não tem motivos pra me perdoar, mas por favor... Só quero que você tenha a plena certeza que o que senti pela Luana foi pena, eu... eu me deixei levar pela situação, assumo minha fraqueza e te garanto que isso jamais vai acontecer de novo. É você quem eu quero, é só você que eu quero pra mim.

Ela acabou de dizer aquilo em lágrimas, minha cabeça tava a mil novamente. Me sentia triste e impotente, queria abraçá-la naquele momento e esquecer tudo aquilo. Mas não tinha como digerir aquela história toda assim tão fácil. Na minha mente eu até entendia e sabia que não poderia cobrar nada dela, mas o meu coração não tinha essa capacidade de raciocinar então, doía vê-la daquele jeito, doía mais ainda pensar nela e na Luana, doía absurdamente saber que ela não conseguiu resistir e que agora eu estava insegura quanto a qualquer coisa que vinha dela, a confiança já não existia e eu não sabia se havia algum jeito de algum dia voltar . Sentia que meus órgãos estavam desmoronando por dentro porque tudo dentro de mim parecia bagunçado e fora do lugar. Eu não sabia o que dizer porque a tristeza e a raiva brigavam pra ver quem ia me possuir primeiro, e naquele momento eu segurava o choro como se fosse a coisa mais importante a fazer. 

Depois de alguns minutos (que pareceram horas!) em que o silêncio dominou tudo, pensei no que deveria dizer. Resolvi falar tudo que estava entalado na minha garganta, eu iria resolver aquela situação de uma vez por todas e ia fazer o que era melhor pra todo mundo, mesmo que aquilo fosse uma das coisas mais difíceis que eu já tinha feito na vida...

PerdiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora