Fascinação

CAPÍTULO 1

As luzes fracas criavam sombras distorcidas entre os carros estacionados, tornando tudo mais fantasmagórico. Cada vez que um passo meu tocava o chão, meu coração disparava ainda mais; era como tambores retumbando pelo estacionamento de forma ensurdecedora enquanto eu tentava me afastar do perigo. Eu sabia que ele estava ali, em algum lugar, observando cada mínimo movimento meu como um felino sedento por sangue, faminto, um predador.

Meu corpo não parava de tremer; fazer uma tarefa tão simples e normal como encontrar as chaves do carro no fundo da minha bolsa se tornava quase impossível. Meus nervos estavam cada vez mais fora de controle, mas quem estaria controlado neste momento sentindo as garras da morte a poucos metros de distância? Minha mente gritava para correr, para escapar dali, mas meu corpo não queria responder aos meus comandos, pelo menos não de uma forma que poderia salvar minha vida; na verdade, pareciam petrificados pelo medo. A única coisa que meu corpo conseguia processar era seu olhar me queimando, penetrando minhas entranhas com uma intensidade assustadora. Cada som, cada sombra, era um aviso sinistro e sombrio de sua presença.

Então, soltei uma enorme lufada de ar quando finalmente encontrei as chaves e, com mãos trêmulas, tentei inseri-las na fechadura do carro. O carro piscou suas luzes, e deixei uma esperança me dominar pela segurança.

Então eu o vi. Apenas um vislumbre de um vulto sombrio entre os carros, caminhando de forma tranquila e com uma agilidade felina. Meu sangue gelou nas veias quando, enfim, meus olhos se conectaram com os olhos do meu perseguidor através do para-brisa. Seu rosto não passava de uma máscara de frieza calculada, seus olhos brilhando com uma intensidade assustadora, fazendo-me reter o ar nos pulmões...

- Srta. Clark.

Olhei rapidamente para frente para encontrar dois enormes olhos castanhos me observando, e em uma clara tentativa falha de esconder o sorriso, Petter, um dos frequentadores mais assíduos da biblioteca, tentava não demonstrar. Mas não o julgo, o pulo que dei na minha cadeira foi no mínimo cômico, para não dizer vergonhoso de se ver. Isso que dá ficar imersa em um livro no meio de um expediente de trabalho, mas vamos combinar, quem espera levar um enorme susto em meio a uma biblioteca?

- Te chamei algumas vezes, mas acho que sua cabeça estava em outro mundo, não é? - ele solta uma risada claramente desconfortável, pelos segundos que fiquei apenas olhando para ele.

- Não tem problema, às vezes é um pouco difícil não entrar em um livro, ainda mais no ponto alto da trama - tentei soar o mais natural possível, mesmo falhando miseravelmente e na verdade soando claramente frustrada, pela interrupção.

- Desculpa.

- Está tudo bem. Quais os livros da vez?

Petter me entrega a sua pequena pilha de livros, para eu poder dar a saída deles no sistema, e junto com eles o seu cartão de usuário da biblioteca pública de Nova Iorque. Após registrar todos os livros entreguei ele o mais rápido que podia, tentando voltar o mais rápido possível para minha leitura, antes que a euforia da perseguição que estava tão bem descrita no livro passe.

- Aqui estão . - entrego  a pilha de livros - Serão apenas esses desta vez?

- Estou sem tempo, a propósito,já leu alguns desses?São bons? Essa é a pergunta mais feita por Petter direcionada a mim.

- Ainda não, não tive tempo, li algumas resenhas sobre eles e parece que são bem promissores para falar a verdade, chegaram a alguns dias, estão no final da minha lista de leitura.

Esse tipo de questionamento é corriqueiro no meu dia a dia, já que sou responsável pelo setor de suspense e terror da biblioteca, muitos dos frequentadores vem pedir minha opinião sobre os livros ou indicações , coisa que faço sem nenhum problema, pelo menos quando o assunto é livros de suspense, já que esse é meu gênero favorito, como tramas policiais, os de terror não são minhas prioridades, para ser sincera.